O globo, n.31895, 03/12/2020. Sociedade, p. 18

 

Anvisa muda regras para aprovar vacina emergencial

Paula Ferreira 

03/12/2020

 

 

Agência anunciou mudanças de seus regulamentos para aceitar pedidos de uso emergencial de vacinas contra a Covid, mesmo que ainda não tenham registro no órgão. A decisão será da Diretoria Colegiada da Anvisa, e o imunizante só poderá ser usado em programas públicos de vacinação previamente definidos e temporários. Para comercialização, a vacina precisará de registro.

No dia em que o Reino Unido aprovou a primeira vacina contra a Covid-19, desenvolvida pelas farmacêuticas Pfizer e BioNTech, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou uma mudança em seus regulamentos para aceitar pedidos de autorização de uso emergencial de imunizantes contra o novo coronavírus mesmo que essas fórmulas ainda não tenham registro. A informação foi antecipada pelo GLOBO e confirmada no fim do dia pela agência.

A decisão sobre o uso emergencial será tomada pela Diretoria Colegiada do órgão e as análises serão feitas caso a caso. Segundo a Anvisa, a autorização será restrita para aplicação em público previamente definido e será temporária. A agência destaca ainda que isso não exclui a necessidade de registro, no entanto, para o eventual imunizante ser comercializado no Brasil.

— Essas vacinas não poderão ser comercializadas, então só poderão ser utilizadas no que chamamos de uso institucional — explicou o gerente-geral de medicamentos da Anvisa, Gustavo Mendes. — Só poderão ser destinadas a programas de governo para que se possa ter um controle e para que esteja claro que isso não é um registro, é uma autorização com uso emergencial com foco muito específico.

Foi divulgado um guia com orientações para as empresas que quiserem submeter o pedido. O guia só valerá durante o período de emergência em saúde pública, ou seja, até 31 de dezembro.

De acordo com a Anvisa, as empresas interessadas em solicitar o uso emergencial deverão ter Autorização de Funcionamento de Empresa (AFE) emitida pela Anvisa, com atividade de fabricar ou importar medicamento. O ensaio clínico conduzido pela empresa também tem que estar em desenvolvimento no Brasil.

RELATÓRIO NECESSÁRIO

O pedido deve vir acompanhado de um dossiê de desenvolvimento clínico de medicamento, que tenha passado pelo crivo da Anvisa. A desenvolvedora terá que anexar relatórios de dados disponíveis sobre a segurança e a eficácia do imunizante. Somado aos dados, a empresa deve fornecer um relatório que mostre a relação “benefício-risco” na utilização emergencial da vacina e, segundo a agência, os benefícios da vacina devem superar seus riscos “de forma clara e convincente”. A desenvolvedora também deve apresentar um plano de monitoramento para detecção de eventos adversos tardios.

A agência explica ainda que a empresa requerente ao uso emergencial deve se comprometer a concluir o desenvolvimento vacinal e solicitar o registro do imunizante.

“A Anvisa não considera que a disponibilidade de uma vacina Covid-19 por meio da autorização para o uso emergencial e temporário, por si só, é fundamento e justificativa para interromper o acompanhamento em um ensaio clínico em andamento. Um pedido de autorização de uso emergencial para a Anvisa deve incluir estratégias que serão implementadas pela requerente de forma a garantir que os ensaios clínicos em andamento da vacina sejam capazes de avaliar a segurança e eficácia a longo prazo”, diz o guia da Agência.

O gerente Gustavo Mendes declarou que não foi feito ainda nenhum pedido de uso emergencial da vacina à Anvisa. Ele ainda ressaltou que a autorização de emergência é temporária – portanto, não prevê possibilidade de uso irrestrito. Destacou ainda que diferente do registro, no caso da autorização emergencial é possível revogar a medida a qualquer tempo.

— Essa autorização emergencial implica a possibilidade da interrupção e retirada a qualquer momento, o que não acontece no registro. Uma vez que o registro é concedido, as empresas detentoras desse registro podem disponibilizar a vacina — afirmou ele.

De acordo com as regras estabelecidas, as empresas terão prazo de 24 horas para comunicar a Anvisa após qualquer evento adverso com essas vacinas. Além disso, os pacientes que decidirem se submeter à vacinação com imunizante experimental deverão assinar um termo de consentimento afirmando que reconhecem os riscos.

No rótulo do imunizante também deverá constar uma frase em destaque afirmando que se trata de uma vacina experimental.

ALINHAMENTO MUNDIAL

A decisão de inaugurar o modelo de autorização de uso emergencial foi tomada com o objetivo de alinhar a Anvisa ao que acontece em outras agências internacionais, como a americana FDA. Além disso, segundo Mendes, a iniciativa também pretende facilitar o acesso ao imunizante para grupos específicos.

