O globo, n.31896, 04/12/2020. Mundo, p. 30

 

Após um mês, Trump ainda se agarra à falsa tese de fraude

04/12/2020

 

 

Um mês após ser derrotado nas urnas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, continua a insistir em alegações de fraude sem embasamento para pôr em xeque a vitória legítima de Joe Biden. Em vídeo compartilhado na noite de quarta-feira, ele passou 46 minutos proferindo afirmações mentirosas, um dia após seu próprio secretário de Justiça, William Barr, atestar a lisura do pleito.

Trump, que acena com planos de concorrer de novo em 2024, disse que a fala de quarta-feira talvez seja “a mais importante” de sua vida política. O discurso foi um aglomerado das alegações falsas que faz rotineiramente em suas redes sociais: além de afirmar que foi vítima de fraude eleitoral, critica republicanos que o contradizem e ataca democratas por uma “conspiração para roubara Presidência ”.

Por fim, Trump se auto descreveu como o defensor do sistema eleitoral americano, afirmando que protegera integridade da votação seria o maior legado de sua Presidência. Sua cruzada judicial para tentar reverter o resultado do pleito na Justiça, no entanto, é um fracasso maciço: acumula dezenas de derrotas, sem conseguir anular ou reverter sequer um voto.

O Facebook, on de ovídeo foi originalmente compartilhado, adicionou à postagem uma nota afirmando que Biden, que teve mais de 81 milhões de votos e conquistou 306 delegados no Colégio Eleitoral (36 a maisque o necessário ), foi o vencedor. O Twitter, onde o Trump compartilhou uma prévia, indi coura presença de informações contestadas.

CÚPULA SE MANTÉM CALADA

As imagens foram gravadas na semana passada, mas só vieram à tona horas após Barrse juntar a uma série de autoridades regionais republicanas para desmentir as acusações do presidente e afirmar, em entrevista à Associated Press, que “nós não vimos, até o momento, fraude em escala que possa ter afetado o resultado da eleição”.

Em paralelo, um republicano da Geórgia que trabalha na fiscalização das eleições, Gabriel Sterling, culpou Trump por incitara violência e uma série de ameaças de morte a autoridades eleitorais do estado. Em uma entrevista coletiva, ele fez um apelo para que o presidente “pare de inspirar as pessoas acometerem atos potenciais de violência”.

Cada vez mais, figuras importantes do partido buscam se desvencilhar de Trump, com aliados fazendo um apelo para que o presidente siga em frente. Até o líder republicano no Senado, Mitch McConnell, se referiu à “nova administração” ao falar sobre o futuro governo Biden. Como boa parte da cúpula da legenda no Congresso, entretanto, o senador se mantém mudo sobre o comportamento presidencial.

DE OLHO EM 2024

O silêncio, em parte, é explicado pela eleições extraordinárias para o Senado na Geórgia em 5 de janeiro —votação que determinará qual partido terá o controle da Casa pelos próximos anos. Trump, apesar de tudo, ainda é extremamente popular entre os eleitores do partido: segundo pesquisa da Change Research para a NBC, apenas 3% dos eleitores do atual presidente consideram a vitória de Biden legítima.

Trump tira proveito da popularidade e da máquina midiática conservado raque promove notícias falsas aseu favor, e projeta concorrer de no voem 2024. A seriedade do plano é questionada por aliados, pois ele já terá 78 anos. Para muitos, trata-se mais de uma tentativa de se manter relevante, arrecadar dinheiro e amaciar seu ego ao se esquivar do rótulo de perdedor.

No mês desde a eleição, Trump já arrecadou US$ 207,5 milhões. Além disso, tem mais de 88,7 milhões de seguidores no Twitter. Não se sabe, porém, se conseguirá manter o apoio quando sair do palanque natural que a Casa Branca lhe dá. Os empecilhos para uma candidatura são significativos: precisará pagar uma dívida de US$ 421 milhões referente aos seus negócios e se vê envolto em uma série de investigações.