Valor econômico, v. 21, n. 5163, 08/01/2021. Política, p. A8

 

PT deve apoiar candidato do DEM no Senado

Renan Truffi

Vandson Lima

08/01/2021

 

 

De olho em cargos em comissões, senadores petistas antecipam debate sobre apoio na disputa pelo comando da Casa
Preocupada com a possibilidade de perder cargos estratégicos em comissões no Senado, a bancada do PT decidiu antecipar o debate sobre o posicionamento do partido nas eleições pela presidência da Casa. Os seis senadores da legenda se reuniram ontem, por videoconferência, para discutirem os rumos da sigla na disputa. A tendência é que os petistas apoiem a candidatura de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), apadrinhado de Davi Alcolumbre (DEM-AP), mas alguns integrantes do partido defendem que o grupo espere mais alguns dias para chegar num consenso.

O debate estava marcado para acontecer apenas na próxima semana, mas ganhou caráter de urgência depois dos anúncios feitos por partidos como PSD e Pros, que optaram por fazer uma aliança em torno da chapa de Pacheco e Alcolumbre.
A pressa do PT tem relação com a necessidade de o partido conseguir espaços em comissões e cargos na Casa. A legenda quer comandar a Comissão de Assuntos Sociais (CAS), que hoje está sob o comando do Podemos. A avaliação é que, no último pleito, os petistas ficaram com a brocha na mão ao lado do senador Renan Calheiros (MDB-AL), que desistiu da votação após perceber que seria derrotado por Alcolumbre. Após o resultado, o partido teve que buscar ajuda de interlocutores para conseguir um espaço na Mesa Diretora.

Além disso, o PT não tem mostrado empolgação com os nomes que estão colocados pelo MDB para fazer a disputa contra o DEM. Dos quatro pré-candidatos colocados pela sigla, três não contam com a simpatia dos petistas: Simone Tebet (MDB-MS), Eduardo Gomes (MDB-TO), líder do governo no Congresso, e Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), líder do governo no Senado. O único que teria apoio do partido seria Eduardo Braga (MDB-AM), que ainda depende de validação da bancada para se tornar candidato oficial da legenda.

“O MDB perdeu gás. Dos quatro pré-candidatos, o PT tem resistência a três: dois por serem líderes do governo Bolsonaro e a Simone, em razão das pautas”, disse uma fonte. Além disso, os petistas acreditam que o fato de o MDB estar rachado dificultou o cenário para um movimento alternativo. Integrantes da própria bancada emedebista estariam, nos bastidores, esvaziando a disputa e minimizando as chances de um integrante do partido superar as articulações de Davi.
“[O próprio] MDB tem dito que o critério da proporcionalidade acabou, o que tira a legitimidade de reivindicação direta, da qual eles sempre se beneficiaram”, complementou um interlocutor. Caso os parlamentares do PT decidam, efetivamente, dar apoio a Pacheco, o DEM terá uma base de pelo menos 25 votos: 11 do PSD, cinco do próprio DEM, três do Pros e seis do PT.

Nos bastidores, os dirigentes do DEM demonstram otimismo com a possibilidade de a aliança ser concretizada, apesar da rivalidade entre os petistas e democratas na Bahia, por exemplo. O Estado foi palco de disputa entre os grupos do senador Jaques Wagner (PT-BA) e do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM-BA). O parlamentar petista estaria inclinado a aceitar a composição em nome de um cenário melhor para o PT no Senado Federal.