O Estado de São Paulo, n.46335, 27/08/2020. Economia e Negócios, p.B1

 

Bolsonaro pressiona Guedes por Renda Brasil sem cortes em benefícios sociais

Julia Lindner

27/08/2020

 

 

Executivo. Presidente diz que mandou 'suspender' proposta apresentada por ministro, que defendia corte em deduções do IR e fim de programas como o abono salarial para chegar ao valor de R$ 300 pretendido pelo Planalto; novo plano deve ser apresentado até amanhã

Insatisfeito com o primeiro desenho apresentado por sua equipe econômica, o presidente Jair Bolsonaro disse ontem que suspendeu a proposta do Renda Brasil, que ele pretende criar em substituição ao Bolsa Família. Segundo Bolsonaro, o governo não quer "tirar (recursos) dos mais pobres" para bancar o novo programa social.

Em reunião na segunda-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ao presidente que para chegar ao benefício médio de R$ 300, como quer Bolsonaro, será preciso cortar deduções de saúde e educação do Imposto de Renda. Atualmente, o valor médio pago pelo Bolsa Família (criado na gestão petista) é de R$ 190.

Além disso, pela proposta da equipe econômica, haveria uma revisão de programas considerados "ineficientes", como o abono salarial (benefício de um salário mínimo voltado para quem ganha até dois pisos).

"Discutimos a possível proposta do Renda Brasil. E eu falei 'está suspenso', vamos voltar a conversar. A proposta, como apareceu para mim, não será enviada ao Parlamento. Não posso tirar de pobres para dar a paupérrimos. Não podemos fazer isso aí", disse Bolsonaro, durante evento em Ipatinga (MG).

O Estadão apurou que o presidente deu prazo até amanhã para que Guedes apresente um novo desenho do programa, que deve ser a marca social do governo. "Por exemplo, a questão do abono para quem ganha até dois salários mínimos, que seria como um décimo quarto salário... Não podemos tirar isso de 12 milhões de pessoas para dar a um Bolsa Família, um Renda Brasil, seja lá o que for o nome do programa."

O mercado viu nessas declarações um novo atrito entre Bolsonaro e Guedes, o que contribuiu para a alta da cotação do dólar e a queda da Bolsa de Valores.

A posição de Bolsonaro ganhou o apoio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). "Não é simples acabar com esses programas ( sociais) mesmo", disse. Além do abono, ele admitiu que haverá resistência no Congresso para se mexer com o seguro-defeso (pago a pescadores no período de reprodução dos peixes), outro programa na mira da equipe econômica.

Auxílio emergencial. Bolsonaro disse também que as novas parcelas do auxílio emergencial – destinado a trabalhadores informais e desempregados durante a pandemia – devem ficar acima dos R$ 200 defendidos inicialmente pela equipe econômica, mas abaixo dos atuais R$ 600. "O valor não será nem R$ 200, nem R$ 600, estamos discutindo com a equipe econômica", afirmou o presidente.

Segundo pesquisas, a adoção de programas na pandemia como o auxílio ajudaram a melhorar a popularidade de Bolsonaro, principalmente entre eleitores do Norte e Nordeste do País.