Correio braziliense, n. 21003, 25/11/2020. Política, p. 4

 

Pazuello mantém silêncio sobre testes

25/11/2020

 

 

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, desviou-se, ontem, de perguntas sobre o estoque de 6,86 milhões de exames RT-PCR para covid-19 que perdem a validade em dezembro deste ano e janeiro de 2021. O número é superior aos cinco milhões de testes desse tipo já feitos no Sistema Único de Saúde.

Pazuello foi questionado por jornalistas sobre os testes, entre outros assuntos, na saída de um evento no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mas deixou o local sem falar com a imprensa. O presidente do órgão, Luiz Fux, e ministro assinaram a renovação de acordos para fortalecer estudos técnicos em discussões da Justiça sobre acesso à saúde.

No domingo, o jornal O Estado de S. Paulo revelou que 7,1 milhões de exames estão em um armazém do ministério, ou seja, não foram enviados ao SUS em plena pandemia. Do total estocado, 96% (cerca de 6,86 milhões de unidades) estão próximos de perder a validade.

Pazuello ainda não se pronunciou sobre o caso. Em nota, o ministério afirma que os exames são entregues conforme demandas de estados e municípios. A pasta também afirma que já pediu estudos de estabilidade ao fabricante do teste para, na sequência, solicitar à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a prorrogação da validade do produto. O RT-PCR é um dos exames mais eficazes para diagnosticar a covid-19, além de ser importante ferramenta de controle da pandemia.

Ao ser cobrado, na segunda-feira, sobre os testes que podem parar no lixo, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que são governadores e prefeitos, e não o governo federal, que deve explicações. "Todo o material foi enviado para estados e municípios. Se algum estado/município não utilizou, deve apresentar seus motivos", disse o chefe do Executivo a um apoiador que o questionou se a informação procedia. Não é verdade que todo o material foi encaminhado. Como mostrou a publicação, os testes estão num depósito do governo em Guarulhos (SP) e não foram repassados para a rede pública. Os dados sobre o prazo de validade dos testes em estoque estão registrados em documentos internos do próprio Ministério da Saúde.