Título: Na ONU, Lula defende a Bolívia
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/09/2008, Internacional, p. A21

Em discurso na Assembléia Geral, presidente elogiou a atuação da Unasul durante crise.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou a atuação da Unasul, grupo que congrega todos os países sul-americanos, durante a atual crise na Bolívia, afirmando que a organização deu "uma resposta rápida e eficaz frente a situações complexas" e explicando que respalda "o governo legitimamente eleito, suas instituições democráticas e sua integridade territorial", mas apela "ao diálogo como caminho para a paz".

Como de praxe, o presidente do Brasil foi o primeiro a discursar na 63ª Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, em Nova York. Ele foi seguido pelos seus colegas dos Estados Unidos, George Bush, e da França, Nicolas Sarkozy. Segundo a ONU, pelo menos 79 chefes de Estado e 38 chefes de governo comparecem ao evento.

Diante da comunidade internacional, o presidente enfatizou o compromisso brasileiro com o Haiti, fazendo um "chamado internacional à solidariedade dos países desenvolvidos com o Haiti muito prometida e pouco cumprida".

Além de elogiar a Unasul, Lula destacou o papel que vem sendo cumprido por articulações dos países em desenvolvimento, como o G-20 e os Brics.

Lula criticou também a demora na reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, cuja representação, considerou, está distorcida e é obstáculo ao multilateralismo: ­ As Nações Unidas discutem há 15 anos a reforma do Conselho de Segurança. A estrutura vigente, congelada há seis décadas, responde cada vez menos aos desafios do mundo contemporâneo ­ cravou, acrescentando que é "muito auspiciosa a decisão da Assembléia Geral de iniciar prontamente as negociações".

Hoje à noite, uma reunião de alto nível entre chefes de Estado, convocada pelo primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, discutirá a crise financeira internacional. O presidente boliviano Evo Morales tem a intenção de buscar junto à ONU o apoio da comunidade internacional nos esforços para alcançar um acordo político que ponha fim à crise que levou o seu país à beira de uma guerra civil. É a primeira fala de Morales nos EUA depois da decisão de expulsar o embaixador americano na Bolívia, Philip Goldberg, a quem acusou de conspirar e alentar aspirações separatistas da oposição.

Suspensão de protesto

Os sindicatos rurais que apóiam Morales começaram ontem a suspender os bloqueios nos acessos a Santa Cruz, numa surpreendente decisão destinada a facilitar um acordo entre o governo e a oposição. O governo espera a resposta dos governadores de Santa Cruz, Tarija e Beni à proposta do governo para conciliar as reivindicações de autonomia com a adoção de uma nova Constituição para a Bolívia.

O dirigente nacional dos cocaleiros, Asterio Romero, disse que o cerco a Santa Cruz foi suspenso porque "pode haver enfrentamento e não queremos que haja derramamento de sangue e depois se culpe ao companheiro Evo".

O dirigente advertiu, porém, que os movimentos sociais voltarão a pressionar nas estradas se os governadores oposicionistas não assinarem o acordo com o governo para o referendo da nova Constituição. Dionisio Cabrera, da Confederação Única de Camponeses, disse à rádio Fides que até às 16h (17h em Brasília) haviam sido suspensos quatro dos seis bloqueios principais, e que os acessos a Santa Cruz ficariam livres à noite.