— É importante esclarecer que o que a gente está colocando hoje como uma alternativa (…) de forma alguma representa uma barreira a mais para o acesso a vacinas. Pelo contrário. A ideia é deixar mais transparente, mais claro, quais são os pré-requisitos —disse Mendes. — O fato de ter uma vacina em fase experimental pode garantir o acesso mais rápido a populações específicas.

Antes de apresentar o pedido e os documentos para autorização emergencial, as empresas devem agendar uma reunião de “pré-solicitação” com a Anvisa como parte do trâmite. A Anvisa exigirá ainda detalhamento sobre questões operacionais como os equipamentos usados no armazenamento das doses. As farmacêuticas também precisam se comprometer a recolher os lotes caso haja determinação da Anvisa.

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Pazuello diz que Brasil trabalha com até três opções de imunizante 

Paula Ferreira 

Johanns Eller

03/12/2020

 

 

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou ontem em audiência na comissão mista do Congresso que acompanha ações do governo para o combate à Covid-19 que o Brasil trabalha com “no máximo” três opções de vacina contra a doença para a imunização da população. A declaração ocorreu poucas horas após o anúncio da aprovação do uso da vacina da Pfizer pelo Reino Unido.

Pazuello pareceu reforçar a mensagem transmitida pelo seu secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, na última terça-feira. Medeiros afirmou que imunizantes dependentes de armazenamento e transporte sob temperaturas muito baixas —caso da fórmula da Pfizer, que tem de ser transportada a -75°C — fogem do padrão ideal da pasta por limitações logísticas.

—São mui topou casas fabricantes que têm quantidade e um cronograma de entrega efetivo para o país. Quando chega no final das negociações evai para cronograma de entrega e fabricações, os números são pífios, se reduza uma, duas, três (companhias) —disse Pazuello.

O ministro da Saúde especulou que poderá adquirir doses da vacinada P fizer porme ioda Covax Facility, iniciativa liderada pela OMS com o objetivo de universalizar o desenvolvimento de imunizantes. A farmacêutica americana, no entanto, ainda não tem acordo firmado coma coalizão internacional.

R$ 2 BILHÕES PARA OXFORD

O governo federal já firmou acordo coma farmacêutica AstraZeneca, que desenvolve imunizante em parceria coma Universidade de Oxford, testado no Brasil pela Fio cruz. Ontem, a Câ marados Deputados aprovou crédito extraordinário de quase R$ 2 bilhões, que ainda precisa ser analisado pelo Senado, para garantira produção e disponibilização da vacina no país.

Esta foi a única vacina mencionada por Pazuello na audiência. O ministro previu 100 milhões de doses à disposição no Brasil no primeiro semestre de 2021, das quais 15 milhões entre janeiro e fevereiro, e a produção nacional de 160 milhões de doses no segundo.

Outra fórmula no horizonte brasileiro é a Coro na Vac, do laboratório chinês Sinovac, test adano país pelo Instituto Butantan, do governo de São Paulo. Apesar de o presidente Jair Bolsonaro ter vetado publicamente a sinalização da intenção de compra da Corona Vac pelo ministro Pazuello, o presidente sinalizou na semana passada que o governo comprará imunizantes aprovados pela Anvisa.

Há, ainda a fórmula desenvolvida pela farmacêutica americana Moderna, que já solicitou autorização para uso emergencial de seu produto aos Estados Unidos eà União Europeia. Embora o governo brasileiro não tenha fechado acordo coma companhia, a empresa integra a Covax.

Pazuello afirmou ainda que a validade dos testes para Covid-19 que o governo mantém estocados será estendida. O ministro explicou que os kits tinham validade “emergencial” quando foram adquiridos. Segundo ele, já estava previsto que o prazo seria alongado.

Na semana passada, o jornal O Estado de São Paulo revelou que o Ministério da Saúde armazena em São Paulo um estoque com 6,8 milhões detestes que podem perder validade nos próximos meses. O ministérioda Saúde informou que já requisitou a ampliação da validade para a Avisa.

LOCKDOWN DESCARTADO

O ministro também descartou a possibilidade de novas medidas de lockdown, usando como exemplo as eleições municipais recém encerradas:

— Esse vírus se propaga por aglomeração, por contato pessoal, por aerossóis, e nós tivemos a maior campanha democrática que podia ter no nosso país, queéa municipal, nos últimos dois meses—disse .— Se isso não trouxe nenhum tipo de incremento ou aumento em contaminação, não podemos falar mais em lockdown.