Título: Dólar: maior desvalorização em um dia desde 2002
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Fonte: Jornal do Brasil, 20/09/2008, Economia, p. A17
Mesmo com queda de 4,7%, moeda fecha semana em alta de 2,7%.
A venda de dólares pelo Banco Central devolveu o mercado à normalidade ontem, permitindo que a moeda americana acompanhasse a euforia internacional com um plano dos Estados Unidos contra a crise financeira. O dólar caiu 4,74%, para R$ 1,831. Foi a maior queda percentual diária desde 1º de agosto de 2002. Apesar do tombo, a divisa ainda terminou a semana com alta de 2,75% na quinta-feira, o dólar chegou a ser cotado a R$ 1,96. Segundo operadores, a disparada do dólar havia ocorrido pela escassez de crédito em moeda estrangeira após dias de incerteza no exterior e de especulação contra o real na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Os leilões de venda de dólares com compromisso de recompra, artifício que não é utilizado pela autoridade econômica desde fevereiro de 2003, ajudaram a restaurar a liquidez. Foram feitos dois leilões ontem. No primeiro, entre 11h30 e 12h, o Banco Central vendeu US$ 200 milhões de uma oferta total de US$ 500 milhões, com compromisso de recompra em 30 dias corridos. No segundo, entre 15h e 15h30, foram vendidos os US$ 300 milhões restantes. Menos pressionado, o mercado pôde prestar atenção às notícias do exterior. O mercado de câmbio está refletindo a melhora do cenário externo disse Gerson de Nobrega, gerente da tesouraria do Banco Alfa de Investimento. Em outros países emergentes, como México e África do Sul, as moedas locais também saltaram frente ao dólar. Mas a reação no Brasil foi mais forte que em outros lugares. A BM&F chegou a ampliar o limite de variação do dólar futuro depois que a cotação do contrato para outubro atingiu o piso definido no início do dia.
Cautela
Até quinta-feira, os estrangeiros exibiam quase US$ 7 bilhões em posições compradas em derivativos cambiais, o que equivale a uma aposta na alta do dólar diante do real. O sentimento, no entanto, é de cautela para a próxima semana. Apesar de ver espaço para uma queda maior do dólar, Roberto Padovani, estrategista sênior de investimentos para a América Latina do banco WestLB do Brasil, avalia que a taxa de câmbio ainda "vai ter um prêmio de incerteza". O economista Francisco Pessoa, da LCA Consultores, avalia que o BC adotou uma postura arriscada ao relançar os leilões de câmbio com compromisso de recompra. O risco seria vender e a cotação do dólar não cair explica. Felizmente, talvez agregado ao fato de todos os mercados terem reagido bem ao pacote do governo dos Estados Unidos, a medida foi positiva. Ele avalia, ainda, que a forte recuperação das bolsas internacionais depois de anunciado pacote americano é também um sinal de que as turbulências do mercado financeiro ainda não acabaram. Isso demonstra que o mercado está volátil, que ainda estamos no meio da tempestade disse. Em Brasília, a assessoria do BC divulgou uma nota à imprensa antes do leilão de câmbio, destacando que "em função da restrição de liquidez observada nos mercados financeiros internacionais, o Banco Central do Brasil decidiu efetuar leilão de venda de câmbio pronto conjugado com compra para entrega futura de moeda estrangeira no mercado interbancário. A decisão é de caráter temporário e não tem como objetivo influir na taxa de câmbio. O Banco Central reafirma que não existe meta para a taxa cambial, seja com fixação de tetos ou pisos".