O globo, n.31894, 02/12/2020. Economia, p. 22
Se nada for feito, há risco de apagão, diz Bolsonaro
02/12/2020
O presidente Jair Bolsonaro defendeu ontem a decisão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de retomar a bandeira vermelha nível dois, o que significa aumento da conta de luz. A taxa extra nas contas deste mês será de R$ 6,24 a cada cem quilowatts-hora consumidos. Segundo o presidente, os reservatórios das hidrelétricas estão em “níveis baixíssimos” e, se nada fosse feito, haveria risco de apagão.
O presidente respondeu a críticas em redes sociais. Um internauta escreveu: “A conta de luz vai aumentar. Obrigado PR”.
Bolsonaro então publicou mensagem na qual se mostra a favor também de uma campanha contra o desperdício de energia:
“As represas estão (com) níveis baixíssimos. Se nada fizermos, poderemos ter apagões. O período de chuvas, que deveria começar em outubro, ainda não veio. Iniciamos também campanha contra o desperdício”.
IPCA DE ATÉ 4,3% NO ANO
Coma cobrança extra, alguns analistas já revisam suas projeções para a inflação deste ano. O Itaú Unibanco prevê que o IPCA fique em 4,3% este ano, ante previsão anterior de 3,75%. Caso a projeção se confirme,o indicador ficará acima do centro da metade 4% para a inflação este ano, mas dentro da margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. A gestora de recursos Genial prevê inflação em 4,28% no fechamento do ano após abandeira vermelha.
A adoção da bandeira vermelha ocorre todas as vezes que o nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas está muito baixo. Isso obriga o governo a acionar usinas termelétricas, que têm custo mais alto, o que é repassado ao consumidor. Em maio, porém, a Aneel tinha anunciado que não haveria cobrança de taxa extra até o fim do ano em razão da pandemia.
Segundo especialistas, embora o nível dos reservatórios de fato esteja baixo, não há sinais de um apagão adiante. De acordo com dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), no sistema Sudeste e Centro-Oeste, o nível dos reservatórios está em 17,74%. É similar ao de igual mês do ano passado, quando era de 18,86%. Na Região Sul está mais baixo do que em novembro de 2019: passou de 35,75% para 18,25% este ano. No Nordeste, a situação é mais confortável, 52,18%.
—Se não chover o suficiente, o país tem muita termelétrica para funcionar. Além disso, a demanda por energia está relativamente baixa por causa da pandemia. Não vejo perigo de apagão nem de outro problema maior no abastecimento — disse Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ, lembrando que o período de chuvas começa em novembro e vai até abril.
Para Juliana Hornink, coordenadora de Gestão de Clientes e Inteligência de Mercado da Safira Energia, a decisão da Aneel foi correta diante do nível baixo dos reservatórios, mas ela ressalta que o sistema está menos sujeito a apagões do que nos anos 2000.
— Hoje o sistema tem termelétricas, eólicas e solares. É mais difícil acontecer um apagão por causa da robustez que fomos alcançando ao longo dos anos. Mas vai pesar no bolso do consumidor — disse.
Juliana lembra que outubro foi o pior período no Sudeste em chuvas para geração de energia nos últimos 90 anos e novembro, o segundo pior.
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Consumidor vai pagar R$ 19,8 bi em subsídios na conta em 2021
Manoel Ventura
02/12/2020
Os consumidores de todo o país devem pagar R$ 19,8 bilhões em subsídios nas contas de luz em 2021. O valor representa redução de 1% na comparação com o total pago este ano. Os números foram apresentados ontem pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
O dinheiro será usado para bancar ações e programas sociais do governo no setor elétrico e é um dos principais fatores que afetamo aumento das tarifas. Os valores ainda podem ser alterados até o início do próximo ano, porque o orçamento dos subsídios do setor ainda passará por consulta pública por 40 dias.
A definição da tarifa que chega para o consumidor leva em conta, além dos subsídios, fatores como preço de energia, volume das chuvas e impostos estaduais. O reajuste de cada distribuidora é definido anualmente.
Os números fazem parte do orçamento da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), principal fundo do setor. A CDE é paga por todos os consumidores por meio das contas de luz.
Os recursos da CDE são usados em ações como subsídio à tarifa para famílias de baixa renda, compra de combustível para gerar energia em regiões isoladas do país e o programa Luz Para Todos. Parte do dinheiro vai para sistemas de irrigação e empresas de saneamento. A conta serve ainda para incentivar usinas eólicas e solares.
A maior par tedo orçamentoda CD E será destina dopara bancar descontos na distribuição de energia que beneficiarão atividades como irrigação e aquicultura, serviços público de água, esgoto e saneamento, e consumidores rurais. Nesse caso, o pagamento será de R$ 8,1 bilhões.
Os gastos para bancar a geração de energia em regiões isoladas subirão 5% em relação a 2019 e irão atingir R$ 7,8 bilhões em 2020. Nessas regiões, como no estado de Roraima, o suprimento de energia é feito por meio de termelétricas, geralmente a óleo, que são mais caras. A conta é repartida com consumidores de todo o país.
Os descontos da tarifa social, concedido para a baixa renda, irão custar R$ 3,4 bilhões em 2020, alta de 34% em relação a este ano.