Título: "O PT está perdendo tempo"
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 28/02/2005, Brasília, p. D3

entrevista /Geraldo Magela

Criticado dentro do próprio PT por ter se lançado pré-candidato ao Palácio do Buriti em 2006, Geraldo Magela acredita que fez a coisa certa. Considera que o partido está perdendo tempo de campanha, enquanto nomes ligados ao governador Joaquim Roriz, adversário histórico, começaram a briga por votos, ainda que de forma não declarada. Mineiro de Patos de Minas, Magela passou mais de dois anos em silêncio, e só voltou a falar de política depois do julgamento de um recurso do PT contra a diplomação de Roriz, indeferido pelo Tribunal Superior Eleitoral. Determinado, afirma estar preparado para enfrentar qualquer disputa interna ¿ ele não acredita em consenso ¿ para ser o escolhido para disputar as próximas eleições. Magela sabe que nesta empreitada pode ser favorecido com o cargo de presidente do Banco Popular (subsidiária do Banco do Brasil para clientes de baixa renda), convite que recebeu ainda no ano passado e que só será definido depois da reforma ministerial. Em entrevista ao JB, o ex-deputado distrital e federal, funcionário do Banco do Brasil, afirma acreditar na força de uma chapa pluripartidária para agregar alianças. Mas é cauteloso ao avaliar quem o agradaria como vice: ¿É cedo para falar em nomes¿. Para Magela, as denúncias de que teria recebido para a campanha eleitoral mais de R$ 100 mil, intermediados por Waldomiro Diniz, estão superadas. ¿A população não acreditou naquilo porque não há provas¿, diz. - O governo federal tem evitado falar sobre as eleições de 2006, para tentar garantir a governabilidade este ano. O senhor não considerou prematuro o anúncio de que é pré-candidato ao GDF?

- São coisas distintas. A sucessão presidencial de fato precisa ter seu início no começo de 2006, porque o presidente leva seu governo à frente e não há outro candidato colocado. No DF é diferente. O atual governo faz campanha todos os dias, tem candidato declarado. Há pelo menos quatro candidatos ao lado de Roriz, em plena campanha, fazendo comícios, elaborando jingle de campanha, usando sua estrutura seja política ou empresarial, e nós do PT não podemos ficar mais um ano olhando para nosso umbigo, sem discutirmos nossas possibilidades. Podemos até não definir em 2005, mas não podemos assistir os outros fazendo campanha sem ter atitude.

- O PT está perdendo tempo?

- Sim. Anunciei que tenho intenção de colocar meu nome no momento em que o TSE concluiu a etapa da análise dos processos (contra Roriz). Disse que 2002 acabou em 17 de fevereiro e 2006 começou no dia 18. Não vamos mais ficar olhando para as eleições de 2002. E na medida em que não discutirmos as alternativas, estamos perdendo tempo.

- De qualquer forma, já existem pretensos pré-candidatos na legenda para a sucessão. Como pretende reunir consenso sobre seu nome?

- Anunciei meu nome por várias razões. A primeira é que fui candidato em 2002, fiz uma campanha que empolgou a militância. Tive resultados excepcionais, com 41% no primeiro turno e metade dos votos no segundo. Apresentei programa de governo sólido. Tenho legitimidade para me apresentar. Disputo internamente com qualquer outro nome, e estou preparado para qualquer adversário que venha do outro lado. Nossa intenção é buscar consenso. Se não, vamos para a prévia. É bom lembrar que até o Lula teve que passar por prévia.

- O senhor defende uma chapa pluripartidária?

