Correio braziliense, n. 21013, 05/12/2020. Política, p. 4
Mourão: assessores fazem intrigas
05/12/2020
O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou, ontem, que existe "certa incompreensão" no seu relacionamento com o presidente Jair Bolsonaro, fruto de "intrigas palacianas". Mourão citou que parte dos assessores do chefe do Planalto "distorcem fatos" sobre as ações realizadas pela vice-presidência.
"Muitas vezes há incompreensão de parte de alguns assessores do próprio presidente que procuram distorcer fatos e levar uma outra realidade em relação às ações que eu tenho procurado realizar", disse, em entrevista ao jornalista e advogado Paulo Roque.
Mourão ressaltou que seu relacionamento com o presidente é baseado na "lealdade e disciplina intelectual". Ao citar que guia seu trabalho para assessorar Bolsonaro "na difícil tarefa de governar o país", o vice foi questionado se estava conseguindo realizar a tarefa.
"Em muitos aspectos, sim (consigo ajudar). Outros, muitas vezes ,há uma certa incompreensão, mas isso eu coloco sempre com fruto das intrigas palacianas que são comuns em todo e qualquer governo", disse.
A crítica de Mourão veio no mesmo dia em que uma reportagem de O Estado de S.Paulo expôs que um grupo de blogueiros e influenciadores digitais apoiadores de Bolsonaro faturou altas quantias com a monetização das suas plataformas, que compartilhavam desinformação e assuntos que interessavam ao Palácio do Planalto. Assessores diretos de Bolsonaro tinham relacionamento estreito com essas pessoas.
Recentemente, Mourão e Bolsonaro divergiram sobre assuntos relacionados à vacina contra a covid-19 e às eleições nos Estados Unidos. Ele destacou que lida com os "ruídos" na relação com Bolsonaro "da forma mais calma possível".
Ele admitiu que o governo falhou em não sugerir uma diretriz única de orientação para os entes da federação no combate à pandemia. Para Mourão, não havia outra saída senão deixar gestores locais atuarem.
"Acho que, naquele momento, talvez o mais eficaz para o governo seria ter colocado uma diretriz e cada ente nacional aderiria a essa diretriz, de acordo com as suas necessidades e momento. Acho que isso foi uma falha que nós tivemos. Nós poderíamos ter feito uma diretriz; fizemos isso de forma informal", observou.
Mourão ainda afirmou que aceitaria convite de Bolsonaro para compor novamente a chapa, em uma possível reeleição nas eleições de 2022. A aliados, o presidente deu sinais de que não pretende manter o general como vice na nova corrida eleitoral.
"Se o presidente assim o desejar, e se for candidato a reeleição, e desejar que eu esteja ao lado dele, estamos prontos para essa trajetória, apoiando o presidente", disse.