Título: Equador ameaça não pagar BNDES
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 25/09/2008, Economia, p. A16

Rafael Correa afirma que uso do crédito pela Odebrecht tem graves irregularidades.

O presidente do Equador, Rafael Correa, disse que ainda avalia se irá pagar um empréstimo de mais de US$ 200 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que financiou a construção da central hidrelétrica San Francisco, a cargo da Odebrecht, parada há mais de dois meses por danos nas turbinas. ­ Nós pensamos seriamente em não pagar este crédito do BNDES, concedido por meio da Odebrecht para a construção de San Francisco, com graves irregularidades, porque é dinheiro que nem sequer entra no país ­ disse Correa. Correa alega que a quantia aparece legalmente como um empréstimo do Brasil ao Equador, mas foi direcionado à construtora. ­ É dinheiro que se contabiliza como empréstimo interno e, na verdade, é um dinheiro que se dá à empresa. É um empréstimo de centenas de milhões de dólares, de mais de 200 milhões, para um projeto que não serve ­ acusou o presidente equatoriano.

Correa tem preocupado investidores desde que assumiu a Presidência do Equador, com ameaças de não pagar débitos estrangeiros que, segundo ele, foram estabelecidos sob termos injustos por governos anteriores. O presidente informou que revisou na noite de terça o relatório final das principais dívidas externas do país, para determinar quais empréstimos serão quitados. O Equador reclama uma indenização pela paralisação da hidrelétrica San Francisco, parada desde junho. O presidente havia proibido, por decreto, que os funcionários da Odebrecht deixassem o país. De acordo com o ministério das Relações Exteriores do Brasil, a embaixada brasileira no Equador mantém dois dos funcionários da empresa como "hóspedes". Outros dois funcionários já estão no Brasil, disse o Itamaraty. Segundo Correa, o embargo dos bens da Odebrecht não deve ter repercussões nas relações entre Brasil e Equador. ­

Não acredito que teremos repercussões internacionais. Eu gosto muito do Brasil, mas o que esta empresa tem feito no Equador é terrível ­ disse o presidente. A Odebrecht informou em nota liberada ontem que as obras de reparos na hidrelétrica seriam entregues no próximo dia 4 caso o governo equatoriano não tivesse tomado a decisão de terça-feira. A construtora afirma que entregou a obra nove meses antes do previsto e, em junho, após uma parada de manutenção e inspeção, foram detectados alguns problemas pontuais. ­ É importante salientar que seguíamos a execução das obras em ritmo normal, apesar de termos faturas pendentes de pagamento por parte do governo, da ordem de US$ 50 milhões ­ disse a companhia, em nota.