O globo, n.31896, 04/12/2020. País, p. 12

 

Após vitória, 2022 ronda prefeitos de Rio, SP e BH

Thiago Prado 

04/12/2020

 

 

Governar quatro anos as prefeituras recém-conquistadas ou ficar apenas a metade do mandato para buscar o governo do estado na próxima eleição? Fechadas as urnas, a pergunta ansiosa passou a rondar os vitoriosos de novembro nas disputas de Rio, São Paulo e Belo Horizonte.

O mineiro Alexandre Kalil (PSD) é o que mais escancara a intenção de dar voos mais altos em 2022. Durante a semana, em entrevistas à GloboNews e ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, ele deixou claro que pode aceitar participar até da corrida presidencial à medida que Gilberto Kassab, comandante do seu partido, passou a dizer que o PSD deseja uma candidatura ao Planalto.

Como ano ímpar em política combina com proliferação de candidatos fictícios, convém tratar do que é realmente o cenário posto em Minas hoje. Kalil se prepara para lançar um programa de obras na capital e vai colocar o seu vice Fuad Noman, também do PSD, como o supersecretário responsável pelos projetos. Será a vitrine para a passagem de bastão em Belo Horizonte rumo ao confronto com o governador Romeu Zema (Novo). Noman tem total confiança de Kalil. Além de ser seu principal conselheiro na área de finanças, tem ascendência síria e é torcedor do Atlético Mineiro da mesma forma que o prefeito.

Em Rio e São Paulo, o cenário é outro.

De relações mais circunstanciais com os seus vices, Eduardo Paes (DEM) e Bruno Covas (PSDB) não explicitaram, até agora, planos ambiciosos para os anônimos Nilton Caldeira (PL) e Ricardo Nunes (MDB). Fica difícil imaginá-los no comando das duas principais cidades brasileiras sem que a rejeição aos prefeitos eleitos não dispare — o mesmo que aconteceu com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

O tema 2022, contudo, seguirá presente no debate ainda que Paes e Covas, neste momento, neguem a intenção de fazer de suas cadeiras trampolim para governos estaduais. A verdade é que tanto o DEM fluminense quanto os tucanos paulistas não dispõe atualmente de um nome natural para colocar no jogo da corrida pelos palácios Guanabara e dos Bandeirantes.

ATUAÇÃO LIMITADA

Há dois dias, em entrevista para o site da revista “Veja”, o ex-prefeito e vereador eleito Cesar Maia vetou aquela que seria uma opção óbvia no Rio — o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. “O papel dele é a defesa da democracia na Câmara”, disse, negando que seu filho tentará buscar a sucessão do governador Cláudio Castro (PSC). Depois de três derrotas seguidas de Cesar para o Senado (2010, 2014 e 2018) e de uma fracassada précampanha de Rodrigo ao Planalto há dois anos, a família Maia parece ter se convencido de que está limitada, por ora, a disputas proporcionais.

Em São Paulo, boa parte do PSDB já vem torcendo o nariz para a hipótese de não ter uma candidatura própria ao governo do estado. Está claro que, se Doria realmente partir para enfrentar Jair Bolsonaro daqui a dois anos, o seu vice Rodrigo Garcia, do DEM, se lançará ao posto. Por um lado, seria bom para Doria a aliança com o DEM nacionalmente, e o apoio a um nome da legenda em São Paulo ajudaria na composição. Por outro, os tucanos estão acostumados a ter candidatura própria em São Paulo desde os anos 1990.

Covas, Paes e Kalil ainda responderão repetidas vezes a perguntas sobre se deixarão seus cargos para concorrer. As respostas poderão se tornar diferentes no segundo semestre de 2021 a depender de como caminharão os seus governos e as articulações políticas.