- Uma coisa é a formação de chapa, outra coisa é formação do governo. Eu defendo chapa plural, mas tem de levar em conta a aliança com os partidos e também a densidade eleitoral de quem compuser a chapa. Um candidato a vice e a senador tem de vir para ampliar. E na relação do governo, acho que tem que ser mais plural ainda, porque a chapa comporta um governador, um vice-governador ou uma vice-governadora e um candidato ao Senado. E na composição de governo você tem que ampliar e fazê-lo bastante plural, que reflita a aliança dos partidos e da sociedade. Em 2002, tivemos uma situação que nos obrigou a ter uma chapa quase só petista, com um candidato a senador do PCdoB, o Fredo, mas a candidatura a governador, a vice e a senador foi do PT por causa da verticalização. Chegamos a ter entendimentos com PSB e PPS, que não foram à frente em função da verticalização. O PPS indicaria o vice, à época o Carlos Alberto, que foi candidato a governador.

- Quem poderia compor como seu vice numa possível chapa?

- Vai depender das alianças. Considero que temos que ampliar, tanto do ponto-de-vista partidário quanto ideológico. Temos boas alternativas, mas é cedo falar nomes.

- Em que medida a aliança PT e PFL na Câmara Legislativa pode influenciar em 2006?

- Neste momento, há um processo de realinhamento das forças na Câmara por dois motivos: primeiro, porque o governador que aí está entendia a Câmara Legislativa como uma secretaria. E mandava e fazia do jeito que queria. O Legislativo tem que ser um poder autônomo. Então, a primeira reação foi de independência, o que é nobre. E segundo, há um compromisso dos setores que se compuseram a Frente Democrática como um novo modelo de seriedade e de ética dentro da Casa, que nós aplaudimos. É muito cedo para avaliar que reflexo isso pode ter para 2006, até porque o senador Paulo Octávio, que já está em plena campanha para governador, pede cotidianamente as bênçãos e o apoio de Joaquim Roriz. Se ele estiver ao lado de Roriz em 2006, a chance de ter qualquer aproximação dele, e aí naturalmente para que ele nos apóie no segundo turno, vai ficar bastante limitada. A nossa grande disputa aqui é com o grupo político de Roriz.

- Quais as possibilidades de uma aliança entre Paulo Octávio e o PT num possível segundo turno?

- Trabalhamos com a projeção de que o PT estará no segundo turno. Nessa condição, vamos trabalhar uma aliança que defenda os interesses da cidade e que tenha como baliza central a questão da ética na política. Não vamos falar agora em nomes e partidos, pois precisamos entender como ficarão as forças políticas desde o primeiro turno. Só após definida a composição da disputa no primeiro é que vamos ter uma idéia do segundo turno.

- Assumir a presidência do Banco Popular poderia facilitar as articulações com o governo federal para lançar sua candidatura?

- Fui convidado, no início do governo, para compor uma área de governo e o próprio presidente Lula entendeu que seria importante esperar o julgamento da Justiça Eleitoral, pois tínhamos expectativa de sucesso. Ele mesmo me disse que só após a decisão dos processos é que nós discutiríamos governo. Agora, o momento está dado. E não há relação com a possibilidade de candidatura ao governo.

- Mas pode voltar holofotes para seu nome...

- Isso tem um lado que pode ser positivo, de ajudar no governo Lula, mas há um negativo. Quando você vai para o governo, você tem de governar. E as ações de campanha política são limitadas. Isso pode até trazer algum prejuízo para uma possível candidatura na medida em que eu estarei dedicado exclusivamente à função de governo. Mas é uma questão menor. Vamos fazer campanha efetivamente no momento que tiver que fazer, que é a partir de julho de 2006, depois que tiver escolhido o candidato.

- Não existe dificuldade de lançar seu nome no PT por conta do envolvimento no escândalo Waldomiro Diniz?

- Não, por várias razões. Desde que fui envolvido de forma irresponsável naquele processo do Waldomiro, recebi toda a solidariedade do partido aqui no DF. Em nenhum momento me negaram apoio ou solidariedade. Até porque o partido sabia que nossa campanha foi marcada por dificuldades financeiras. Também porque todo o partido sabia que não havia possibilidade de recebermos dinheiro vindo de Carlos Cachoeira, pois sabíamos das relações entre ele e o governador Joaquim Roriz divulgadas em 1999. Além disso, as apurações, especialmente na CPI do Rio de Janeiro, demonstraram que não há sustentação na acusação do Waldomiro.

