O Estado de São Paulo, n.46332, 24/08/2020. Economia, p.B9

 

Empresas sustentáveis sofrem menos

Leandro Miranda

24/08/2020

 

 

Pandemia. Economia fraca. Desemprego elevado. Risco alto. Retorno baixo ou negativo. Hábitos em profunda transformação. Tendências indefinidas. Futuro incerto. Esse cenário não é particular de um país, grupo de países ou região. Não é retrato de pós-guerra ou decorrente de algum cataclismo. E, muito menos, uma história do passado ou conto de um futuro apocalíptico. Ele está acontecendo agora, é bem real, não tem data para acabar e atinge, praticamente, todas as pessoas no mundo todo.

Mas no que os grandes investidores globais, responsáveis pela gestão de trilhões de dólares, pagos para proteger os recursos de poupadores do mundo todo e alcançar retorno ótimo para riscos predeterminados, estão fazendo? Investindo em ações de empresas sustentáveis, que têm atraído e retido colaboradores, clientes, fornecedores, credores e acionistas com uma força crescente. São responsáveis sócio e ambientalmente. Seus produtos e serviços são cada vez mais demandados. Suas margens só aumentam. São altamente lucrativas. Seus lucros são sustentáveis no longo prazo. O preço de suas ações não para de crescer e seus múltiplos se diferenciam bastante dos de seus concorrentes. Mas, o que são elas? Como identificá-las e investir ao lado dos investidores mais sofisticados e bem informados do mundo?

Seu propósito de existência alinha e atende aos interesses de todos os seus acionistas de forma equilibrada: acionistas, clientes, fornecedores, colaboradores e sociedade.

70% dos brasileiros compram influenciados pelo posicionamento das empresas sobre questões ambientais. 60% dos brasileiros estão mudando seu estilo de vida para reduzir seu próprio impacto no meio ambiente. Mais de 70% buscam por marcas que desempenham um papel positivo na sociedade, geram ação e tomam partido emitindo opinião clara sobre os temas importantes. E, quase todos eles, acompanham influenciadores ou buscam informações nas redes sociais sobre se aquela empresa, que tenta se posicionar como sustentável, "é para valer".

Seu lucro sustentável fortalece a sua existência e a manutenção de seu propósito. É a temperatura do seu sucesso, que é bem-visto, pois é necessário para a manutenção e apoio da sociedade e seu reinvestimento fortalece e expande as atividades. O lucro é bom.

De acordo com o estudo da Deloitte 2020 Marketing Trends, empresas sustentáveis são direcionadas por propósitos, impacto socioambiental, e apresentam forte e equilibrada governança. Seu crescimento é, em média, três vezes mais rápido e os múltiplos de suas ações são bem superiores aos de seus concorrentes.

As ações das empresas sustentáveis são as que menos sofrem nas crises e as primeiras a se recuperar porque os investidores globais acreditam que são sustentáveis, feitas para durar, pois têm propósito. E você investe em quê?

Leandro Miranda é diretor-executivo e de Relações com Investidores do Bradesco e responsável pela Ágora Investimentos