Título: Lessa e Ricupero concordam sobre fim da auto-regulação
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Fonte: Jornal do Brasil, 19/09/2008, Economia, p. A20
As intervenções das autoridades monetárias americanas no sistema financeiro estão dividindo as opiniões dos especialistas: de um lado, estruturalistas, como Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES formado na Cepal, afirmam os americanos estão estatizando seu sistema bancário, adotando cinicamente o preceito do "faça o que eu digo, não o que eu faço".
¿ Imagine se houvesse um problema que forçasse o governo brasileiro a absorver um banco, a gritaria que ia haver¿ ironiza Lessa.
Em outra vertente Rubens Ricúpero, ex-ministro da Fazenda, hoje diretor da Faculdade de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado, entende que é um exagero chamar o movimento de socorro aos banco de estatização.
¿ Este é o pragmatismo americano. Agora eles não vão ligar para o mercado. Já falaram que vão elevar os impostos, e isto obviamente terá uma reflexo terrível sobre o orçamento. São bilhões e bilhões que estão sendo usados para segurar a barra. Já gastaram quase 300 bilhões nos últimos dias. E o Fed está injetando dinheiro para salvar os bancos não é de agora. Há quem diga que o tamanho do buraco é de trilhões de dólares ¿ diz Lessa..
O ex-presidente do BNDES destaca que, na Europa, os bancos centrais estão desesperados para segurar o sistema bancário, diante da instabilidade: "Já tem um banco inglês balançando ¿ comenta Lessa.
Em posição antagônica, o ex-ministro Rubens Ricúpero entende que chamar o movimento de socorro aos bancos de estatização é um exagero: "A cabeça dos americanos e dos ingleses é imune à idéia de estatização clássica, que ocorre quando o governo assume negócios privados em caráter permanente. De fato, este socorro é censurável no sentido que estas empresas, em vez de serem castigadas pela falência, recebem ajuda do governo, reforçando a noção que os lucros são privados e os prejuízos, socializados.
Ricúpero e Lessa, entretanto, têm um ponto de concordância, expresso na declaração do ex-ministro:
¿ A crise marca a ruína definitiva da teoria que o mercado é auto-regulável, defendida pelos expoentes de Wall Street, como Alan Greenspan, ex-presidente do Fed, o banco central americano. As regras do mercado americano sempre foram contrárias a qualquer regulação das atividades pelo governo, que tem uma responsabilidade imensa nesta crise. A única possibilidade de estatização é em um cenário de agudização da crise, com recessão, nos moldes dos anos 30, com o New Deal ¿ adiz Ricepero.