O globo, n.31895, 03/12/2020. País, p. 12
Adeus pós-eleição: prefeitos eleitos abandonam redes sociais
Rayanderson Guerra
03/12/2020
Protagonistas de uma campanha eleitoral mais curta e com restrições impostas pela pandemia, as redes sociais foram abandonadas logo após o resultado das urnas por um terço dos prefeitos eleitos no Estado do Rio. Levantamento do GLOBO mostra que 27 dos 92 mandatários fizeram a última postagem logo após o primeiro turno, há quase três semanas, ou reduziram drasticamente a frequência de publicação.
É o caso dos escolhidos para administrar Arraial do Cabo, Nova Friburgo, Rio das Ostras e Vassouras — todos usaram as redes sociais apenas no período eleitoral. O prefeito eleito de Rio das Flores, Vicente Guedes (DEM), manteve uma média em torno de quatro postagens diárias no Facebook durante a campanha. Passado o pleito, em que foi eleito com 75,35% dos votos válidos no primeiro turno, Guedes publicou um vídeo de agradecimento ao eleitorado e, desde então, não retornou à rede social.
Também foi notado o “sumiço” repentino dos prefeitos eleitos Gean Marcos (MDB), de São José de Ubá; Marcelino da Farmácia (PV), em Rio das Ostras; e Clovinho Tostes (Solidariedade), em Itaguaí.
Nas capitais, a participação nas redes sociais é mais frequente. Dos 25 eleitos, apenas dois não costumam usar as plataformas diariamente fora do período eleitoral. Um deles é o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), reeleito em primeiro turno com 63,36% dos votos válidos. Ele não teve uma atuação diária, ou mesmo esporádica, nas redes durante o primeiro mandato. Já na campanha, a página de Kalil foi alimentada com posts sobre agendas, entrevistas e propostas para a cidade. Desde a data da votação, ele replicou apenas o vídeo da entrevista ao “Roda Viva”, da TV Cultura.
O especialista em marketing político Marco Iten vê um “desinteresse” por parte dos políticos na manutenção de uma relação direta com o eleitorado fora da campanha.
—Muitos não se interessam pela aproximação com o eleitor. Em outros casos, quando contratam assessor ou empresa de mídia, os contratos são rompidos logo após a eleição. Essa interrupção reforça o distanciamento com o público das redes sociais. Daqui a dois ou quatro anos, quando o político decidir entrar em uma nova disputa, o esforço será redobrado para engajar nas redes. Não há uma construção de imagem, como é feito nas empresas e marcas, que estão diariamente gerando conteúdo.
No panorama nacional, candidatos gastaram R$ 36 milhões com impulsionamento de publicações nas redes sociais. O Facebook, que forneceu o serviço para 4.668 campanhas, faturou R$ 31,7 milhões.