Correio braziliense, n. 21010, 02/12/2020. Brasil, p. 8

 

Restrições para evitar a 2ª onda

Maria Eduarda Cardim 

Fernanda Strickland 

02/12/2020

 

 

Diante de uma taxa de transmissão da covid-19 ainda descontrolada, do aumento de infecções e do crescimento das taxas de ocupação dos leitos, diversos estados anunciaram ontem medidas de restrição mais rígidas para conter a disparada de casos do novo coronavírus e o começo, com violência, da segunda onda da doença. As medidas, que vão desde a proibição da permanência em locais abertos sem controle do público até o aumento da testagem, tentam evitar o aumento da disseminação da doença.

O Brasil registrou, nas últimas 24h, mais 697 mortes pela doença e 50.909 casos do novo coronavírus. Assim, o país soma 6.386.787 diagnósticos positivos e 173.817 óbitos pela doença desde o início da pandemia.

Ontem, o governo do Distrito Federal determinou que bares e restaurantes encerrem as atividades às 23h para tentar conter (leia mais na página 17) uma disparada nos casos da infecção. O governador Ibaneis Rocha teve como inspiração outras unidades da Federação, que anunciaram restrições às aglomerações para deter o contágio. É o caso do Rio Grande do Sul, que, ontem, classificou 19 das 21 regiões com a cor vermelha, que indica alto risco de infecção.

Entre as ações de restrição determinadas pelo Palácio Piratini, estão a proibição da permanência em locais públicos sem controle de acesso, como ruas, praias e praças, sendo permitida apenas circulação ou prática de exercícios físicos; a suspensão de eventos e festas de fim de ano, inclusive com o incentivo à não realização de reuniões privadas e familiares; e restrição de horários para restaurantes e bares.

Um dos primeiros estados a voltar atrás nas medidas que flexibilizaram o distanciamento social foi São Paulo. Um dia depois das eleições municipais, o governador João Doria anunciou que todas as regiões do estado que estavam na fase 2 verde, a segunda menos restritiva, voltaram à fase amarela — que limita o horário de funcionamento e frequência de pessoas em bares, restaurantes, academias, salões de beleza, shoppings, escritórios, concessionárias e comércios de rua.

No estado do Rio de Janeiro, o governador em exercício, Cláudio Castro, anunciou, ao lado do prefeito eleito Eduardo Paes, que, a partir de amanhã, começará a receber testagem em massa para covid-19. Trata-se de uma tentativa, que aliada à ampliação na oferta de leitos exclusivos para pacientes infectados, de conter o avanço da doença e evitar um novo lockdown. Conforme disse, a testagem começaria a ser realizada no Rio (capital), nos municípios da Baixada Fluminense e em São Gonçalo. O exame a ser feito será o PCR, por meio da inserção de um cotonete nas vias nasais.

As medidas vêm no momento em que pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) recomendam medidas urgentes, como fechamento de praias e limitação de horário para o funcionamento de estabelecimentos.

Números em alta
As ações mais restritivas visam conter a movimentação da população gerada pela flexibilização do distanciamento social. O cenário foi confirmado ontem pelos dados da edição mensal da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Covid-19, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada ontem. A pesquisa mostrou, por exemplo, que o número de cidadãos que não tomou nenhuma medida de restrição para evitar a infecção aumentou 3,3 milhões em um mês. Em outubro, esse número chegou a 9,7 milhões de pessoas –– ou seja, 4,6% dos 211,5 milhões de residentes no país.

* Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi

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Plano de vacinação será em 4 fases 

Bruna Lima 

02/12/2020

 

 

O Ministério da Saúde anunciou, ontem, que a campanha de vacinação contra a covid-19 será dividida em quatro fases, começando por idosos, indígenas e profissionais da saúde. Mas, o plano será mesmo definido quando houver o registro dos imunizantes pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), quando serão traçadas estratégias específicas.

Em um primeiro momento, ainda sem data definida, serão vacinados os idosos a partir dos 75 anos, pessoas com mais de 60 anos e que vivem em asilos ou instituições psiquiátricas, profissionais da saúde e indígenas. Depois, entram pessoas de 60 a 74 anos.

"A terceira fase prevê a imunização daqueles com comorbidades que apresentam maior chance para agravamento da doença (como portadores de doenças renais crônicas e cardiovasculares). A quarta, e última, deve abranger professores, forças de segurança e salvamento, funcionários do sistema prisional e população privada de liberdade", detalhou a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Ministério, Francieli Fantinato.

Ela salientou que a soma dos grupos deve contemplar 109,5 milhões de pessoas imunizadas com a aplicação de duas doses. Mas uma vez foi frisado que a população brasileira não será toda vacinada.

A pasta estima a compra de 300 milhões de agulhas e seringas, dentro do mercado nacional, e outras 40 milhões a serem adquiridos no exterior, que serão distribuídas em todo o país. O edital para a aquisição será lançado na próxima semana.

O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros, frisou que o plano só ficará pronto após o aval da Anvisa para os imunizadores.

Sobre quais vacinas podem ser distribuídas, o ministério indicou que as desenvolvidas com a tecnologia RNA correm o risco de ficar de fora devido às baixas temperaturas requeridas para o armazenamento. Assim, a da Pfizer e a da Moderna tem chances menos de serem adotadas — cuja eficácia é de 95% e 94%, respectivamente.

"Desejamos que a vacina seja fundamentalmente termoestável por longos períodos, em temperaturas de 2 a 8 graus, porque a nossa rede de frios é montada e estabelecida com essa temperatura", explicou Medeiros, que não foi taxativo sobre a exclusão de qualquer medicamento, seja o da Pfizer ou da Moderna.

O ministro Eduardo Pazuello já dissera, anteriormente, não afastar nenhuma das que estarão disponíveis. Estão garantidas ao Brasil 142,9 milhões de doses de vacinas, sendo 100,4 milhões pelo acordo entre a Fundação Oswaldo Cruz e a AstraZeneca e 42,5 milhões pela Covax Facility, fundo multilateral para aquisição de imunizantes contra a covid-19.