Correio braziliense, n. 21006, 28/11/2020. Economia, p. 6

 

Desemprego cresce e alcança 14,1 milhões

28/11/2020

 

 

Apesar da geração de empregos formais dar sinais de recuperação, a taxa de desemprego continua batendo recordes no Brasil. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego alcançou 14,6% no terceiro trimestre deste ano e já atinge 14,1 milhões de brasileiros. É que os resultados positivos apresentados pelo mercado formal ainda não são suficientes para atender todos os que perderam o emprego ou deixaram de procurar uma ocupação na pandemia de covid-19, segundo especialistas consultados pelo Correio.

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE revelou que 1,3 milhão de brasileiros entraram na fila por um emprego no terceiro trimestre deste ano. E mostrou que, além de 14,1 milhões de desempregados, o Brasil tem 33,2 milhões de trabalhadores subutilizados e 5,9 milhões de desalentados. Os dados foram divulgados ontem, um dia depois de o governo comemorar o resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Segundo o Caged, o Brasil tem criado vagas formais de trabalho há quatro meses consecutivos e essa geração bateu o recorde de quase 395 mil empregos em outubro.

A economista da Coface para a América Latina, Patrícia Krause, explicou que as duas pesquisas olham fatias diferentes do mercado de trabalho. "O Caged foca apenas no mercado formal, que fechou muitas vagas no início da pandemia, e agora vem se recompondo. Já a Pnad também observa os informais e os trabalhadores por conta própria, que foram duramente impactados pela pandemia. "As vagas formais medidas pelo Caged estão surgindo, mas não no ritmo suficiente para atender todos, até porque o número de trabalhadores que está procurando emprego tem aumentado. Por isso, o desemprego continua subindo", confirmou o economista do Ibre/FGV, Daniel Duque.
Ele lembrou que, no início da pandemia, muitos brasileiros deixaram de procurar emprego por medo do contágio pela covid-19. Agora, com a flexibilização do isolamento social, voltaram a buscar uma ocupação e, consequentemente, a pressionar a taxa de desemprego. E essa busca só tende a crescer nos próximos meses, já que muitos trabalhadores ainda não retomaram a busca por um emprego por conta do auxílio emergencial. Segundo os especialistas, a tendência é, portanto, que o desemprego continue subindo até, pelo menos, o primeiro trimestre de 2021.

Professor do Insper e CEO da Siegen Consultoria, Fabio Astrauskas disse que os dados do IBGE dão uma ideia do tamanho do "desemprego represado". É que a Pnad Contínua mostra que a população fora da força de trabalho atingiu o recorde de 78,6 milhões de pessoas no terceiro trimestre. "Cerca de 10 milhões de pessoas saíram do mercado nos últimos 12 meses. Estima-se que, desses, aproximadamente 6 milhões voltarão a procurar emprego quando a situação se estabilizar. Se isso ocorrer, o número de desempregados chegaria a 20 milhões", calculou Astrauskas.

Patrícia Krause acrescentou que boa parte das vagas captadas pelo Caged podem ser temporárias e fechar no fim deste ano. E Daniel Duque afirmou que, como a recuperação econômica tem sido desigual entre os setores, algumas empresas avaliam a possibilidade de demitir os trabalhadores que tiveram o contrato de trabalho reduzido na pandemia após o período de estabilidade firmado nos acordos.
Para os economistas, é preciso tomar medidas urgentes para evitar que esse cenário se concretize. E apontam duas frentes de trabalho nesse sentido: buscar uma forma de amparar os brasileiros que hoje vivem do auxílio emergencial até que eles consigam uma fonte de renda e acelerar a recuperação econômica.

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Orçamento curto no fim de ano 

Fernanda Strickland 

Natália Bosco 

28/11/2020

 

 

Com a crise gerada pela pandemia do novo coronavírus, brasilienses encaram orçamentos curtos e reajustam gastos. Dados do Instituto de Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que, no terceiro trimestre, a taxa de desemprego no DF era 15,6% acima da média nacional. A situação se reflete nas compras de fim de ano. Com as contas apertadas, muitos brasilienses dizem preferir comprar à vista para evitar dívidas.

"Vou comprar as coisas de acordo com meu orçamento, porém, à vista, pois não uso cartão de crédito", disse a professor aposentada Patrícia Barros, 74 anos. Ela afirma que compraria parcelado no cartão se coubesse no bolso. "Eu faria isso se as parcelas fossem de acordo com meu orçamento, pois sinto que, quando parcelamos, os juros do cartão levam ao descontrole", afirmou.

Números divulgados, ontem, pelo Banco Central (BC), dão razão aos temores da aposentada. Segundo o BC, os juros sobrados no rotativo do cartão de crédito subiram 7,8 pontos percentuais, passando de 309,7%, em setembro, para 317,5% ao ano em outubro. No cheque especial, houve queda de 1,1 ponto percentual, de 114% para 112,9%, mas a taxa continua salgada.

A média das taxas cobradas no mercado (o que inclui linhas mais baratas, como o crédito habitacional), aumentou 0,6 ponto percentual, para 18,7% ao ano. No crédito livre, ou seja, aqueles que não sofrem nenhum direcionamento, os bancos passaram a cobrar 26,5% ao ano, em média, ante 25,8% no mês anterior.

Além disso, os consumidores se queixam dos preços altos. Ângela Teodoro, assessora pessoal, 39 anos conta que, na Black Friday, não vê diferença dos preços normais e que contava com as promoções para o final do ano. "Hoje, avaliando tudo, vejo que não há condições de ficar comprando presentes. Está tudo fora do meu orçamento". E comentou, ainda mantendo o bom humor: "Este ano, Papai Noel fugiu, porque é grupo de risco".

Ângela também prefere comprar à vista. "Estou evitando fazer dívidas, pois não tenho ideia de quanto tempo vai durar a crise no Brasil com essa pandemia. Não quero fazer um compromisso com várias parcelas, sendo que o tempo que vivemos é incerto", afirmou.

Norma da Paz, 65 anos, também é aposentada e alerta para o preço elevado das mercadorias. Para Norma, os juros e valor das parcelas no cartão de crédito são os fatores que mais a preocupam. "Tudo está muito caro. Prefiro comprar à vista. Não vai dar para comprar presentes de Natal este ano".

Comportamento
Pesquisa realizada pela empresa Rakuten Advertising mapeou os impactos gerados pela pandemia no comportamento de compra das pessoas, e o que elas esperam para o último trimestre do ano. O levantamento, feito com oito mil entrevistados de países diferentes, dos quais mil brasileiros, mostrou que, durante a quarentena, serviços como refeições prontas, entretenimento digital e restaurantes com entrega delivery foram os que mais cresceram. (Colaborou Simone Kafruni)

*Estagiárias sob supervisão de Odail Figueiredo