Título: Bolsas têm dia de altas recordes
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Fonte: Jornal do Brasil, 20/09/2008, Economia, p. A17
Ação do governo americano agradou mercados e Bovespa fecha com ganho recorde de 9,57%
O mercado recebeu com euforia a confirmação do Tesouro dos EUA de que vai usar, se necessário, "centenas de bilhões de dólares" para deter desdobramentos ainda piores da crise dos créditos subprime, e a reação foi imediata: grande valorização das bolsas pelo mundo e queda vertiginosa da cotação do dólar, além da alta de quase 7% na cotação do barril de petróleo, mudando o panorama delineado na que foi chamada de "semana maldita". Acompanhando o entusiasmo nas bolsas internacionais, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve sua maior valorização num só dia desde janeiro de 1999, quase anulando as perdas do mês. O câmbio despencou mais de 5%. Não acredito que tenha sido uma reação exacerbada (do mercado). Quando os grandes players internacionais saíram da Bolsa, algumas ações líderes ficaram muito baratas. E quando a Bolsa de Londres sobe 8,8%, a de Paris, 9,3%, é até natural a gente subir quase 10% avalia Romeu Vidali, gerente da Corretora Concórdia, no Rio. E hoje, os EUA mostraram uma atitude concreta para resolver uma crise que estava travando mercado no mundo todo justifica ele. O Ibovespa avançou 9,57% no fechamento e atingiu os 53.055 pontos. O giro financeiro foi de R$ 7,67 bilhões, ante uma média de R$ 5 bilhões/dia deste ano. Mas, mesmo com ganhos de ontem, a bolsa ainda amarga perdas de 4,7% no mês. No ano, a baixa é de 16,95%. Com a variação de ontem, o índice acumulou alta de 1,2% numa semana aberta sob o signo do pânico, com o colapso do Lehman Brothers e ao socorro à seguradora AIG, e que terminou com uma euforia nunca vista nos últimos cinco anos de valorização consecutiva do mercado. Os investidores voltaram às compras focando principalmente nas chamadas blue-chips, as ações líderes do mercado acionário: a ação preferencial da Petrobras disparou 8,63%, girando sozinha R$ 1,2 bilhão. A ordinária valorizou 9,10%. A ação preferencial da Vale do Rio Doce, outro papel influente da Bolsa, teve alta de 6,47%. O dólar comercial foi cotado a R$ 1,831 na venda, em declínio de 5,12%. A taxa de risco-país recuou quase 15%, para os 278 pontos. Foi um somatório de boas notícias. Ontem, aquela iniciativa dos seis bancos centrais trouxe bastante otimismo para o mercado. Hoje (ontem), teve o leilão do Banco Central comenta Cristiano Zanuzo, diretor de câmbio da Corretora Renova. A Bolsa de Nova York, referência do mercado de ações, teve ganho de 3,35%, enquanto a Bolsa eletrônica Nasdaq ascendeu 3,40%. Em Londres, o pregão subiu 9,32%; em Paris, a alta foi de 9,27%. O índice do mercado alemão Dax teve acréscimo de 5,56%. Ontem, o secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, disse que o governo gastará "centenas de bilhões de dólares" para enfrentar a crise. E afirmou aumentará a intervenção no mercado imobiliário, considerado a raiz dos problemas financeiros dos EUA. A proteção ao contribuinte será a estabilidade que esse programa dará ao sistema financeiro, mesmo com o um investimento significativo de dólares dos americanos disse o secretário. Ele disse que trabalhará no fim de semana com líderes do Congresso para chegar a acordo sobre o plano, "que precisa ser grande para chegar ao centro do problema." Uma das medidas mais prováveis é a criação de um fundo para absorver os créditos mais problemáticos gerados ao longo da crise. Analistas aprovaram a intenção do governo americano, qualificada de "atitude prática" para enfrentar a crise que ameaçava as economias centrais, com repercussões sobre as economias emergentes. Também como reflexo da concretização da ajuda às empresas em crise, o preço do petróleo fechou em alta expressiva ontem. Os investidores voltaram ao mercado depois de anunciado o pacote para impedir novas quebras. O barril do petróleo cru para entrega em outubro, negociado na Bolsa Mercantil de Nova York, fechou o dia a US$ 104,55 (alta de 6,81%).