Título: Crise faz Brasil perder quase US$ 2 bilhões neste mês
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/09/2008, Economia, p. A18
Movimentação de dólares através de operações financeiras foi afetada.
AGÊNCIA BRASIL
A crise financeira internacional refletiu no saldo da entrada e saída de dólares do país por meio das operações financeiras (investimentos em bolsa e títulos, pagamento de juros, remessa de lucros, viagens internacionais). De acordo com dados do Banco Central, até o dia 19 deste mês, houve saída de US$ 1,955 bilhão. No caso das operações comerciais, o saldo é positivo em US$ 5,414 bilhões, com exportações de US$ 13,334 bilhões e importações de US$ 7,921 bilhões. Mesmo com o resultado negativo das operações financeiras, o saldo total do fluxo cambial está positivo em US$ 3,459 bilhões.
O BC também indica a saída de investimento em ações no país no valor de US$ 1,081 bilhão, enquanto as aplicações em renda fixa registraram ingresso de US$ 818 milhões, neste mês até ontem. A projeção de investimento estrangeiro em portfólio (ações e renda fixa) passou de US$ 25 bilhões para US$ 22 bilhões.
Investimento estrangeiro
A entrada de investimento es- trangeiro no Brasil, caracterizado pelo interesse duradouro do investidor, permanece em alta neste ano. Segundo dados do Banco Central referentes a setembro, entraram no país até ontem US$ 5,250 bilhões e a expectativa para o mês é de US$ 5,8 bilhões. No entanto, o investimento deve cair em 2009, enquanto o déficit em transações correntes deve crescer.
De acordo com o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, o crescimento do investimento estrangeiro direto (IED) no país, mesmo com a crise financeira internacional, deve-se ao fato de a economia brasileira estar "arrumada".
Ele citou ainda o grau de investimento que o país ganhou neste ano de agências de classificação de risco e disse que nessa situação de crise, o Brasil é uma opção para o investidor. O BC manteve a projeção de IED para o ano em US$ 35 bilhões, mas estimou um valor menor em 2009: US$ 33 bilhões.
No acumulado do ano, o IED soma US$ 24,575 bilhões, sendo que os setores que mais investiram no Brasil foram o de veículos automotores, metalurgia e serviços financeiros. Juntos, esses setores representam 50,2%. Em agosto, o IED chegou a US$ 4,633 bilhões.
Os setores que mais recebem são os que mais remetem (recursos para o exterior) afirmou Lopes. Para Lopes, o IED irá financiar o déficit em conta corrente (resultado negativo de todas as operações do Brasil com o exterior). A projeção do BC para o déficit em transações correntes é de US$ 28,8 bilhões neste ano e US$ 33,1 bilhões para 2009.
O possível aumento não preocupa Lopes. Ele ressaltou que o déficit vai representar 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2008 e 1,9% no próximo ano, percentuais distantes da média histórica de 2,4%, segundo ele.
Gastos estrangeiros
O aumento da cotação do dólar não afugentou os brasileiros das viagens ao exterior. Segundo dados do Banco Central, até ontem as despesas de brasileiros no exterior chegaram a US$ 786 milhões e as receitas com estrangeiros no Brasil somaram US$ 320 milhões, o que levou à conta de viagens internacionais a fechar negativa em US$ 466 milhões. Em agosto, os gastos de brasileiros no exterior somaram os recordes US$ 1,022 bilhão, e no ano US$ 7,862 bilhões.
As despesas de turistas estrangeiros no Brasil somaram US$ 499 milhões em agosto e US$ 3,866 bilhões no ano. O déficit na conta de viagens foi de US$ 523 milhões em agosto e US$ 3,996 bilhões no acumulado do ano. De acordo com o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, a elevação dos gastos de brasileiros no exterior se deve ao aumento da renda.