Valor econômico, v. 21, n. 5161, 06/01/2021. Mundo, p. A7

 

Apesar de pressão de Trump, EUA devem confirmar Biden hoje

06/01/2021

 

 

Congresso americano se reúne e deve validar vitória do democrata Joe Biden na eleição presidencial de novembro, encerrando assim o imbróglio eleitoral no país. Mas haverá contestação de congressistas e protestes em Washington
O Congresso dos EUA se reúne em sessão conjunta na tarde de hoje e deve confirmar a vitória do democrata Joe Biden no Colégio Eleitoral, por 306 a 232 votos. Isso apesar do esforço do presidente Donald Trump para invalidar o resultado eleitoral. Nos últimos dias, ele pressionou congressistas republicanos e até o vice-presidente, Mike Pence, a rejeitar a confirmação de Biden. A mídia americana, porém, não vê chance de sucesso. Deve haver protestos em Washington.

Ainda assim, um grupo de senadores republicanos pró-Trump planeja se opor à confirmação dos votos do Colégio Eleitoral. O foco está na contestação do resultado em possivelmente seis Estados.
Para que seja aberto o debate e haja uma votação que possa reverter os resultados de um Estado é necessário que um deputado e um senador apresentem uma contestação por escrito referente àquele Estado específico.

A expectativa é de que nenhuma das contestações seja bem-sucedida na Câmara, controlada pelos democratas, e nem mesmo no Senado, onde o Partido Republicano tem a maioria, mas os líderes do partido se opõem a essa iniciativa de barrar a confirmação de Biden.

Pence deve presidir a sessão conjunta, que contará os votos dos Estados em ordem alfabética. Embora o papel de Pence como presidente do Senado seja em boa parte cerimonial, Trump exigiu que ele intervenha no processo.
“Espero que nosso grande vice-presidente aja para nós. Ele é um grande cara. Claro, se ele não agir, não vou gostar dele tanto assim”, disse Trump num comício na noite de segunda-feira, na Geórgia.

Constitucionalistas, porém, dizem que Pence não tem poder para impedir a confirmação de Biden pelo Congresso.

Segundo assessores de Pence, ele vai resistir à pressão de Trump não pretende fugir do seu papel mais cerimonial na sessão de hoje.

Trump alega que perdeu a disputa porque a eleição foi fraudada, mas ele e seus apoiadores não conseguiram apresentar provas de fraude generalizada e foram criticados em dezenas de decisões judiciais. A contestação no Congresso representa um último esforço, a apenas duas semanas do dia da posse presidencial nos EUA.
O senador republicano Ted Cruz (Texas) planeja se opor por escrito à validação dos votos do Arizona no Colégio Eleitoral, segundo uma fonte familiarizada com o assunto. Esse seria o primeiro Estado em que o resultado pode ser contestado na sessão do Congresso. O senador republicano Josh Hawley (Missouri) já anunciou que contestará os resultados da Pensilvânia.

A senadora republicana Kelly Loeffler (Geórgia) também deve apresentar uma objeção por escrito à validação dos votos da Geórgia no Colégio Eleitoral, segundo um assessor do Partido Republicano e outra fonte próxima dela.

Isso manteria a Geórgia no centro do palco político um dia depois de os eleitores do Estado terem ido às urnas em duas votações de segundo turno para decidir se reelegeriam Loeffler e o senador David Perdue, também republicano, ou se colocariam os rivais democratas no Senado. O resultado dessas duas disputas determinará que partido controlará o Senado dos EUA. Os republicanos precisam ganhar apenas um das duas cadeiras. A apuração deve levar dias, devido aos votos enviados pelo Correio.

O Estado se tornou o epicentro político na campanha de Trump para invalidar a eleição presidencial, e durante o fim de semana o presidente pressionou o secretário de Estado da Geórgia, o republicano Brad Raffensperger, a anular o resultado local das eleições de novembro, que deu a vitória a Biden.
O então secretário de Justiça, William Barr, afirmou no mês passado que o Departamento de Justiça não encontrou evidências de fraude generalizada que pudessem reverter a vitória eleitoral de Biden, e os governos de vários Estados também contestaram as acusações de Trump de que ele perdeu por causa de fraude. Na Geórgia, Raffensperger disse a Trump que suas acusações eram infundadas porque “os dados de que você dispõe estão errados”.

No caso da contestação do resultado em um Estado, é aberto um debate de até duas horas e em seguida o Congresso vota se confirma ou não o resultado.
Esta será a primeira vez que o Congresso debate e vota sobre a validação dos resultados eleitorais de um Estado desde 2005, quando a senadora democrata Barbara Boxer (Califórnia) e a deputada democrata Stephanie Tubbs Jones (Ohio) contestaram os resultados de Ohio, em parte com o argumento de que houve altas taxas de rejeição de cédulas eleitorais em áreas de maioria negra. A contestação foi rejeitada pelo Congresso.

Com a perspectiva de contestação do resultado em até seis Estados, é possível que a sessão conjunta do Congresso, que começará às 13h de Washington (15h em Brasília) termine tarde a confirmação da vitória de Biden.

Apoiadores de Trump devem protestar hoje nas ruas da capital dos EUA para tentar pressionar o Congresso, e há risco de confrontos violentos. A segurança em Washington foi reforçada.

O esforço de Trump de contestar o resultado faz parte de uma disputa interna pelo controle do Partido Republicano, entre o grupo liderado por Trump e o grupo do líder do partido no Senado, Mitch McConnell. que já vem sendo chamada de guerra civil na direita. Os congressistas republicanos indicarão sua posição de acordo com a votação no Congresso hoje.