Correio braziliense, n. 21005, 27/11/2020. Brasil, p. 6

 

Aumento de casos é "repique", diz ministro

Bruna Lima 

Maria Eduarda Cardim 

27/11/2020

 

 

A menos de um mês para o Natal e das festividades de Ano Novo, o Brasil vive uma flexibilização das medidas de restrição e, com isso, percebe o aumento de registros da covid-19, da taxa de transmissão e da ocupação dos leitos. Os indicadores acenderam o sinal de alerta, mas o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, definiu como "repique" a subida dos casos.

"Nós estamos falando também de repique de contaminações e mortes em algumas regiões do país. Sim, é só nós acompanharmos o nosso site que nós podemos observar os dados. No Sul e Sudeste do país, o repique é mais claro, e no Norte e Nordeste o repique é bem menos impactante, com algumas cidades que são fora da curva. O Centro-Oeste é mais no meio do caminho. E, sim, isso é o repique da nossa pandemia", reconheceu o ministro.

O incremento das atualizações da covid-19 nas últimas semanas continua a ser percebido. Ontem, mais 37.614 infecções e 691 mortes pelo novo coronavírus foram confirmadas pelo ministério que, pela primeira vez, admitiu o aumento dos acréscimos diários.

A pasta, até então, não havia reconhecido o aumento de casos e mortes. Na última coletiva, ao ser questionado sobre isso, o secretário-geral Élcio Franco afirmou não ser possível fazer a análise devido à instabilidade ocasionada na inserção de novos dados, após a tentativa de invasão do sistema do ministério. Após o fechamento da semana epidemiológica 47, com dados que evidenciam aumentos, o Ministério da Saúde não realizou mais coletivas para atualizar a situação.

Os números da 47ª semana epidemiológica confirmam incrementos de casos já percebidos na 46ª. Na comparação entre a 47ª e a 46ª, houve um aumento de 4% nas infecções, passando de 195.398 novos registros semanais para 203.827. Ao avaliar as mortes, houve estabilidade, pois o acúmulo de óbitos em sete dias foi de 3.389 para 3.331 óbitos –– 58 a menos.

Pazuello não caracterizou como segunda onda. "A primeira onda é tudo aquilo que aconteceu e vem acontecendo com o repique, agora. Isso é uma onda, que pode ter um repique, dois repiques, mas é uma onda", avaliou. Ainda de acordo com o ministro, a segunda onda são as mortes e o impacto causado pelas doenças não tratadas durante a pandemia.

O país, que tem 6.204.220 casos e 171.460 óbitos pela doença, observa a oscilação na média móvel dos dois indicadores. Com os últimos acréscimos, ambos cresceram. De acordo com análise do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), por dia estão morrendo 486 pessoas e há acréscimo diário de 31.779 casos. O acréscimo de casos diários na faixa de 31 mil era visto na primeira quinzena de setembro.

Ocupação de leitos
Alguns estados passam a enfrentar a falta de leitos e altos índices de ocupação. É o caso do Rio de Janeiro, que tem 85% em vagas de UTI ocupadas. Na capital, o índice é de 94%, mas há relatos de filas de espera de mais de 200 pacientes. Em Porto Alegre, a lotação é de 91,02% e a taxa de todo o estado do Rio Grande do Sul é de 75,7%. Em Santa Catarina, 84,40% das UTIs da rede pública estão com pacientes. Os índices fizeram com que o Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Santa Catarina (Cosems-SC) enviasse documento às autoridades catarinenses alertando sobre o "risco iminente de colapso".

Apesar das taxas de ocupação dos leitos de UTI, em São Paulo , estarem em 57,2% na Grande São Paulo e 50% no estado, os aumentos de internação podem levar o governo paulista a adotar novas medidas de isolamento. O comitê de saúde estadual recomendou um aumento nas restrições de circulação, sobretudo em áreas de lazer. As internações aumentam por duas semanas consecutivas, com incrementos acima de 17% entre uma semana e outra.

Na semana passada, o secretário-executivo do ministério Élcio Franco afirmou que a pasta está atenta às demandas e que não deixará de renovar habilitações e fornecer recursos. "Podemos viabilizar novos leitos ou prorrogar aqueles previamente habilitados, conforme a demanda de estados e municípios que venha a ser comprovada pelas nossas equipes". Até agora, foram prorrogados 12.439 leitos de UTI covid-19, ao custo de R$ 595 milhões.