Título: Ensino de surdos começa a se qualificar
Autor: Melissa Medeiros
Fonte: Jornal do Brasil, 28/02/2005, Brasília, p. D6

Escolas do DF utilizam tanto o oralismo quanto o bilinguismo, mas ainda enfrentam desafios como o acesso tardio dos alunos

Fazer o surdo calar é uma tarefa complicada. Pode parecer que há algo errado nessa frase, mas não, é isso mesmo. Comunicativos em excesso, os deficientes auditivos só se tornam-se introspectivos caso não aprendam a desenvolver mecanismos de comunicação como a Linguagem Brasileira de Sinais (Libras) ou a própria fala - quebrando o estigma de todo surdo ser mudo. Desenvolver educação de excelência para surdos é uma meta não que o Brasil ainda não alcançou. Especialistas, pais e governo têm discutido a questão, mas não conseguiram conclusões exatas. Por causa disso, a educação especial tem permeado diversos caminhos e correntes. O ensino dos surdos no Distrito Federal não é diferente desse retrato nacional. A decisão dos pais ou responsáveis entre escolas especiais ou classes de alunos normais determina a vertente do aprendizado: oralismo que estimula o aluno a aprender a falar por considerar ser esse o melhor modo de o surdo viver em uma sociedade que não conhece a linguagem de sinais e bilingüismo que ensina libras, entendendo ser essa a língua materna dos surdos, e a língua portuguesa como segunda língua.

São 1.395 alunos na rede pública do DF, o que corresponde a 2,5% dos surdos estudantes no País. Dispersos em 38 escolas, os deficientes auditivos estão numa faixa etária de seis a 25 anos e essa larga faixa de idade é explicada por eles chegarem tarde às escolas, seja porque os pais não julgaram necessário o estudo, seja devido ao diagnóstico tardio.

- Os pais de deficientes auditivos ainda não têm consciência de que eles podem ser inseridos na sociedade como pessoas normais e, por isso, devem freqüentar a escola desde cedo. Tem adulto surdo que nunca foi à escola - explica a gerente de apoio à aprendizagem do aluno deficiente auditivo da Secretaria de Educação, Elen Morais.

Como em vários estados, no DF, pais, professores e organizações da sociedade civil vêm suprindo as carências na educação dos surdos. Na fase inicial de zero a seis anos, o Centro Educacional da Audição e Linguagem (Ceal) é a referência para pais que percebem a deficiência auditiva nos filhos. Lá são feitos os primeiros diagnósticos detalhados da surdez e, em seguida, as crianças são encaminhadas para atividades lúdicas que desenvolvem a fala e a competência para a conversação oral. Por trabalhar com o oralismo, faz-se um trabalho com pais para eles aprimorarem habilidades que capacitarão os filhos a desenvolverem a comunicação oral e tentam ampliar nas crianças o potencial auditivo com que eventualmente contem.

Na complementaridade da educação regular, os jovens e adultos surdos têm atendimento profissionalizante para inseri-los no mercado de trabalho e não deixá-los ociosos ao saírem da escola. A Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Auditivos (Apada) é a entidade filantrópica que se propõe a preparar os surdos para atividades profissionais.

Segundo a Apada, a informática tem sido a área de preferência da maioria dos surdos, pois o trabalho pode ser desenvolvido sem haver considerável necessidade de comunicação oral. Visando vagas destinadas a deficiente em concursos públicos, a associação oferece cursos preparatórios para concursos e desenvolve um trabalho de encaminhamento ao mercado de trabalho em parceria com empresas públicas e privadas.