Valor econômico, v. 21, n. 5162, 07/01/2021. Política, p. A9

 

Baleia defende retomada do auxílio emergencial

Andrea Jubé

Marcelo Ribeiro

07/01/2021

 

 

Ausência de representantes do PT em lançamento de candidatura de emedebista chamou a atenção
No lançamento da sua candidatura à Presidência da Câmara, o deputado Baleia Rossi (MDB-SP) defendeu a expansão do programa Bolsa Família, ou a retomada do pagamento do auxílio emergencial para socorrer a população mais vulnerável, alegando que a pandemia não acabou, e ressaltou que as votações sobre essa matéria deveriam ocorrer neste mês.
Enquanto o emedebista discursava em Brasília, seu adversário, o líder do PP, Arthur Lira (AL), cumpria o roteiro de viagens na Região Norte: ontem visitou Roraima e Amazonas. Hoje estará no Acre e em Rondônia.
Ao lado do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), seu principal cabo eleitoral, Baleia Rossi alertou que milhões de brasileiros deixarão de receber neste mês o auxílio emergencial, e voltarão a ter grandes dificuldades para levar alimento à mesa.

“Ou aumenta o Bolsa Família, ou se busca um novo auxilio para os mais vulneráveis”, exortou. "Estamos a postos para votar em janeiro qualquer medida necessária ao combate à pandemia".

O postulante do MDB destacou a relevância do papel da Câmara que elevou o benefício para R$ 600, quando a proposta enviada ao Legislativo pelo governo era de uma ajuda de R$ 200.
Autor da proposta de reforma tributária, o emedebista ponderou que o debate sobre a retomada do auxílio emergencial deve ser feito no contexto da “responsabilidade fiscal” e da condução das reformas relevantes para o país.
Tendo ao seu lado no palanque o relator da reforma tributária, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Baleia lembrou que a proposta “está pronta para votação” na Casa.

Baleia argumentou que o socorro à população mais pobre faz parte do projeto de retomada do desenvolvimento. “Precisamos de projetos para o país, para a economia se desenvolver. Os objetivos são comuns: geração de emprego e renda, diminuir as desigualdades e o desemprego”.

No esforço de se contrapor a Lira, que tem o apoio do presidente Jair Bolsonaro, Baleia investiu na defesa de uma Câmara autônoma e independente. “Nenhum município, nenhum Estado pagaria a folha [dos funcionários] e manteria os serviços essenciais se não fosse o trabalho da Câmara livre e independente”, afirmou. “Se a Câmara for submissa, ela não fiscaliza o Executivo”, ressaltou.

Além de Maia e Aguinaldo, líderes da maioria dos 11 partidos que formam o bloco de sustentação de sua candidatura prestigiaram o ato. Mas chamou a atenção a ausência de representantes do PT, maior bancada do grupo.
Para acalmar os ânimos, o líder da minoria e integrante da Executiva do PT, deputado José Guimarães (CE), foi à rede social esclarecer a ausência de petistas no evento de Baleia.

“Meus queridos e queridas do bloco de apoio ao Baleia Rossi, tinha um voo hoje cedo, foi cancelado e o próximo era 17 hs. Ficando impossibilitado de participar desse momento alto de lançamento do nosso candidato à presidência da câmara. Não é nenhum problema político. Firmes aqui”, explicou Guimarães.

Ao fim do discurso, Baleia conclamou a união dos parlamentares para cobrarem do governo "vacina universal, gratuita e para todos". E encerrou a fala com o “slogan” da campanha: "contem comigo para uma Câmara livre e uma democracia viva".

Assim como Lira, Baleia começa a visitar as bancadas nos Estados na sexta-feira. O ponto de partida é o Piauí, governado pelo petista Wellington Dias. Na próxima semana, já tem compromisso no Ceará, outro Estado governado por um petista, Camilo Santana.
Enquanto Baleia desbrava o Nordeste, Arthur Lira completa o périplo pelos Estados do Norte. Hoje ele almoça em Rio Branco com deputados e o governador do Acre, Gladson Cameli, que é seu correligionário. Depois janta em Porto Velho com a bancada de Rondônia.

