Valor econômico, v. 21, n. 5159, 04/01/2021. Brasil, p. A5

 

Saúde, economia e desigualdade são desafios de Covas

Carolina Freitas

Cristiane Agostine

04/01/2021

 

 

Tucano tentará deixar marca pessoal na prefeitura
Bruno Covas, de 40 anos, assume seu segundo mandato à frente da Prefeitura de São Paulo com o desafio de lidar com outras facetas da pandemia que assola o mundo desde o ano passado. Se em 2020 o político do PSDB teve de priorizar medidas para conter o avanço da doença e para atender na rede de saúde os infectados, agora se somam a essas tarefas as consequências econômicas e sociais da pandemia na maior cidade da América Latina.

A urgência da pauta econômica fez com que Covas dissesse em seu discurso de posse, na sexta-feira, que a prefeitura está pronta para começar a vacinação em massa da população e que estuda estender por mais tempo a renda básica municipal oferecida no ano passado de forma emergencial aos paulistanos mais pobres e sem trabalho. A pandemia matou 15,5 mil pessoas em São Paulo e paralisou atividades de comércio, serviços e eventos, áreas que sustentam a economia da cidade.
“A prefeitura estuda abrir espaço no orçamento deste ano para estender a concessão da Renda Básica Emergencial e assegurar o pagamento de um valor mínimo para garantir a sobrevivência de 1,2 milhão de pessoas na cidade”, disse o tucano na posse. Dados do governo federal mostram que há 33,2 mil famílias sem-teto na capital.
“Uma crise econômica sem precedentes, que se segue a uma década perdida muito mais severa do que aquela que, nos anos 80, ficara marcada por esse epíteto. Uma crise social na qual a pandemia ampliou o já vexatório fosso que separa ricos e pobres”, disse o tucano.
Outra faceta da crise do coronavírus que vai se impor à gestão Bruno Covas será a educação. Com o ano letivo passado praticamente perdido na rede pública da cidade, pela proibição das aulas presenciais como forma de tentar conter a pandemia, o prefeito tem de decidir agora como conduzir a retomada nesse setor de forma segura. Também em sua fala na posse, Covas afirmou que terá como “missão imediata” a volta às atividades presenciais nas escolas. Quase meio milhão de alunos estão matriculados na rede pública municipal.
A educação é um dos eixos centrais do programa de governo apresentando por Covas na disputa pela prefeitura no ano passado. Ela compõe uma tríade completada por mobilidade e meio ambiente. Esses dois últimos eixos dialogam com a revisão do Plano Diretor de São Paulo, que acontece neste ano. Ao tomar posse, Covas relacionou a pandemia à economia predatória. “A maior crise sanitária desse século é na verdade uma crise de natureza ambiental. É reflexo direto do nosso comportamento predatório. Em São Paulo, vamos ampliar nossa contribuição e ampliar nosso compromisso com o desenvolvimento sustentado”, disse o prefeito, que afirmou que “emprego” será o “mantra” dessa gestão.
Na Câmara Municipal, por onde tramita a revisão do Plano Diretor, o prefeito segue com ampla maioria, mas a oposição será mais forte neste mandato, depois que a bancada do Psol triplicou, de dois vereadores para seis. Junto com os oito parlamentares eleitos pelo PT, os opositores terão um quarto das 55 cadeiras do Legislativo municipal.
A atual legislatura será mais diversificada, com a presença maior de mulheres e negros. Pela primeira vez, terá dois mandatos coletivos, ligados às bandeiras feminista e antirracista, e dois transexuais.
Covas contará na presidência da Câmara com a fidelidade do vereador Milton Leite (DEM), eleito na sexta por seus pares. Um dos vereadores mais influentes na gestão do tucano, Leite presidiu a Casa no início do governo João Doria/ Bruno Covas.
No mandato anterior, o prefeito manteve em sua base cerca de 60% dos vereadores. O tucano foi eleito em uma coligação com onze partidos e ganhou o apoio de mais cinco legendas durante a campanha eleitoral. Além de contar com Milton Leite para negociar votações, Covas terá o respaldo de seu vice, Ricardo Nunes (MDB), que era vereador na legislatura passada. Milton Leite está na Câmara Municipal desde 1997 e já foi reeleito seis vezes desde então.
Bruno Covas terá ainda diante de si o desafio de tentar deixar uma marca pessoal na prefeitura. Ele foi eleito como vice em 2016 na chapa encabeçada por João Doria (PSDB) e assumiu o governo um ano e três meses depois que o então prefeito deixou o cargo para concorrer ao governo paulista.
A entrega de uma das principais obras de seu governo, a revitalização do Vale do Anhangabaú, ao custo de R$ 100 milhões, foi alvo de fortes críticas durante a campanha eleitoral e, por isso, foi pouco exibida pelo prefeito. Na área de mobilidade urbana, não conseguiu entregar 9,4 quilômetros de corredores de ônibus prometidos (fez 3,2% do previsto). Em habitação, não entregou as 21 mil unidades habitacionais previstas - forma construídas 10 mil. O prefeito foi criticado também por mudar regras do Bilhete Único, principalmente no vale-transporte, ao reduzir pela metade a possibilidade de integrações.
No discurso de posse, Covas disse ter aprendido ao ouvir os adversários e fez uma promessa voltada para a área de moradia. O adversário do tucano no segundo turno era o líder do Movimentos dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) Guilherme Boulos. “Até 2024, concluiremos a execução do mais ousado plano de construção de casas e apartamentos que a cidade já viu”, disse Covas no discurso de posse.
O tucano planeja um pacote de obras estimado em cerca de R$ 18 bilhões, com investimentos em mobilidade, com a promessa de 93 quilômetros de corredores de ônibus e 50 km de faixas exclusivas, e a construção de 15 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).