Valor econômico, v. 21, n. 5164, 11/01/2021. Mundo, p. A9

 

Especialistas alertam para risco de mais violência

11/01/2021

 

 

Cresce a preocupação com a segurança do presidente eleito, Joe Biden, e da vice-presidente, Kamala Harris, antes da posse em 20 de janeiro
Depois da invasão do Congresso na quarta-feira por uma multidão enfurecida incitada pelo presidente de Donald Trump, especialistas alertam que houve uma intensificação nas postagens clamando mais violência por parte de grupos de ódio e de provocadores de extrema direita diante da iminente posse do presidente eleito, Joe Biden, na próxima semana.
O líder democrata do Senado, Chuck Schumer, alertou ontem que grupos extremistas podem estar planejando novos ataques e pediu ao FBI (a polícia federal americana) para permanecer em alerta. “A ameaça de grupos extremistas violentos continua alta e as próximas semanas serão críticas para o nosso processo democrático com a posse do presidente eleito Joe Biden e da vice-presidente eleita Kamala Harris” no próximo dia 20 de janeiro, disse Schumer.

Após o fracasso em proteger o Congresso na semana passada, há preocupação por parte de alguns democratas com relação a segurança de Biden e da vice-presidente eleita, Kamala Harris. Schumer conversou com o diretor do FBI, Christopher Wray, no sábado e pediu para que a agência “busque implacavelmente” os manifestantes violentos que atacaram o Congresso. Segundo o senador, a “retórica on-line incendiária e perigosa que ocorreu antes de 6 de janeiro, que mostrou ser um alerta do ataque insurrecional, só aumentou desde então”.
Especialistas que monitoram fóruns de mídia social de grupos extremistas pró-Trump, dizem que o tom das postagens estão cada vez mais virulentas e não está claro se o presidente, mesmo se quisesse, teria algum poder em controlar seus apoiadores mais radicais.

John Scott-Railton, pesquisador do Citizen Lab da Universidade de Toronto, disse à CNN que seu grupo está vendo evidências de que a data da posse de Biden pode se tornar outro ponto crítico. “Embora o público em geral tenha ficado horrorizado com o que aconteceu no Congresso, em certos grupos de direita, o que aconteceu é visto como um sucesso”, disse.

“Trump SERÁ empossado para um segundo mandato em 20 de janeiro!!”, disse um comentarista no thedonald.win, um fórum online pró-Trump, na quinta-feira, um dia depois do ataque contra o Congresso. “Não podemos deixar os comunistas vencerem. Mesmo se tivermos que queimar DC até o chão. Amanhã vamos retomar a DC e retomar nosso país!!”

As preocupações com o risco de violência nos EUA se estendem além do Congresso e seus arredores imediatos. A American e a United Airlines, com o apoio de dois sindicatos de comissários de bordo, tomaram medidas para reforçar a segurança aérea e terrestre. Ambas as companhias aéreas aumentaram o quadro de funcionários nos aeroportos da capital, Washington DC. A American até mesmo suspendeu temporariamente de seu serviço de bordo as bebidas alcoólicas em voos de e para a capital americana.

Membros do Congresso também receberão escolta de segurança reforçada em seus deslocamentos de viagens depois que vários senadores, incluindo o republicano Lindsey Graham - que rompeu com o presidente Trump na semana passada - foram ameaçados por outros viajantes.
Legisladores democratas avaliam que, se não fosse a falta de organização dos invasores e as ações de alguns integrantes da força policial do Congresso, o número de vítimas poderia ter sido muito maior. Alguns defendem uma revisão radical da segurança no Congresso, examinando não apenas a logística, mas a composição do pessoal encarregado da segurança. Há ainda um pressão por parte dos democratas para formar uma comissão para investigar a ação da polícia do Congresso na quarta-feira.

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Impeachment de Trump pode ser barrado no Senado

Kiran Stacey

11/01/2021

 

 

Parlamentares graduados de ambos os partidos manifestaram sua oposição à medida
Uma medida urgente tomada pela segunda vez pelos democratas no Congresso para submeter Donald Trump a impeachment esbarra na resistência do Senado dos EUA. Parlamentares graduados de ambos os partidos manifestaram sua oposição à medida.

Os democratas da Câmara dos Deputados planejam pôr em votação o impeachment do presidente por “incitação a insurreição” na terça ou quarta-feira, após ter reunido quase 200 assinaturas em apoio à medida. Trump pode se tornar o primeiro presidente na história do país a ser alvo de tentativa de impeachment por duas vezes, se a votação for aprovada na Câmara, de controle democrata.

Mas, embora um número crescente de republicanos tenha criticado o presidente por sua participação como fator catalisador da violência contra a sede do Congresso dos EUA na semana passada, nenhum deles disse que votará a favor de condená-lo no Senado por ter cometido delito. Vários disseram que não consideram o impeachment a melhor maneira de fazer com que Trump responda por seus atos e pelos atos de seus apoiadores.
“O melhor caminho para o nosso país é o presidente renunciar e se afastar o quanto antes”, disse Pat Toomey, um dos senadores republicanos que capitaneou a condenação do presidente à NBC News. Ele duvida que seja possível aprovar um impeachment a Trump durante o curto período que ele ainda tem de governo ou depois.

