Correio braziliense, n. 21014, 06/12/2020. Cidades, p. 17

 

Efeitos no cotidiano do brasiliense

06/12/2020

 

 

A área com maior previsão de despesas enfrentou dilemas em 2020 e tem o desafio de diminuir desigualdades em 2021. Durante a pandemia, os investimentos na educação pública precisaram alcançar mais do que as instituições de ensino, que estão de portas fechadas, e chegar aos lares. Diversas famílias do Distrito Federal encaram o cenário de falta de instrumentos necessários para participar das aulas virtuais, como acontece com Ricardo Rodrigues Sansão, 27 anos, e Gesimilza Rodrigues Coelho, 29.

O casal tem quatro filhos, de 11, 5, 4 e 2 anos, e os dois mais velhos precisaram se adaptar às atividades virtuais sem computador em casa. "Tivemos de instalar internet em casa por causa disso (das aulas a distância), porque não tínhamos antes. Um plano bom custa mais de R$ 90. Computador não temos como comprar, então, eles (os filhos) dividem um celular para fazer as tarefas. Quando a escola começou a enviar materiais impressos, ajudou bastante. Mas a gente sabe que a situação ainda é muito desigual. Os colégios particulares têm muito investimento, e quem não tem dinheiro tem muito sofrimento", lamenta Ricardo.

Em 2021, Adryan, o filho de 4 anos de Ricardo e Gesimilza, começará os estudos, aumentando as dificuldades da família, que tem três crianças atendidas pelo ensino remoto. "Neste ano, a gente teve de se desdobrar para que os dois (mais velhos) não perdessem o período letivo. Meus filhos usam meu celular, que até quebrou recentemente, mas conseguimos ajuda da líder comunitária e ela nos deu outro", conta a mãe. "Essas atividades têm de ter acompanhamento dos pais, para ajudar. Estou desempregada, e meu marido, afastado do trabalho, de licença médica. Mas, em muitos lugares, os pais trabalham o dia todo e não conseguem auxiliar os estudantes", completa Gesimilza.

Na casa de Elisvânia da Silva, 32, há dois adolescentes em idade escolar e falta o suporte tecnológico para as atividades pedagógicas. A doméstica mora com o marido e os dois filhos, de 13 e 17 anos. O único jeito de fazer os exercícios do colégio é com o celular da mãe, quando ela não está no trabalho. "A escola chegou a dizer para os pais que poderia chamar o Conselho Tutelar se os alunos ficassem sem entrar na plataforma de aula, mas eu preciso do meu telefone, e eles também. Então, eles acabaram sem fazer as atividades no começo da pandemia", relata.

R$ 44,1 bilhões
Receita estimada para 2021, incluindo recursos do Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF)