Correio braziliense, n. 21004, 26/11/2020. Política, p. 4

 

Eduardo mantém ataques e fala em ameaça chinesa

Augusto Fernandes 

Sarah Teófilo

26/11/2020

 

 

Depois de iniciar mais uma crise com a China, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse, ontem, ao Correio, num evento que discutia regularização fundiária, que o país asiático adota uma postura agressiva. O parlamentar lamentou a nota em que a embaixada chinesa diz que ele e outras personalidades têm feito declarações "infames" e que "solapam a atmosfera amistosa entre os dois países".

"A China adota uma postura muito agressiva, isso é lamentável. E é lamentável que, na parte final da nota, ela ainda se sirva da fala individual de um parlamentar, ainda que presidente da Comissão de Relações Exteriores, para, na minha visão, fazer uma ameaça velada ao Brasil", ressaltou.

O imbróglio começou quando Eduardo fez postagens no Twitter em que acusava a China de espionagem via 5G. "O Brasil apoia projeto dos EUA para o 5G e se afasta da tecnologia chinesa", dizia a publicação. "O governo de Jair Bolsonaro declarou apoio à aliança Clean Network, lançada pelo governo Donald Trump, criando uma aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China." Depois, ele apagou o tuíte.

Como resposta, a embaixada chinesa divulgou, na terça-feira, uma nota manifestando forte insatisfação e repúdio ao comportamento do deputado e disse, ao final, que as personalidades brasileiras devem "deixar de seguir a retórica da extrema-direita norte-americana, cessar as desinformações e calúnias sobre a China e evitar ir longe demais no caminho equivocado".
Apesar de ter apagado a publicação, o parlamentar reiterou suas preocupações, dizendo ter "convicções e suspeitas fundadas". "Não à toa, está se formando, devido a essa preocupação fundada, uma aliança internacional para analisar essa questão do 5G", destacou. "Não é contra a Huawei (empresa líder na tecnologia 5G) ou contra a China. É para que seja feita uma segurança técnica de maneira a não se permitir o vazamento de dados ou o furto de informações. Enfim, essa que é a grande preocupação. Pode ver que no Brasil foi criada, recentemente, a agência brasileira de proteção de dados (Autoridade Nacional de Proteção de Dados — ANPD)."

Apesar de tudo, Eduardo Bolsonaro disse acreditar que as suas declarações não atrapalham as relações entre Brasil e China. Para ele, os dois países têm um relacionamento sólido e maduro suficiente para aceitar críticas. "Ou será que a todo mundo que a gente faz negócio eu tenho que falar amém para o governo dos outros? Não é assim. É uma questão sensível o 5G. Não é só no Brasil. É no mundo inteiro", ressaltou. "Confundem, lamentavelmente, a opinião de um deputado com a opinião de governo. Quem falou isso foi Eduardo Bolsonaro, não foi Jair Bolsonaro. Não sou legitimado por 59 milhões de votos", esquivou-se.

No Congresso, a reação às declarações de Eduardo foi imediata. Ontem, os deputados Perpétua Almeida (PCdoB-AC), Daniel Almeida (PCdoB-BA) e Fausto Pinato (PP-SP) apresentaram um documento ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), pedindo o afastamento do parlamentar da presidência da Comissão de Relações Exteriores da Casa.

Segundo os parlamentares, as declarações "são uma afronta às boas relações diplomáticas que construímos há mais de 45 anos e que beneficiam os dois países".