Título: Reforma educacional prevê música e nova ortografia
Autor: Abade, Luciana
Fonte: Jornal do Brasil, 20/09/2008, País, p. A13

Escolas brasileiras do ensino básico têm três anos para se adaptar.

BRASÍLIA

Três anos. Esse é o prazo que as escolas públicas brasileiras terão para inserir no currículo da educação básica o ensino da música. Esse também é o prazo para que passe a valer nas escolas o acordo ortográfico entre os oito países de língua portuguesa que será sancionado, no dia 29, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Academia Brasileira de Letras (ABL). A reforma ortográfica, que suprime o trema, simplifica as regras do hífen e elimina as consoantes mudas, já entra em vigor em 2009. Mas estará nos livros escolares somente em 2012. E, ao contrário do que todos esperavam, o Ministério da Educação não fará programas para treinar professores. ­ Não é preciso curso. A mudança não é tão grande. Apenas 0,5% das palavras serão modificadas. Campanhas de divulgação na mídia e cartilhas explicativas já serão suficientes ­ argumenta o professor Godofredo de Oliveira, da Comissão de Língua Portuguesa do MEC.

Obrigação

A presidente do Departamento de Lingüística da Universidade de Brasília (UnB), Enilde Falstich, concorda: ­ É da competência de cada docente estudar as novas regras para ensinar. Em vez de ficarem criticando, os professores devem se preparar e não tratar o assunto como secundário. Ao contrário da reforma ortográfica, a obrigatoriedade do ensino da música não causou polêmica, mas alguns especialistas afirmam que o país não tem estrutura para aplicar a nova lei. ­ Infelizmente a estrutura ainda não está pronta. Assim como o entendimento amplo do que deve ser a Educação Musical e sua desenvoltura ­ acredita Alciomar Oliveira Santos, chefe do Departamento de Música da UnB. ­ Alguns excessos e confusões ainda são notados também nos propositores dessa nova legislação. Muitos deles estão delineando as demandas e necessidades sociais com o foco econômico, o que é inicialmente um grande erro. A presidente do Sindicato dos Músicos do Estado do Rio de Janeiro (Sindmusi), Deborah Cheyne, comemorou a aprovação, mesmo com o veto do presidente ao artigo que previa a necessidade dos professores terem formação específica. ­ Nós músicos estamos revelando que temos capacidade de articulação ­ disse Débora. ­ Crítica sempre vai haver, mas se não dermos o primeiro passo com medo delas, não chegamos a lugar nenhum. Acredito que é possível implementar a lei.

Ditadura

A reforma curricular não pára por aí. O ensino da Sociologia e da Filosofia também voltará a ser obrigatório, 37 anos depois que as disciplinas foram excluídas do currículo escolar pela ditadura militar. A obrigatoriedade vale para o ensino médio das escolas públicas e privadas de todo o país. A Lei de Diretrizes e Bases estabelece uma base comum nacional, que respeita as especificidades regionais. No entanto, dezenas de projetos de lei que sugerem modificações na LDB tramitam atualmente no Congresso Nacional. São 40 apenas na Câmara dos Deputados. Se todos fossem aprovados, provavelmente um dia inteiro na escola não seria suficiente para cumprir a carga horária. Ensino sobre drogas entorpecentes, legislação fiscal e tributária, educação financeira, empreendedorismo e Educação Moral e Cívica no ensino fundamental são as mais sugeridas pelos deputados. ­ Moral e Cívica é matéria que tem origem na ditadura. Já teve o tempo dela. Falar disso é retrocesso. É buscar uma escola que não se pretende mais. Já passamos dessa época ­ argumenta a presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Clélia Brandão Alvarenga. ­ Seria importante que os conselhos de educação se aproximassem do Legislativo nessa discussão para evitar um currículo tão fragmentado ­ defende Célia.