Título: Crise era para ser debelada. E se agravou mais
Autor: Quadros, Vasconcelo
Fonte: Jornal do Brasil, 17/09/2008, País, p. A11

Brasília

A prisão do delegado Romero Menezes agrava uma crise que a Polícia Federal ¿ dividida entre grupos que disputam o poder interno ¿ vem vivendo desde setembro do ano passado. Deveria ter sido contornada com a indicação do delegado Luiz Fernando Corrêa para o lugar de Paulo Lacerda, transferido à época para o comando da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e há duas semanas afastado por causa do escândalo do grampo. A corporação ainda não havia superado o baque da Operação Satiagraha, que ampliou o fosso que separa os grupos de Lacerda e Corrêa e semeou desconfiança recíproca depois de descoberta a participação da Abin nas investigações que levaram à prisão o banqueiro Daniel Dantas.

Responsável pela Satiagraha, o delegado Protógenes Queiroz está sendo investigado pela própria corporação e, até hoje, não explicou claramente porque, em vez de recorrer ao apoio institucional da PF, foi se socorrer à Abin. O silêncio calculado de Protógenes é um sintoma de que a ainda está em aberto o capítulo da Satiagraha. Na esteira da crise, surgiu o grampo no telefone do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, provocando um novo turbilhão que já causou a queda de Lacerda, ameaça mais cabeças na Polícia Federal e ainda pode restringir o uso do grampo em investigações contra a corrupção.

De futuro incerto, braço direito de Luiz Fernando Corrêa, Menezes era um dos símbolos da Polícia Federal de 2022 projetada para se transformar numa polícia de Estado forte, técnica e respeitadora dos direitos humanos. Responsável pela introdução do curso de comunicação social no currículo da Academia da PF, Menezes passou por todos os cargos: chefiou e coordenou grandes operações, trabalhou na equipe de seu antecessor, Zulmar Pimentel que, como ele, vítima da mesma maldição, também acabou afastado da Direx por suspeita de vazamento na Operação Navalha. Antes de ser convidado para ser o número 2 da PF, Menezes foi superintendente da PF no Distrito Federal e secretário de Defesa Social de Pernambuco na gestão de Eduardo Campos (PSB). (V. Q.)