Valor econômico, v. 21, n. 5159, 04/01/2021. Política, p. A7

 

Prefeito de Manaus discursa como pastor em posse

Maria Luíza Filgueiras

04/01/2021

 

 

David Almeida (Avante) toma posse e Justiça amazonense impõe fechamento econômico por 15 dias em razão do agravamento da pandemia de Covid-19
Em cerca de uma hora de discurso de posse na Câmara Municipal de Manaus, o prefeito David Almeida (Avante) falou aos vereadores eleitos sobre um governo “independente mas harmônico” entre os Poderes e também fez referência às demandas da população mais carente da cidade, citando sua infância na periferia. Evangélico, Almeida discursa como pastor, cita Deus e a bíblia com frequência, e fez um louvor ao fim do discurso.

Na gestão pública, Almeida disse que o grande problema da cidade e do Estado não é a receita, mas a despesa e disse que “não haverá desperdício de dinheiro público com coisas supérfluas”, ainda tendo em visto o corte orçamentário já aprovado pela Câmara.
“Temos um desafio grande na prefeitura. Vamos receber a cidade com um orçamento R$ 600 milhões menor pra 2021 do que orçamento executado em 2019. Seremos implacáveis com desperdício e vamos fazer mais com menos”, disse. “Eu e o Rotta [vice-prefeito, do DEM] seremos implacáveis com nossos inimigos, que são o mau serviço público, a falta de atendimento na saúde, na educação, o transporte coletivo ineficiente.”

Almeida entrou na política há 24 anos, “por acaso”, como define. Estava desempregado e, em após um culto da igreja que frequenta, surgiu a oportunidade de ser cabo eleitoral. Entregou santinho na rua e segurou bandeiras no semáforo. “Como alguém que veio de uma comunidade, que não tem parentes ricos e importantes nessa cidade, eu estava diante de uma situação de sobrevivência”, disse.

Como fez ao longo da campanha, Almeida citou os “caciques” da política manauara, fazendo referência a políticos locais de carreiras longevas e famílias renomadas na região, mas sem citar nomes, e falou da importância da política feita “por quem também anda de ônibus”. “O povo espera muito de nós e também desconfia muito. Convido os vereadores para, de forma harmônica e respeitando a independência dos poderes, resgatarmos a credibilidade da política e dos políticos”, disse aos 41 vereadores eleitos.
Almeida assume a cidade em uma semana em que houve forte piora dos casos de internação e morte de covid-19. Ele pediu um minuto de aplausos em memória das vítimas e falou sobre a mãe, que morreu em decorrência do vírus um dia antes do segundo turno - mas não citou planejamento ou estratégica específica para a cidade no combate à doença.
A cerimônia, que costuma acontecer no Teatro Amazonas, ocorreu este ano no Plenário Adriano Jorge da Câmara Municipal de Manaus, devido às recomendações das autoridades sanitárias para evitar a aglomeração e proliferação do coronavírus. Uma decisão judicial pelo fechamento de atividades econômicas por 15 dias foi proferida neste sábado, atendendo pedido do Ministério Público do Trabalho (MPT), Ministério Público do Estado (MPE), Defensoria Pública da União (DPU) e Defensoria Pública do Estado (DPE).

Na capital, o número diário de internações por covid-19 atingiu recorde na última semana do ano. A mãe de Almeida morreu em decorrência da covid-19, na véspera do segundo turno. Na disputa para prefeitura, ele foi eleito com 51,27% dos votos no segundo turno - uma virada nos resultados do primeiro turno, quando Amazonino Mendes, do Podemos, apontava para o primeiro lugar, buscando a reeleição