Título: US$ 375 bi para salvar Wall Street
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Fonte: Jornal do Brasil, 17/09/2008, Tema do Dia, p. A2
Os maiores bancos centrais do mundo injetaram um volume de recursos estimado em US$ 375 bilhões nos mercados financeiros globais, ontem, para tentarem conter os efeitos da crise que afetou grandes companhias de Wall Street. De Sydney a Frankfurt, as autoridades monetárias despejaram bilhões de dólares em fundos emergenciais, tentando evitar o fechamento dos mercados de crédito. Mesmo assim, houve aumento do custo dos empréstimos interbancários.
Só o Banco Central Europeu injetou US$ 127 bilhões desde o início da crise e o Fed (banco central americano) socorreu o mercado com US$ 155 bilhões ¿ apenas para a companhia de seguros AIG foram US$ 85 bilhões, confirmados no fim da noite de ontem. No Japão, foram US$ 24 bilhões; na Grã-Bretanha, US$ 36 bilhões; e na Rússia, US$ 14 bilhões.
Ontem, a demanda dos bancos por fundos superou os US$ 100 bilhões, o que indica como a liquidez de outras fontes está diminuindo. A falência do banco de investimentos Lehman Brothers criou um temor generalizado no mercado, que monitora e procura antecipar a próxima "bola da vez". Também exposta aos créditos de alto risco que fizeram a ruína do banco de investimentos americano, a gigante do mercado de seguros AIG esteve no centro das preocupações Para evitar o pior, a seguradora foi autorizada a receber injeção de capital de suas filiais no exterior, pois precisava urgentemente de US$ 20 bilhões para honrar compromissos.
O Fed não chegou a surpreender ao manter a taxa básica de juros dos EUA em 2% ao ano, embora uma parcela dos analistas apostasse em uma redução para 1,75% ou até a 1,5%, para facilitar o afluxo de recursos ao país. Especialistas entenderam a posição do Fed como cautela para evitar que um corte de juros fosse interpretado como risco de ter de salvar instituições que assumiram posições muito arriscadas anteriormente. A redução da taxa, no atual contexto, poderia ser entendida como um sinal de que a economia está mais afetada pelos problemas financeiros do que o estimado.
O temor dos investidores de uma recessão nas economias centrais continuou afetando as bolsas de valores do mundo, a começar pela Ásia, onde o mercado japonês desabou 4,95%, prosseguindo pelas européias ¿ a Londres teve queda de 3,43%, o mercado alemão cedeu 1,63%.
A Bolsa americana passou boa parte do dia registrando perdas, para recuperar-se perto do encerramento dos negócios: o índice Dow Jones fechou com alta de 1,3%.
Entre as notícias que justificaram a reação destacou-se que Índice de Preços ao Consumidor americano mostrou deflação de 0,1% em agosto, uma forte desaceleração em relação a julho, quando houve alta de 0,8%. Além disso, outro banco exposto aos "subprimes", o Goldman Sachs reportou um lucro de US$ 845 milhões (US$ 1,81 por ação) no trimestre encerrado no dia 29 de agosto, num decréscimo de 70% na comparação com os resultados do mesmo período em 2007.
A Bolsa de Valores de São Paulo teve momento de trégua, invertendo a tendência de abertura e recuperando, ao final do pregão, uma parcela modesta das perdas acumuladas no mês (12,4%, até segunda-feira): subiu 1,68% e alcançou os 49.228 pontos, com giro financeiro de R$ 6,46 bilhões. Anteontem, a bolsa paulista sofrera sua pior queda desde 11 de Setembro de 2001, 7,59%. A recuperação foi puxada pelas duas ações carro-chefe: Petrobras e Vale. A ação da petrolífera, que sozinha girou R$ 1 bilhão, teve ganho de 5,03%, enquanto os papéis da mineradora subiram 3,74%. Contudo, pelo quarto mês, o saldo de investimentos estrangeiros na Bolsa continua negativo. Segundo a Bovespa, até o pregão do dia 11, as vendas de ações superavam as compras em R$ 909,7 milhões.
O dólar comercial foi cotado a R$ 1,824 na venda, em alta de 0,88%. A taxa de risco-país marca 340 pontos, num salto de 10% sobre a pontuação anterior.