Título: Crise já entra na casa do trilhão
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Fonte: Jornal do Brasil, 19/09/2008, Economia, p. A20
Bancos centrais de todo o mundo se unem na injeção de recursos para evitar insolvências.
Enquanto a natureza da crise financeira mundial puxada pela insolvência de bancos e fundos dos Estados Unidos está dividindo especialistas, o Fed, que tem função de banco central dos EUA, em um movimento surpresa, colocou ontem mais US$ 180 bilhões à disposição dos bancos centrais ao redor do mundo para que as entidades possam emprestar recursos aos bancos comerciais locais, uma tentativa de aumentar a liquidez dos mercados.
Com a medida, a injeção de recursos promovida pelos Estados para salvamento de seu sistema financeiro ¿ iniciada com a estatização das empresas de hipotecas Fannie Mae e Freddie Mac, e seguida por socorro de US$ 85 bilhões à seguradora AIG ¿ já passa de US$ 700 bilhões. A mobilização internacional de recursos para enfrentar a conjuntura ocorrida nas últimas semanas poderá ultrapassar a cifra do trilhão de dólares, segundo vários especialistas.
Crise trilionária
Somente o banco central americano já gastou entre US$ 900 bilhões e US$ 1,5 trilhão para tentar deter os piores desdobramentos da crise financeira que abala a economia americana desde a segunda metade do ano passado.
Ontem, os principais bancos centrais do mundo uniram forças ontem para injetar bilhões de dólares nos mercados globais em um esforço dramático para estimular os empréstimos interbancários, congelados pela crise de Wall Street.
O Banco da Inglaterra e o Banco Central Europeu (BCE), integraram-se ao esforço e também emprestaram capital extra em suas moedas locais, à medida em que os mercados oscilavam observando uma rodada de fusões e aquisições entre as instituições financeiras e renovavam as preocupações sobre como a economia dos Estados Unidos vai lidar com a crise. Analistas disseram que o capital extra acalmou o mercado, mas isso deve ser temporário.
Falando em Nova York ao correspondente do Jornal do Brasil , Osmar Freitas Jr, o economista americano Albert Fishlow, disse que as medidas adotas nos últimos dias pelas autoridades monetárias americanas não significam que venha a ser adotada uma poklítica sistemática de intervenções.
¿ O que se viu nos EUA ocorreu devido a falhas de empresas. Como o Fed decidiu não reduzir as taxas de juros, há indicação de que eles imaginam poder sair da crise sem mudar os fundamentos da economia disse Fishlow. Ele destacou ainda que a estatização, há poucos dias, da seguradora AIG ocorreu pelo fato de a entidade estar atrelada a diversas instituições do mercado e sua quebra teria gravíssimas repercussões para economia.
O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, afirmou ontem que seu governo compartilha a preocupação dos americanos com a crise financeira e insistiu que está fazendo tudo o possível para " dar estabilidade aos mercados".
Bovespa em alta
A Bolsa de Valores de São Paulo teve um dia de forte recuperação ontem, influenciada pela recuperação na Bolsa de Nova York. O termômetro dos negócios da Bolsa, o Ibovespa, subiu 5,48% e atingiu 48.422 pontos. O giro financeiro foi de R$ 7,51 bilhões, acima da média de R$ 5 bilhões/dia.
As bolsas americanas dispararam no fim do pregão de ontem, com os investidores confiantes na rede de proteção anunciado por seis dos principais bancos centrais do mundo. A de Nova York fechou em alta de 3,86% no índice Dow Jones Industrial Average, enquanto o índice S&P 500 subiu 4,33%. A Bolsa Nasdaq ganhou 4,78%s. Os resultados se seguiram a quedas de mais de 4% registradas anteontem.
Os índices seguiram para o campo positivo tão logo a rede de televisão CNBC informar que o Tesouro norte-americano estuda uma solução similar a colocada em prática nos anos 80 para por fim à crise de poupança e empréstimos.
Assim, as autoridades estabeleceriam uma estrutura de financiamento público destinado a comprar ativos duvidosos de instituições.de poupança e empréstimo.
As bolsas européias fecharam em baixa. A de Londres caiu 0,66%, para 4.880 pontos; a de Paris caiu 1,06%, para 3.957,86 pontos; a Bolsa de Frankfurt teve ligeira variação positiva de 0,04%, enquanto as de Milão, Amsterdã e Zurique resgitravam quedas de, respectivamente 1,48%, 1,49% e 0,47%.