O Estado de São Paulo, n.46335, 27/08/2020. Metrópole, p.A26

 

Homicídios aumentam 16% em julho em SP

Felipe Resk

27/08/2020

 

 

Dado mostra continuidade da alta observada no 1º semestre; polícia diz fazer operações

Com um caso registrado a cada três horas em julho, o número de assassinatos voltou a subir no Estado de São Paulo. Dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP), divulgados anteontem, também apontam alta no número de boletins de ocorrência de estupro. Já as estatísticas de latrocínio, o roubo seguido de morte, e crimes patrimoniais sofreram queda.

Segundo a SSP, foram registrados 217 casos de homicídios dolosos, quando há intenção de matar, em julho. O índice representa alta de 16,6% comparado ao mesmo mês do ano passado, quando o Estado havia notificado 186 ocorrências. Já no acumulado do ano, São Paulo soma 1.677 registros até o momento – ou 6,1% a mais do que os 1.580 assassinatos que haviam sido contabilizados no mesmo período de 2019.

Na comparação mês a mês, esta foi a quarta ocasião em que o indicador de assassinatos subiu em 2020. Os homicídios já haviam crescido em março (23,8%), abril (3,5%) e maio (5,6%), de acordo com os dados da secretaria. A última queda foi registrada em janeiro, no início do ano, de 2,6%. Em fevereiro e em junho, o indicador sofreu variações negativas de 0,9% e 0,5%, respectivamente, o que indica estabilidade.

Dados do governo paulista mostram que 52,9% das mortes aconteceram em via pública e 26%, no interior dos domicílios. Outros 21% dos casos se dividem entre locais como unidades rurais (5,4%), comércios (2,2%) e restaurantes (1,3%), entre outras localidades. A maior parte dos casos foi classificada pela secretaria como decorrente de conflitos interpessoais (38,7%) e em 19,8% dos crimes há indícios de execução.

O professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Rafael Alcadipani diz que o Estado passa por um momento problemático na gestão da política de segurança. "O governo precisa saber onde o crime está aumentando e quais são as causas. Há 20 anos, os homicídios estão em queda e parece perigoso que a tendência se reverta agora", afirma.

Alcadipani diz que os efeitos da pandemia sobre os indicadores de criminalidade ainda não são claros, mas já se especula em relação à pressão sobre o crime organizado, o que pode culminar em conflitos internos, e a tendência de mais crimes interpessoais entre conhecidos por razões diversas. "Tem que haver mais investimento na Polícia Civil e na perícia para que os homicídios sejam devidamente esclarecidos. As estruturas precisam ser modernizadas", diz.

O secretário executivo da Polícia Militar, coronel Alvaro Batista Camilo, disse os números preocupam, mas que há ações que estão sendo tomadas para reduzi-los. "É o crime que mais preocupa a polícia de São Paulo, mas estamos trabalhando forte para analisar a situação de cada lugar e o que está acontecendo", diz Camilo, citando operações mensais que mobilizam policiais para patrulhamento nas ruas.

Indicadores. Pelo segundo mês consecutivo, os registros de estupro também registraram aumento em São Paulo. O Estado notificou, ao todo, 921 casos em julho. Já no ano passado, 850 ocorrências haviam sido informadas à polícia, um crescimento de 8,3%.

No indicador de roubo, a queda foi de 20,7%, de 21,3 mil ocorrências para 16,9 mil. Os furtos caíram 28,4%, de 43 mil casos para 31 mil.