Título: Após eleições, vem reforma ministerial
Autor: Tales Faria
Fonte: Jornal do Brasil, 23/09/2008, Tema do Dia, p. A2

BRASÍLIA É UMA BELEZA: os repórteres que cobrem a área política sabem que há temas que sempre voltam ao noticiário, em momentos específicos. E vêm invariavelmente da mesma forma: começam com um comentário aqui e ali, em geral com o interlocutor pedindo sigilo; crescem; tomam corpo; viram um debate forte e às claras, com ares de fato consumado; depois são negados pelo poderoso de plantão; esfriam um pouco, mas acabam acontecendo, sempre bem depois da data marcada, só que numa dimensão bem menor do que se imaginou de início. Mas vamos lá! É um ritual que se tem de cumprir, porque, em jornalismo, não se briga com os fatos. E o fato é que, terminadas as eleições municipais, os partidos políticos que apoiam o governo vão fazer as contas e ver quem ganhou e quem perdeu na disputa.

Os que ganharam saem na frente para as próximas eleições proporcionais. Ou seja: quem eleger agora mais prefeitos e vereadores, tem mais cabos eleitorais para eleger deputados nas próximas eleições. Será, então, um partido mais importante na sua coalizão, e vai cobrar mais espaço no governo que apóia. Ou seja, mais e melhores ministérios. Daí começa a pressão por uma reforma ministerial. Foi assim no primeiro e no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso e no primeiro governo Lula. E será assim agora no segundo governo Lula. O curioso é que, nos últimos tempos, essa discussão sempre teve um protagonista: o PMDB. O presidente nacional do partido, deputado Michel Temer (SP), admite: ­ É interessante mesmo. Há tempos que o PMDB não tem tido candidaturas significativas a presidente da República, mas o partido tem-se saído muito bem nas eleições municipais e, com isso, tem tido uma boa base para eleger deputados e senadores. Está aí, talvez, a explicação para a nossa força.

E como se sairá o PMDB dessas eleições municipais? ­ Acho que elegeremos algo em torno de cinco prefeitos de capitais. Mas, num balanço final, acabaremos fazendo o maior número total de prefeitos no país, assim como o maior número de vereadores. E é isso que nos faz fortes aqui em Brasília. Pergunto se fortes o suficiente para cobrar uma reforma ministerial. Mas Michel Temer não gosta de falar do assunto. ­ Essa coisa de reforma ministerial é com o presidente. Não me cabe ficar falando disso. Eu insisto: ­ Mas o senhor acha que será necessária? ­ Bem... Pode ser que haja necessidade de uma acomodação de forças. Isso é absolutamente normal. Mas não creio que seja coisa para este ano. Se ocorrer, o momento propício é lá para fevereiro. Pois é. Estamos em finais de setembro. O primeiro turno das eleições será no início de outubro, e o segundo turno, no final do mês. Em novembro, começa o burburinho; dezembro e janeiro a coisa amadurece e; em fevereiro, quando a nova turma de deputados e senadores assume, a questão é colocada na mesa às claras. Quatro meses após as eleições... Não é um prazo tão longo assim.

Do lado do presidente Lula, será a oportunidade de redesenhar o governo para a reta final. E para preparar o caminho da campanha de sua candidata à sucessão presidencial, a ministra Dilma Rousseff. Apesar da alta popularidade do presidente, Lula sabe que sua ministra não é uma figura assim tão conhecida, precisará de um forte apoio dos aliados na campanha. E, para isso, nada como acomodá-los a contento no ministério. Política, afinal, é desse jeito. Quem tem mais poder, quer mais espaço. Por exemplo: o PMDB apoiará Dilma Rousseff sem ficar, digamos, com a vaga de vice na chapa? Michel Temer não gosta de "fulanizar" o assunto. Aceita falar em tese: ­ Não é improvável que acabemos formando uma chapa em 2010 com o candidato ou a candidata do presidente. Mas não dá para imaginar o PMDB fora da chapa. Havendo a aliança, ela pressupõe o PMDB como vice. E como fica Ciro Gomes, do PSB, que já se ofereceu para vice? ­ É, realmente teríamos um problema... ­ reflete Temer. Mas isso fica para depois.