Valor econômico, v. 21, n. 5161, 06/01/2021. Política, p. A6

 

Acerto em Minas faz PSD apoiar Pacheco no Senado

Renan Truffi

Vandson Lima

06/01/2021

 

 

Parlamentar do DEM é apoiado por Davi Alcolumbre
Candidato de Davi Alcolumbre (DEM-AP), Rodrigo Pacheco (DEM-MG) deu um passo importante na corrida pela presidência do Senado. O parlamentar mineiro deverá conquistar o apoio oficial do PSD, partido do prefeito de Belo Horizonte (MG), Alexandre Kalil, e do ex-ministro Gilberto Kassab. Com isso, Pacheco largará com aproximadamente 16 votos de vantagem (11 do PSD e cinco do DEM) na disputa pelos 41 apoios necessários para a vitória. Em resposta, o MDB deve antecipar a escolha de seu candidato para a eleição interna.

A costura da aliança entre PSD e DEM passou pela bancada de Minas Gerais, mais precisamente por Alexandre Kalil. O prefeito da capital mineira foi reeleito no ano passado com altas taxas de popularidade e se tornou uma voz importante dentro da sigla. Pacheco e Kalil eram adversários, no entanto, desde 2018, quando disputaram a prefeitura da cidade. Por conta disso, foi necessário o aval de Kalil para o acordo entre as duas legendas.
Na presença do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, Pacheco e o prefeito se reuniram ontem em Belo Horizonte e selaram a aproximação. A aliança, entretanto, ainda depende de validação oficial da bancada do partido no Senado. A reunião entre os 11 senadores da sigla foi feita por videoconferência, na noite de ontem, mas não havia sido concluída até o fechamento desta edição. A expectativa era que houvesse até uma “ unanimidade”, segundo o líder do partido e o anúncio será hoje.
“O apoio do PSD passaria [necessariamente] por Minas Gerais”, explicou Otto Alencar, que também esteve em BH. “O PSD hoje tem na figura do senador Rodrigo Pacheco uma liderança dentro do Senado que merece nosso respeito pelo que ele tem desenvolvido. Acredito que teremos unanimidade dentro da possibilidade de apoiá-lo. Ele reúne todas as condições para ter um Senado que possa contribuir para o Brasil”, afirmou.

A aproximação entre Pacheco e o PSD contou com a ajuda dos senadores Carlos Viana (PSD-MG) e Antonio Anastasia (PSD-MG), ambos próximos de Alcolumbre. “Nós superamos todas as divergências políticas [do passado] em torno do principal objetivo que é trazer para Minas Gerais os investimentos e apoio necessário junto ao governo federal. Kalil caminha conosco nesse sentido. Ele entende que não é hora de olhar para passado. Pacheco e Kalil foram adversários no passado e deixamos isso numa página virada em busca de uma união para Minas", disse Carlos Viana após o encontro.

Kalil é pré-candidato ao governo de Minas Gerais em 2022. Deve entrar o atual governador, Romeu Zema (Novo).

Se Pacheco fizer um compromisso de não disputar as eleições ao governo de Minas Gerais em 2022, abrirá caminho para o prefeito de Belo Horizonte. O senador do DEM, contudo, disse que "não há compromisso nenhum nesse sentido“.
A aproximação entre PSD e DEM acendeu o sinal amarelo no MDB. Os emedebistas pretendiam escolher seu candidato somente no fim de janeiro, entre os dias 20 e 25 deste mês, mas agora cogitam antecipar o debate para a semana que vem. até o dia 15. Ao todo, o MDB tem quatro pré-candidatos: o líder da bancada Eduardo Braga (MDB-AM), o líder do governo no Senado Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), o líder do governo na Câmara Eduardo Gomes (MDB-TO) e a presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Simone Tebet (MDB-MS). Ao contrário de Pacheco, cada um deles está buscando votos individualmente.
Diante disso, integrantes do MDB discutem a necessidade de o partido ter, mais rapidamente, um nome para o pleito. Por outro lado, a sigla continua negociando a filiação de outros dois nomes para a bancada: Veneziano Vital do Rego (ex-PSB) e Rose de Freitas (ex-Podemos). A expectativa é que os dois senadores anunciem filiação ao partido ainda esta semana. Com isso, o MDB passaria a ter 15 senadores e se consolidaria como a maior agremiação do Senado.