- E quanto à opinião pública?

- Em todo lugar por onde ando o que mais ouço é: ''O que levou o Waldomiro a te envolver naquele episódio? Por que ele fez isso? Não gosta de você? Tem alguma coisa contra você?'' Então, sinto que a maior parcela da população não acreditou naquilo porque não havia provas. Quando há uma denúncia que tem uma fita, fotografia e é irrefutável, as pessoas acreditam. Quando é um disse-que-disse, a população não leva a sério. Na fita meu nome nunca apareceu.

- Há possibilidade de o PT não lançar candidato próprio no DF?

- O governo e o PT terão de pensar uma tática eleitoral em vários estados para que possa apoiar a candidatura de outros partidos. Mas no DF, todas as análises demonstram que o candidato deve ser do PT, seja pelo apoio que o partido tem, seja pelas possibilidades de nomes e de alianças. Não há possibilidade de o Planalto e do PT nacional solicitarem o cargo de governador para as alianças. Em todas as pesquisas de opinião pública o PT aparece como o partido de maior preferência da população. Em todas as eleições que o partido disputou aqui, teve uma excelente votação.

- O governador Roriz não poderá tentar reeleição, mas há nomes fortes, aliados dele, que enfrentarão o PT. Isso dificulta para o PT?

- A eleição de 2006 será diferente porque há nomes novos no campo rorizista, mas há uma demonstração de capacidade eleitoral do PT, e até de governo. Precisamos fazer a maior unidade possível, alianças fortes com partidos de esquerda e ampliar para o centro político. Aí sim, nós teremos condições de ganhar as eleições. Não será uma eleição fácil - nunca são fáceis, porque há uma polarização no DF. Além disso, vamos fiscalizar desde agora, no próprio alistamento eleitoral, no cadastro eleitoral, vamos preparar um esquema de fiscalização no dia das eleições, na urna eletrônica, no transporte de eleitores. Não vamos permitir a série de irregularidades de 1998 e 2002.

- O senhor acredita que o senador Cristovam Buarque não será candidato?

- No PT não existe nem candidato natural nem de consenso. Qualquer um de nós vai ter de disputar prévia. Mesmo que trabalhemos pelo consenso, pouco acreditamos que será possível ter um candidato que não passe pelas prévias, pela votação dos filiados. No caso do senador Cristovam, ele tem reiterado em atividades públicas do partido, em reuniões com lideranças, que não pleiteia a candidatura a governador. Como sempre acreditei no que o Cristovam fala, sou também agora obrigado a acreditar que ele não é candidato. Se ele estiver de fato falando o que pensa, não vai apresentar seu nome, nem aceitar que seu nome seja colocado.

- Em que medida a discussão da reeleição de Lula influencia na sucessão do GDF?

- A melhor contribuição que nós do DF podemos dar ao projeto maior de reeleição de Lula é ter um candidato a governador com condições de fazer uma excelente campanha e de ganhar a eleição e, sendo governador, ajudar o presidente Lula no seu segundo mandato. Até porque é fundamental ter aqui um governador que seja aliado e alinhado com o governo Lula.

- Neste sentido, poderia haver resistência a Cristovam dentro do Planalto para ser o candidato do PT no DF por conta das críticas que vem fazendo ao governo federal?

- Vejo que o senador Cristovam Buarque pode não ser candidato a governador agora porque na verdade o projeto dele é ser alternativa para uma candidatura à Presidência da República em 2010, numa sucessão ao Lula, na possibilidade de o Lula ser reeleito. Acredito que ele ser candidato a governador, eleito ou não, pode não contribuir para esse projeto. Isso só ele pode responder. Essa é uma leitura minha. Não acho que tenha qualquer relação com as críticas que ele faz ao governo federal porque ele tem legitimidade para fazer. Acredito que as críticas que ele faz ao governo têm apenas o intuito de ajudar.