Título: Lula cobra mais ação contra a crise
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/09/2008, Economia, p. A18

Presidente diz que ônus da cobiça desenfreada de alguns não pode recair sobre todos

Diante de mais de uma cen- tena de líderes de todo o mundo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou da Organização das Nações Unidas (ONU) uma resposta para a crise financeira mundial. O presidente disse que medidas paliativas não irão superar uma crise das proporções atuais, que só será contida com mecanismos de "prevenção e controle e total transparência das atividades financeiras". ­

As indispensáveis intervenções do Estado, contrariando os fundamentalistas do mercado, mostram que é chegada a hora da política. Somente ação dos governantes, em especial naqueles países que estão no centro da crise, será capaz de combater a desordem que se instalou nas finanças mundiais com efeitos perversos na vida cotidiana de milhões de pessoas.

Lula mencionou a euforia dos especuladores, que segundo ele "transformou-se em angústia dos povos após a sucessão de naufrágios financeiros que ameaçam a economia mundial". O presidente criticou ainda os subsídios agrícolas e as barreiras comerciais impostas pelos países ricos. ­

Um suposto nacionalismo populista que alguns pretendem identificar e criticar no Sul do mundo é praticado sem constrangimento em países ricos ­ disse o presidente ontem, na abertura dos debates da 63ª sessão da Assembléia Geral da ONU, em Nova York. Lula ressaltou que as soluções para a crise financeira devem ser globais e tomadas em espaços multilaterais legítimos e confiáveis. ­ Das Nações Unidas, máximo cenário multilateral, deve partir a convocação para uma resposta vigorosa às ameaças que pesam sobre nós.

­ A ausência de regras favorece os aventureiros e oportunistas, em prejuízo das verdadeiras empresas e dos trabalhadores. O ônus da cobiça desenfreada de alguns não pode recair impunemente sobre os ombros de todos. A economia é séria demais ­ alertou.

Alimentos e biocombustíveis

Em seu discurso, Lula criticou ainda a tentativa de associar a alta dos alimentos à produção dos biocombustíveis. ­

A experiência brasileira comprova que o etanol de cana-de-açúcar e a produção de biodiesel diminuem a dependência de combustíveis fósseis, criam empregos, regeneram terras deterioradas e são plenamente compatíveis com a expansão da produção de alimentos.

Para o presidente, além de fatores climáticos e da especulação sobre as commodities agrícolas, a inflação dos alimentos é causada pelos aumentos do petróleo, que incidem sobre o custo de fertilizantes e do petróleo.

Lula defendeu a retomada das negociações da Rodada Doha, cujo êxito, segundo ele, deverá ter impacto positivo na produção de alimentos nos países pobres e em desenvolvimento e disse que é preciso avançar muito para que a humanidade cumpra efetivamente as Metas do Milênio.

Para finalizar o discurso, o presidente afirmou na ONU que o Brasil de hoje é muito distante daquele de 2003, ano em que as- sumiu a presidência e citou números já repetidos em discursos em território nacional. ­ Criamos 10 milhões de empregos formais. Distribuímos renda e riqueza.

Tenho orgulho de dizer que o Brasil está vencendo a fome e a pobreza ­ disse Lula. Como em outros anos, Lula foi o primeiro presidente a discursar na abertura da sessão, e falou logo depois do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e do presidente da sessão, Miguel d"Escoto Brockmann. Também participam da abertura os presidentes dos Estados Unidos, George Bush; da França, Nicolas Sarkozy; e do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, entre outros.