O globo, n.31896, 04/12/2020. Sociedade, p. 17

 

Alta da Covid não fará Rio retomar restrições, e especialistas criticam

Felipe Grinberg 

04/12/2020

 

 

Um dia após o comitê científico da prefeitura do Rio sugerir a volta de medidas restritivas para conter o avanço da Covid-19, o governador em exercício Cláudio Castro, que se reuniu ontem de manhã com o prefeito Marcelo Crivella e à tarde com o ministro da Saúde Eduardo Pazuelloco, negou mais uma vez que o estado adotará medidas novas de restrição. Hoje, Crivella e Castro vão dar entrevista coletiva, em que devem anunciar a oferta de novos leitos e mais fiscalização para evitar que a população desrespeite as regras de ouro, como usar máscaras e manter o distanciamento social.

— Não vamos dar passo atrás. O que estamos fazendo é trabalhando na abertura de leitos e também em melhorar a fiscalização. Não adiantam medidas que a população não vai cumprir. A avaliação das equipes técnicas é que ainda temos campo para abertura de leitos antes de se pensar em restrição—disse Castro.

Ontem, o Rio registrou 127 mortes e 3.788 novos casos do novo coronavírus. Especialistas da Fiocruz já declararam que a rede pública de saúde da cidade está em colapso e que há pacientes morrendo de Covid e doenças crônicas dentro de casa. A cidade já tem 99% dos leitos exclusivos para coronavírus ocupados, e a rede SUS na capital — que inclui vagas estaduais e federais — atingiu 92% de ocupação. No estado, há 216 pacientes na fila de UTIs, 86% delas preenchidas.

Se hoje, não for anunciada qualquer medida de restrição devido à alta de casos e mortes, será a primeira vez que Crivella não segue a orientação de seu comitê científico.

O Supremo Tribunal Federal (STF) já decidiu que prefeitos têm autoridade para impor medidas restritivas, mesmo que não sigam o plano dos estados. Integrantes do comitê científico estão revoltados coma decisão das autoridades.

— Eu me senti indignado. Temos que impedir que a pessoa adoeça e não apenas abrir leito. Se só abrir mais leitos de U TI, elevai ser ocupado e continuaremos ater a maior taxa de mortalidade. Se tivermos leitos suficientes para todos, não importa quantos morrerão? — diz o médico Celso Ramos, que integra o grupo de notáveis.

Outro integrante, que prefere não se identificar, concorda com a opinião do colega e diz que está frustrado:

— Abrir leitos não é algo tão simples. E as duas frentes tinham que caminhar juntas.

A ata da reunião foi assinada por 28 pessoas, entre especialistas e funcionários da prefeitura, como a secretária de Saúde Beatriz Busch. Segundo o documento publicado ontem no Diário Oficial do município, outras medidas mais restritivas chegaram a ser discutidas, mas não foram aceitas pela maioria. Cláudio Castro não quis antecipar detalhes do novo plano de combate à Covid, mas adiantou que pretende aumentar a fiscalização. Ele disse ainda que a fila divulgada todos os dias pelas secretarias municipal e estadual de Saúde não reflete a atual realidade, já que muitos pacientes estão em leitos em UPAs que contam com equipamentos “quase iguais a um CTI”:

— Esse número que vem frio não traduza realidade e amanhã as equipes técnicas vão demonstrar. Afila nãoé tão grande como parece. Há UPAs hoje que têm equipamentos quase de CTI e outras que quase não têm. Temos leitosa serem abertos inclusive nos nossos hospitais.

O infectologista Roberto Medronho, coordenador do grupo de estudos sobre Covid-19 na UFRJ, concorda com todas as sugestões do comitê, exceto com o fechamento de escolas e creches municipais:

— O comitê cientifico da prefeitura é composto por pessoas do mais elevado nível cientifico. Lamento que a opinião delas não tenha sido levada em conta.

Ontem, o governador esteve no Rio com o general Pazuello, ministro da Saúde. O ministro elogiou a Fiocruz.

— Temos o maior programa de imunização do mundo. Vamos poder produzir a curto prazo as vacinas para combater a Covid, ou grande parte delas. Mas num futuro próximo estaremos em condições de fazer frente a outras ameaças nessa área —afirmou o ministro.

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Estado tem a maior taxa de mortalidade no país 

Johanns Eller 

Pedro Zuazo 

04/12/2020

 

 

O estado do Rio apresenta a maior taxa de mortalidade pela Covid-19 do Brasil, aponta levantamento do MonitoraCovid-19, ferramenta da Fiocruz que acompanha o avanço da doença. Ao todo, são 131 óbitos por 100 mil habitantes, bem à frente de São Paulo (91,7 mortes por 100 mil), que lidera em número absoluto de vítimas fatais pelo coronavírus no país.

No ranking, o Rio é seguido de seis estados com mais de 100 óbitos por 100 mil habitantes: Distrito Federal (129,56), Amazonas (116,74), Mato Grosso (116,41), Roraima (116,29), Espírito Santo (106,4) e Ceará (104,92).

Na última quarta-feira, a Fiocruz alertou, em outra nota técnica, que o sistema de saúde fluminense entrou em colapso com o aumento do número de casos. No mesmo documento, também observou que as estatísticas da Covid-19 na cidade do Rio também preocupam. Durante boa parte da pandemia, o município ficou atrás da capital de São Paulo no índice de mortes diárias, mas nas duas últimas semanas o quadro se inverteu. A instituição considera que o Rio pode retomar o padrão de transmissão do Sars-CoV-2 do início da pandemia.

De acordo com o sanitarista e coordenador do Monitora Covid da Fiocruz, Christovam Barcellos, a taxa de mortalidade do estado do Rio de Janeiro é a mais alta do país desde agosto.

— O Rio de Janeiro começou razoavelmente bem na pandemia, com hospitais de campanha eleitos disponíveis. No início, as piores taxas de mortalidade eram no Amazonas e em alguns estados do Nordeste, como Pernambuco e Ceará. A partir de junho e julho, a taxa de mortalidade começou acair nesses esta doseado Rio passou a ser amai ordo Brasil em agosto— disse, acrescentando que a falta de assistência é umdos motivos do saltos índices do Rio.