Ontem Lira foi a Boa Vista, onde se reuniu com deputados, e com o governador Antônio Denarium, aliado de Bolsonaro. Depois, estava previsto jantar com o prefeito de Manaus, David Almeida, e o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), que enfrentam um repique da pandemia, com UTIs lotadas na rede pública e privada.

Denarium afirmou que Lira se comprometeu a dar andamento aos projetos de lei que são do interesse do estado, como as propostas que tratam da exploração de gás natural na região, da regularização fundiária na Amazônia, além de itens da agenda econômica como a reforma tributária e o pacto federativo.

“Eu o senti muito confiante, tranquilo e sereno. Acredito que será eleito presidente da Câmara”, disse Denarium.

Reservadamente, parlamentares de Roraima acreditam que Lira já consolidou as dissidências possíveis e conta com quase a totalidade dos votos da bancada.

______________________________________________________________________________________________________________________

Aliados de Lira querem voto presencial

Marcelo Ribeiro

Andrea Jubé

07/01/2021

 

 

Ainda indefinido, formato da votação da eleição da Mesa Diretora da Câmara provoca novo atrito entre os grupos de Baleia Rossi e Arthur Lira
Ainda indefinido, o formato da votação da eleição da Mesa Diretora da Câmara provocou ontem novo atrito entre os grupos dos deputados Baleia Rossi (MDB-SP) e Arthur Lira (PP-AL), os dois principais candidatos à presidência da Casa. O assunto foi levado às redes sociais pelo líder do PP, que foi rebatido pelo emedebista e criticado por aliados do candidato apoiado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Desde o fim de dezembro Lira aguarda a resposta de Maia a uma consulta feita pelo presidente nacional do PP, senador Ciro Nogueira (PI), que solicitou esclarecimento sobre as regras da disputa por causa da pandemia de covid-19. No entanto, diante do silêncio e de rumores de que o presidente da Câmara dos Deputados considerava a hipótese de estabelecer que a votação poderia ser feita remotamente, Lira reagiu ontem nas redes sociais.
“Nas eleições (municipais), 148 milhões de eleitores tiveram a obrigação de ir às urnas e votar em plena pandemia", escreveu, complementando que, agora, os adversários estariam defendendo o voto remoto. “Qual a verdadeira intenção por trás disso?”, questionou.

Aliados do deputado também questionam a inviolabilidade do sistema remoto, uma vez que os parlamentares poderiam exibir imagens da votação. Apesar disso, a Câmara já realizou duas votações secretas durante a pandemia. Em 27 de outubro, quando boa parte dos deputados já trabalhava remotamente, a Câmara elegeu Mário Maia como membro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e reconduziu Otávio Luiz Rodrigues Junior como representante da Casa no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

Após a publicação de Lira, Rodrigo Maia disse que não tomou nenhuma decisão a respeito do assunto. Reservadamente, contudo, o presidente da Câmara considera fazer uma votação mista, para preservar a saúde de parlamentares idosos e com comorbidades.
Já Baleia Rossi classificou como “síndrome de Trump” as críticas do concorrente, depois de questionado se Lira estava se comportando como o presidente Jair Bolsonaro, que reiteradamente levanta suspeitas sobre a lisura da votação pela urna eletrônica e cobra a implantação do voto impresso. “Isso foi um factoide que não existe”, disse Baleia, sobre a possibilidade de a votação se realizar virtualmente.

Alinhado a Lira, o senador Ciro Nogueira, defendeu, em nota oficial da Executiva do PP, que a votação seja presencial. “Havendo absoluta coerência com a decisão da Justiça Eleitoral, que determinou votação presencial nas eleições de 2020, o Regimento Interno da Câmara dos Deputados contempla exclusiva votação presencial, sem previsão de eleições remotas”, destacou.

No comunicado, Ciro Nogueira também argumentou que “milhares de brasileiros, em plena pandemia”, foram obrigados a ir às urnas, com riscos à saúde, mas respeitando a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Afirmou ainda que Maia “deve respeitar os regulamentos, reconsiderando intenção de promover eleições à distância para escolha de seu sucessor e da nova Mesa Diretora, como sinalizou”.