Título: BC facilita crédito com novas regras
Autor: Aliski, Ayr
Fonte: Jornal do Brasil, 25/09/2008, Economia, p. A15

Medidas reduzem recolhimento compulsório dos bancos e injetam R$ 13 bilhões na economia

BRASÍLIA

Os respingos da crise financeira internacional mostram sinais no Brasil. Ontem, para evitar queda de liquidez no mercado interno, o Banco Central anunciou duas alterações nas regras dos recolhimentos compulsórios ­ parcela dos depósitos recebidos pelos bancos forçosamente recolhida aos cofres da instituição. A primeira medida é o adiamento em dois meses no cronograma de implementação do recolhimento compulsório em títulos federais sobre Depósitos Interfinanceiros captados de sociedades de arrendamento mercantil, que entraria em vigor em 14 de novembro. Fica ampliado de R$ 100 milhões para R$ 300 milhões o valor a ser deduzido pelas instituições financeiras do cálculo da exigibilidade adicional sobre depósitos à prazo, de poupança e recursos à vista. A estimativa é que as medidas tenham impacto de R$ 13 bilhões, em um universo de crédito interno que totaliza R$ 1,1 trilhão.

A decisão de adotar recolhimento compulsório em títulos federais sobre depósitos captados por sociedades de arrendamento mercantil foi anunciada em março deste ano. O recolhimento, que hoje é de 15%, sobe para alíquota de 20% em 14 de novembro de 2009. Também ficou decidido que a adoção de alíquota de 25%, prevista para entrar em vigor em 16 de janeiro, passa a ser aplicada em 13 de março de 2009. Sobre a ampliação de R$ 100 milhões para R$ 300 milhões no valor a ser deduzido do cálculo da exigibilidade adicional, o BC informa que as alíquotas permanecem inalteradas em 8% para depósitos à prazo e sobre os recursos à vista e de 10% para os depósitos de poupança. ­ O quadro geral é que a crise de liquidez continua forte ­ diz Caio Megale, economista da Mauá Investimentos, sobre o pacote norte-americano de socorro ao sistema financeiro. ­ As linhas de crédito para as empresas praticamente secaram. O economista da Mauá avalia que a mudança no compulsório é bem tímida, mas sinaliza que as autoridades brasileiras estão atentas aos reflexos da crise internacional.

Crescimento será mantido

Megale destaca que a economia nacional está aquecida, e que o BC acionou mecanismos para manter o crescimento sem elevar a inflação. ­ O BC vai aumentar menos os juros ­ avalia. O economista da Mauá admite que chegou a projetar duas elevações de meio ponto percentual para a taxa Selic, e agora aposta em alta de 0,5% e outra de 0,25%. ­ O Brasil tem uma economia ainda fechada e crédito interno, mas perante à crise, ninguém é blindado de forma absoluta ­ diz. ­ A medida é oportuna ­ avalia o economista Bruno Rocha, da Tendências consultoria. Ele explica que os bancos que atuam no Brasil enfrentam momento de restrição de liquidez, resultado da retração na capacidade de captação de recursos externos. Quando há crédito externo, os custos atualmente estão mais elevado. Para ele, os R$ 13 bilhões da medida são tímidos perante o estoque total de crédito interno, mas eficaz no sentido de sinalizar que o governo está atento para conter eventuais sinais da crise financeira internacional. ­ A crise não passou.

Tem que ficar atento ­ diz. ­ Essas mudanças estão mais relacionadas ao combate à retração da liquidez do que às condições da política monetária. Rocha aposta em alta da Selic nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O economista Bráulio Borges, da LCA Consultoria, explica que o BC tenta equilibrar o combate à inflação e não impedir o crescimento econômico. ­ Essa medida tem caráter preventivo, pois a crise internacional está forte e não sabemos quanto tempo vai durar ­ comenta Borges. O BC estaria apostando em um arrefecimento da crise, esperado com a consolidação dos efeitos do pacote americano de socorro ao sistema financeiro. Para Borges, mesmo que se espere cenário positivo, não se pode desconsiderar a hipótese de continuidade das dificuldades no mercado financeiro mundial.