O globo, n.31897, 05/12/2020. Sociedade, p. 17

 

Sinovac subomou autoridades para aprovar vacinas de 2002 a 2011

05/12/2020

 

 

Sob suspeita. Fábrica da Sinovac em 2009, durante produção da vacina para H1N1, com vírus germinados em ovos de galinha
A empresa chinesa Sinovac, desenvolvedora da vacina para Covid-19 que está sendo testada no Brasil em parceria com o Instituto Butantan, ligado ao governo do estado de São Paulo, tem se envolvido em casos de suborno ao governo chinês. A informação foi divulgada ontem, em reportagem do jornal americano Washington Post. De acordo com a publicação, que teve acesso aos autos dos tribunais chineses, o fundador e CEO da empresa, Yin Weidong, admitiu ter passado mais de 83 mil (cerca de

R 4 430 mil) em propina a funcionário da agência reguladora chinesa, Yin Hongzhang, e também a sua esposa, entre 2002 e 2011. O caso foi julgado em 2016. Não há menção no relatório de problemas ocorridos posteriormente encontro. Hongzhang confessou ter emitido certificados de vacinas para Sinovac em troca do dinheiro, e acabou condenado e preso em 2017. Já o CEO da empresa fez um acordo com a justiça chinesa, permaneceu em liberdade e continua no comando da empresa. O Post afirma que o executivo cooperou com os promotores e argumentou que o pedido de suborno se afastou da autoridade governamental. O mais recente caso de corrupção citado na reportagem do jornal americano envolveu o processo de aprovação da vacina de Sinovac contra a gripe H1N1. A empresa também teria cometido irregularidades na aprovação de uma vacina contra hepatite A e outra vacina experimental contra SARS. Em resposta ao The Washington Post, Sinovac reconheceu o incidente e disse que realizou auditorias internas e implementou um programa anticorrupção nos últimos anos.

O Post não mencionou problemas com a vacina Covid-19 da empresa.

 'AUDITORIA INDEPENDENTE'

Em nota, o Instituto Butantan disse que a parceria com a Farmacêutica foi firmada este ano para estudos clínicos e desenvolvimento da vacina contra a Covid-19. "A pesquisa clínica tem auditoria independente e o registro do imunizante passará por avaliação técnica da Anvisa", acrescentou. De acordo com o The Washington Post, embora as condenações estivessem relacionadas a processos até 2011, há indícios de outras irregularidades ocorridas até 2016, quando Sinovac foi denunciado. Pelo menos 20 funcionários públicos e diretores de hospitais admitiram aceitar mensalidades em volumes menores. De acordo com o relatório, apesar da gravidade das queixas, não foram encontradas evidências de que a segurança ou eficácia das vacinas em questão tivesse sido comprometida.

O jornal lembra que a corrupção nos sistemas regulatórios é um problema antigo na China e que há muito tempo existe uma aceitação tácita do crime.

Em seu depoimento, Weidong afirmou que "não poderia recusar" o pedido de Hongzhang de suborno, sugerindo que o oficial é que estaria ameaçando o caminho de Sinovac com obstáculos burocráticos à aprovação. A Sinovac é hoje a segunda maior empresa do setor na China, perdendo apenas para a estatal Sinopharm, que também desenvolve uma vacina para Covid-19. As duas empresas contribuem para um certo orgulho nacional que inspira a indústria biomédica chinesa, por terem conseguido desenvolver as primeiras vacinas contra a SARS e a gripe suína do mundo.

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Oxford: imunizador está pronto para análise 

05/12/2020

 

 

O Avacin for Covid-19, desenvolvido pela Universidade de Oxford em parceria com a farmacêutica AstraZeneca, já está apto para análise por agências reguladoras, disse Andrew Pollard, cientista que lidera o projeto. Pollard, que é pediatra, disse ainda que o ensaio clínico da vacina deve ser ampliado para voluntários infantis a partir do próximo mês. Em seminário online ontem, o britânico não detalhou, porém, o status do questionamento levantado por conta de um erro de dosagem no levantamento feito no anúncio feito na semana passada, mas deu a entender que o problema já foi superado. - A análise interina que foi apresentada ao público na semana passada deve ser publicada em breve em uma revista científica. De fato, já preenche os requisitos necessários para que as agências reguladoras comecem a revisar os dados e considerem se a vacina deve ou não ser licenciada em diferentes países do mundo. O evento virtual em que Pollard se dirigiu ao público brasileiro foi promovido pela Fundação Lemann, uma das patrocinadoras do estudo clínico feito no Brasil. A vacina teve seus resultados preliminares de eficácia questionados pelas autoridades americanas depois que a empresa revelou que uma parte de voluntários no Reino Unido recebeu meia dose, acidentalmente. A AstraZeneca afirmou na ocasião que os dados receberam uma correção estatística e que o incidente não compromete a conclusão da eficácia da vacina. Pollard afirmou ainda no seminário que o teste clínico da vacina deve ser ampliado para voluntários infantis a partir do próximo mês. - Nenhuma das vacinas para Covid-19 foi testada em crianças ainda - disse ele. —Para nossa vacina, esperamos iniciar esses estudos em cerca de um mês, a partir daí teremos dados preliminares para analisar a resposta imunológica e a segurança.