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Cenário alagoano leva Renan a trabalhar por Baleia

Vandson Lima

Marcelo Ribeiro

06/01/2021

 

 

Arthur Lira e senador alagoano são rivais regionais
Presidente do Senado por quatro vezes, Renan Calheiros (MDB-AL) tem trabalhado em favor da candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) à presidência da Câmara dos Deputados. Mas não apenas por querer ajudar o colega de partido: a derrota de Arthur Lira (PP-AL) é fundamental para os planos políticos do clã Calheiros em Alagoas.
Lira, cuja candidatura tem o aval do Palácio do Planalto, é adversário no Estado de Renan e do governador Renan Filho (MDB), primogênito do senador e que está no meio de um bem sucedido segundo mandato. Se eleito presidente da Câmara, Lira terá enorme força para distribuir emendas e influenciar políticos locais, o que o torna forte para fazer frente em 2022, seja sendo candidato ao governo ou apoiando um outro postulante.
Um cenário que não interessa aos Calheiros, que ainda não tem um nome claro à sucessão de Renan Filho e acabaram de passar por dois revezes na eleição municipal: além da derrota do candidato do MDB, Alfredo Gaspar, em Maceió, o vice-governador Luciano Barbosa resolveu sair à revelia candidato em Arapiraca, segunda maior cidade do Estado.
O MDB tentou melar a candidatura, mas o resultado foi pior. Barbosa conseguiu autorização na Justiça e faturou a prefeitura com 55% dos votos. Ao melhor estilo MDB da velha guarda, o partido resolveu retirar as ações contra o prefeito eleito e buscar a reconciliação.

Renan, o pai, tem atuado para convencer os deputados federais alagoanos, de partidos diversos, a não apoiar o conterrâneo Lira, segundo fontes. O Valor consultou Renan, que desconversou. “Meu poder é muito limitado”, disse. Questionado sobre o cenário político de Alagoas, o senador afirmou não ter dúvida de que Renan Filho fechará os oito anos de mandato com a popularidade nas alturas. “O governo tem R$ 5 bilhões para investimentos nos próximos dois anos. É algo que nunca se viu na história de Alagoas e, proporcionalmente, é algo incomparável com a situação do resto do Brasil”, propagandeou. A ideia, claro, é transformar o Estado num canteiro de obras até a eleição e garantir a eleição do sucessor.
Sobre Renan Filho, ele pode ser candidato ao Senado - o que levaria a Casa a ter dois Calheiros, pai e filho, a partir de 2023. Algo insólito, mas não inédito: Kátia Abreu (PDT) e Irajá (PSD), mãe e filho, são senadores por Tocantins.

Renan Filho pode ainda concluir o mandato e tentar se cacifar para ocupar uma posição em um próximo governo - caso Jair Bolsonaro não seja reeleito.

Entra aí um outro trunfo de Renan: a eleição de Isnaldo Bulhões Júnior (AL) como líder da bancada de 34 deputados do MDB na Câmara. Ele é forte aliado de Renan e essa dobradinha foi determinante para que Isnaldo, mesmo estreando na Câmara em 2019, fosse eleito como suplente da Mesa-Diretora da Casa.
Segundo aliados, Isnaldo tem a confiança de Baleia e, apesar do padrinho poderoso, teve mérito próprio ao escalar para o comando da bancada, mostrando-se um articulador hábil com parlamentares do Nordeste, por exemplo.

No jogo amarrado entre a eleição da Câmara e os reflexos na política alagoana, se bem sucedido na missão de ajudar a derrotar Lira, Isnaldo despontaria como um candidato ao governo em 2022, com as bênçãos dos Calheiros.