Título: Renan, o conciliador
Autor: Agaciel da Silva Maia
Fonte: Jornal do Brasil, 28/02/2005, Outras Opiniões, p. A11

O senador Renan Calheiros assumiu a presidência do Senado Federal, e aos 49 anos passa a ser o segundo mais jovem senador a assumir essa importante função na longa história do Senado. Certamente que esta foi uma vitória das características e habilidades pessoais do senador alagoano. E dentre estas características, emerge o seu perfil conciliador e uma capacidade ilimitada para pacificar interesses, concluir acordos, deixando sempre brilhar os mais lídimos interesses da sociedade brasileira. Com esta eleição, Alagoas oferece à casa maior do Parlamento nacional o seu terceiro presidente. Antes dele, ainda no tempo do Império, ocuparam essa função o Visconde de Sinimbu (1810/1906) e pouco tempo depois, o marechal Floriano Peixoto (1839-1895), em uma época em que o vice-presidente da República acumulava a função de presidente do Senado.

Mas, para os aficionados em história brasileira, é patente que Alagoas não é apenas a ''Terra dos Marechais'', epíteto que lhe foi concedido por ter sido o berço dos dois primeiros presidentes do Brasil: Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. Alagoas também deu ao Brasil diversos expoentes da cultura nacional, personalidades como o escritor Graciliano Ramos, consagrado autor de obras-primas como Angústia, Vidas Secas; Aurélio Buarque de Holanda, cujo nome é hoje homônimo para dicionário em língua portuguesa; o jurista Pontes de Miranda, autor de diversos livros de referência em sua área, publicados em diversas línguas.

Apesar da pouca idade, longa é a folha de serviços prestados à nação pelo atual presidente. Renan Calheiros exerceu os mandatos eletivos de deputado estadual (1979-1983), deputado federal (1983-1991), tendo sido eleito senador da República (1995-2003) e reeleito para um novo mandato (2003-2011). Jovem e idealista, como deputado constituinte Renan foi autor da proposta do voto aos 16 anos, concedendo assim a milhões de jovens do país a condição de usufruir um dos predicados básicos da cidadania.

Destaque para sua luta diuturna em favor da proibição da venda e do uso de armas. Empreendendo uma verdadeira cruzada para desarmar a população, ainda quando ocupava o Ministério da Justiça, no governo Fernando Henrique Cardoso (1998/1999), Renan conduziu o envio ao Congresso Nacional do mais importante projeto sobre o tema. Um projeto que fez história, desembocando no Estatuto do Desarmamento. De não menos importância podemos destacar de suas iniciativas à frente do Ministério da Justiça temas que são uma constante em sua atuação política: a ética, a cidadania e os direitos humanos. E foi nesse contexto que Renan atuou visando o resgate de mulheres brasileiras em Israel, exploradas como escravas sexuais na prostituição; a valorização dos direitos do consumidor, com o fortalecimento da Secretaria de Direito Econômico e do Conselho Administrativo do Direito Econômico; a criação da idéia do Registro único, que pretendia resumir num único documento dados do título de eleitor, CPF, carteira de identidade, de motorista, tipo sanguíneo, se doador de órgãos; bem como a fomentação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.

Se um homem público é conhecido por suas idéias, é instigante observar que o presidente do Senado é autor de quase duas dezenas de obras. Nelas, encontramos reflexões sobre o exercício da cidadania, as causas do desemprego, a necessidade das mudanças sociais, o firme apego aos ideais democráticos, e também outros temas candentes da realidade brasileira, como a importância do rio São Francisco na geopolítica nacional.

Ao observador atento, vale a pena refletir sobre as palavras com que abriu seu discurso de posse, ocorrida no dia 14 deste mês: ''O consenso, em lugar do confronto. A concórdia em vez do dissenso. A compreensão e o entendimento substituindo a discórdia.'' E mais adiante, faz sua profissão de fé no valor do diálogo como instrumento de decisão eficaz: ''O diálogo, a busca do entendimento e a convergência de idéias não substituem o debate, nem significam a renúncia aos princípios em que acreditamos, aos valores que defendemos e às convicções a que nos arraigamos. Significa, sim, a submissão àquele que é o compromisso primeiro do Senado: o compromisso com a Nação.''