Título: Unasul elegeu assunto espinhoso para começar
Autor: Duarte, Joana
Fonte: Jornal do Brasil, 17/09/2008, Internacional, p. A21

A recém-criada União de Nações Sul-Americanas (Unasul), reunida na segunda-feira de emergência em Santiago para tratar da crise na Bolívia ¿ sua primeira crise a ser superada ¿ demonstrou um alto poder de convocação dos líderes do continente, mas sua consolidação como bloco regional ainda está em dúvida, segundo analistas.

Os presidentes de oito países e o chanceler do Peru aprovaram por unanimidade a declaração de respaldo a Evo Morales e de rechaço a qualquer tentativa de golpe de Estado e divisão territorial na Bolívia. Não foi adiante, no entanto, a proposta de intervenção mais direta no conflito ou uma condenação do governo americano, posição levantada pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, que denunciou em Santiago uma "conspiração imperialista" contra Morales.

Mas além do respaldo, não se espera que a posição da Unasul contribua significativamente para a solução da crise boliviana, um conflito de longa data que tem temperos étnicos, políticos e econômicos.

¿ Na verdade, não aconteceu muita coisa. Morales ficou na mesma posição de antes. Tem apoio a maioria das pessoas em seu país, mas não tem força suficiente para impôr sua vontade e sua Constituição às províncias rebeldes. No final, permanecemos no status quo ¿ afirma o cientista político Patricio Navia. ¿ Não há razão para pensar que esta cúpula da Unasul vá mudar a balança de poder na Bolívia ou que vá conseguir fazer com que as partes do conflito negociem de fato.

Para o analista Ricardo Israel, o início da Unasul foi uma "partida em falso".

¿ A Unasul não começou bem. Deu ênfase a um assunto interno de um país e não a um fator de integração regional, que é seu propósito original. O problema da Bolívia é muito profundo, é uma crise completa que não se pode solucionar de fora. A Unasul arriscou demais, arriscou-se a nascer morta.

Assim, o êxito do bloco "vai depender do que ocorrer na Bolívia", acrescenta Israel:

¿ Se a tensão interna não for solucionada, e só pode ser por meio do diálogo, a Unsaul vai se tornar mais uma tentativa fracassada de integração do continente.