Valor econômico, v. 21, n. 5159, 04/01/2021. Política, p. A7

 

Prefeito de Belém propõe renda mínima

Daniela Chiaretti

04/01/2021

 


Edmilson Rodrigues é o único gestor do Psol em capitais
Em seu primeiro ato como prefeito de Belém o arquiteto e professor universitário Edmilson Rodrigues (Psol), 63 anos, enviou um projeto de lei que garante renda mínima de até R$ 450 aos mais vulneráveis. Belém é uma das capitais mais carentes do país, com grande periferia, inundações constantes e sistema de saneamento ruim. Com a medida, o único prefeito do Psol eleito em uma capital, adianta-se às maiores dificuldades sanitárias e socioeconômicas que a pandemia promete para 2021.
“Belém é uma cidade de periferia, pobre, de uma região tão cobiçada pelos poderosos do mundo mas tão periférica em relação às decisões do centro do país”, disse Edmilson Rodrigues em seu discurso de posse na Câmara dos Vereadores, na sexta-feira.
Pediu regime de urgência aos vereadores para sua proposta, o “Bora Belém”, que complementa programas de transferência de renda como o Bolsa Família. O projeto foi desenhado para dar “dignidade aos que vivem em situação de absoluta vulnerabilidade social” e será implementado em cooperação com o governo do Estado, anunciou “Ed”, como é conhecido em Blém o político que administrou a cidade duas vezes, entre 1997 e 2004, pelo PT.

No primeiro trimestre de 2020 eram mais de 100 mil desempregados em Belém, a segunda capital com maior número de pessoas sem emprego formal entre os estados do Norte. Um terço da população recebeu auxílio-emergencial - 500 mil pessoas de um total de 1,5 milhão de habitantes. Mais de 120 mil famílias recebem o Bolsa Família, com benefício médio de R$ 190.
Em seu discurso de posse, Edmilson Rodrigues lembrou que na cidade “70% do povo tem salários aviltantes, que não alcançam dois salários mínimos. São milhares de pessoas em situação de pobreza e miséria. Temos que tratar, neste momento, de quem não tem um prato de comida. Nossos desafios são enormes”.
Edmilson disse ter negociado recursos para a proposta com o governador Helder Barbalho, do MDB. “Seria um grande presente para a cidade se puder ser aprovada antes do aniversário de 455 anos de Belém, no dia 12”, seguiu.
Belém coleciona índices ruins de desenvolvimento. Está entre as capitais mais violentas do país. Acredita-se que os votos do adversário de Edmilson no segundo turno, o outsider da política Delegado Federal Eguchi, do Patriota, vieram da promessa de fortalecer a segurança da capital paraense. Eguchi capitalizava o voto bolsonarista.
O enfrentamento da pandemia foi outro ponto forte do discurso. Chove todos os dias na capital paraense, que está com os canais assoreados. As “baixadas”, como os belenenses denominam as favelas, sofrem com inundações cada vez piores agravadas pelas marés mais fortes. Este cenário piora as condições sanitárias da população. O prefeito prometeu limpar os canais e fazer obras. “A enchente maltrata o nosso povo. Não tem ideologia, assim como o coronavírus, que ataca ricos e pobres”, disse.

Anunciou que seus secretários já estão se reunindo com o governo do Estado e citou convênio com universidades para ampliar o número de UTIs e leitos e iniciar a vacinação. “Em qualquer bairro haverá servidor municipal para, em parceria com servidores do Estado, realizarmos as vacinações assim que as vacinas forem liberadas pelo programa de imunização que o governo federal prometeu implantar”, prometeu.

O prefeito do Psol mencionou os quase 200 mil brasileiros que morreram vítimas da covid-19, sendo 10 mil mortos no Pará.
Edmilson Rodrigues conhece a situação de pobreza de Belém e o quadro de desigualdade, e sabe que a pandemia irá piorar o que já está ruim. O PIB per capita de Belém é o menor entre as capitais. Neste quesito, Belém é a capital mais pobre do país.
“Sei que não será fácil, a situação financeira de Belém não é das melhores”, continuou. Segundo ele, a cidade tem dívidas de mais de R$ 1 bilhão, com compromissos de curto e médio prazos. Em 2021, disse, terão que ser pagos quase R$ 200 milhões referentes a dívidas.
Antes de passar a faixa a Edmilson, o ex-prefeito Zenaldo Coutinho (PSDB) disse que conseguiu garantir a manutenção de operações de crédito de R$ 820 milhões “para que o novo governo possa avançar na construção de obras necessárias à cidade”. Disse ainda ter deixado um superávit de caixa de R$ 24 milhões para o início da nova gestão.
Eleito por uma frente ampla de esquerda, Edmilson não mencionou o governo de Jair Bolsonaro. A menção ao autoritarismo foi lateral. “Tinha 6 anos quando foi implantada no país a ditadura militar. Minha infância, adolescência e grande parte da minha juventude foi consumida por dias em que não tínhamos sequer o direito de eleger prefeito da capital. 
 É importante que se lembre disso”, mencionou, dizendo que jovens que defendem a ditadura não conhecem este período, assim como pessoas distantes da vida política.

“Farei de Belém uma cidade mais justa socialmente, mais equilibrada ecologicamente e mais democrática”, prometeu. Segundo ele, sua eleição sinaliza o desejo dos eleitores “por uma cidade que respeite os diferentes e combata as desigualdades”