Título: EUA demoraram a agir, diz Lula
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Fonte: Jornal do Brasil, 23/09/2008, Economia, p. A20

Presidente considera que pacote econômico é adequado, mas já devia ter sido adotado.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem em Nova York que os Estados Unidos tomaram as medidas adequadas para tentar conter a crise no mercado financeiro, mas que o pacote econômico americano deveria ter sido adotado antes. ­ Precisamos torcer para que a crise americana seja a menor possível ­ disse Lula. ­ Se isso tivesse sido feito antes, a crise teria sido muito menor. O presidente disse que, apesar da decisão americana de criar o pacote de US$ 700 bilhões para assumir as chamadas dívidas podres de instituições financeiras dos Estados Unidos, ainda é cedo para dizer que a crise econômica arrefeceu. Os comentários do presidente foram feitos pouco após a sua participação em um evento da Embratur sobre turismo no Brasil. O presidente está em Nova York para participar da Assembléia Geral da ONU. Lula também expressou confiança de que as turbulências no sistema financeiro não deverão atingir o Brasil em cheio. ­

No caso do Brasil, nós temos menos problema porque temos uma diversificação das nossas exportações e importações ­ disse Lula. Entretanto, o presidente acrescentou que há sinais de que há pouco crédito no mundo porque "não há segurança, ninguém quer liberar o seu dinheiro". Lula confirmou que o caos econômico será um dos tópicos de seu pronunciamento na abertura da Assembléia da ONU, mas disse que vai evitar o tom alarmista. ­ A situação não é tranqüila. Precisamos alertar os agentes mundiais sobre a crise. ­ disse o presidente. Para ele, é necessário que os bancos centrais de diferentes países adotem ações a fim de "controlar e regular o sistema financeiro mundial" e evitar que "a especulação e a jogatina sejam as prioridades de determinadores setores". ­ Eu já cobrei do G8, cobrei do FMI, cobrei do Banco Mundial que estava na hora de eles se manifestarem, porque quando é um país pequeno que tem uma crise, todos eles dão palpite ­ disse Lula. ­ Quando é a maior economia do mundo que entra em colapso, a gente não vê nenhum palpite deles.

Meirelles

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem que o plano de compra de ativos, anunciado pelo Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos) para conter a crise financeira, é "audacioso e bem pensado". ­ O governo americano anunciou um plano importante de enfrentamento do problema. Não há dúvidas que o caminho é adequado ­ disse Meirelles. Meirelles reafirmou que a economia brasileira construiu nos últimos anos uma resistência à atual crise financeira. ­ Um dos atos mais importantes foi a eliminação da dívida cambial interna. Isso gerava aumento da dívida pública brasileira, reforçando a crise de confiança. Segundo ele, a dívida pública atrelada ao dólar chegou a 40% do total. E atualmente, o país é credor em dólar. ­ Hoje, quando sobe o valor do dólar, a dívida pública cai ­ disse Meirelles. Apesar de o Brasil ser resistente à crise, Meirelles fez questão de afirmar que o BC monitora "hora a hora, dia a dia" a crise financeira.