As preocupações de Toomey foram corroboradas pelo senador democrata Joe Manchin, que disse não querer que trâmites de impeachment dispersem a atenção de Biden em seu início de governo.

Trump foi violentamente condenado por insuflar uma multidão de apoiadores, que, em seguida, atacou o Congresso, no Capitólio, o que resultou na morte de cinco pessoas, entre as quais um policial. Os participantes do distúrbio paralisaram por pouco tempo a homologação da vitória eleitoral de Biden - que Trump continua a dizer, falsamente, ser ilegítima -, quebraram peças de mobiliário e posaram para fotos.
Embora os membros do Congresso tenham se abrigado em uma sala segura em meio à violência, eles podem ter sido expostos ao novo coronavírus, de acordo com o que se constatou ontem. Brian Monahan, médico do Congresso, contatou membros por e-mail no domingo, advertindo: “Indivíduos podem ter sido expostos a outro ocupante infectado pelo novo coronavírus”.

A invasão rachou o Partido Republicano entre membros fiéis a Trump e republicanos tradicionais, que defendem rompimento pós-derrota da legenda com a política praticada pelo presidente.

Vários membros do governo Trump renunciaram, enquanto outros defenderam que ele enfrente acusações penais quando deixar o cargo. O ex-secretário de Governo do presidente Mick Mulvaney, que renunciou na semana passada a seu cargo de enviado especial à Irlanda do Norte, disse que os acontecimentos de quarta-feira foram “uma ameaça basilar aos Estados Unidos”. Como consequência, ele previu que seu partido vai colocar Trump no ostracismo.

“Achei que o presidente seria presidencial... Não sei o que está acontecendo no Salão Oval agora e não sei o que está acontecendo na cabeça do presidente”, disse Mulvaney à NBC News.

Arnold Schwarzenegger, ex-governador republicano da Califórnia, comparou a violência de quarta-feira à Noite de Cristal, o ataque nazista contra os judeus na Alemanha em novembro de 1938. “Quarta-feira foi a Noite de Cristal aqui mesmo, nos Estados Unidos... [Trump] tentou um golpe ao enganar pessoas com mentiras.”

Além disso, os doadores começaram a dar as costas aos aliados republicanos de Trump. Pelo menos três grandes doadores corporativos disseram que deixarão de dar dinheiro a determinados membros do partido. A rede hoteleira Marriott International afirmou que não doará a senadores republicanos que votaram contra a homologação da vitória eleitoral de Biden.

Embora os democratas estejam se preparado para mover o impeachment contra o presidente nesta semana, é provável que adiem o encaminhamento da questão para julgamento no Senado para depois de sua saída da Casa Branca. Nesse momento, os senadores poderão pôr em votação se proibirão ou não o presidente de concorrer ao cargo futuramente, numa iniciativa que poderá frustrar os planos de Trump de disputar novamente a Presidência em 2024.
Jim Clyburn, líder da bancada democrata, majoritária, na Câmara dos Deputados, disse que eles poderiam até adiar o começo de um julgamento no Senado para depois dos cem primeiros dias do governo Biden.

Vencer uma votação no Senado deverá se mostrar tarefa muito mais difícil, no entanto, do que aprovar um impeachment contra Trump. Uma vitória exige uma maioria de dois terços no Senado e, embora vários senadores republicanos tenham defendido que Trump renuncie ao cargo nos próximos dez dias, nenhum deles disse categoricamente que votará por sua condenação. O senador republicano Ben Sasse, de Nebrasca, afirmou que “estudará a possibilidade” de votar favoravelmente à condenação de Trump.

O próprio presidente em fim de mandato tem-se mantido atipicamente silencioso, ao ter tido seu megafone preferido eliminado quando o Twitter suspendeu sua conta, na sexta-feira.

Ao lado da decisão da Amazon, do Google e da Apple de tirar a rede social de direita Parler de suas plataformas, essa medida provocou forte reação conservadora contra as empresas de tecnologia.

“O EXPURGO, a censura & o abuso de poder das Big Techs é absurdo & profundamente perigoso”, tuitou Ted Cruz, senador do Texas que capitaneou o movimento a favor de negar a homologação da vitória de Biden no Colégio Eleitoral.

Por seu lado, autoridades continuam a anunciar mais prisões devido à violência de quarta-feira. Michael Sherwin, procurador-geral em exercício do Ministério Público do Distrito de Columbia (onde se situa a cidade de Washington), disse à NPR que “centenas” de pessoas poderão acabar enfrentando acusações pelo ataque ao Congresso, que deixou cinco mortos.

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Últimos dias de presidente no cargo podem ser tumultuados

 

Jennifer Jacobs

Mario Parker

Josh Wingrove

11/01/2021

 

 

Presidente planeja ocupar seus últimos dias no cargo destacando o que ele acredita serem suas maiores conquistas
Banido das redes sociais e abandonado por alguns membros do seu Gabinete após incitar a invasão do Congresso, o presidente Donald Trump e seu círculo cada vez menor de conselheiros planejam uma semana final desafiadora no cargo, segundo pessoas a par do assunto. Trump está confiante que o vice-presidente Mike Pence e os membros de seu Gabinete não tentarão removê-lo do cargo usando a 25ª Emenda da Constituição, segundo essas fontes.

Pence rejeita a ideia de tentar usar essa autoridade para tirar Trump do cargo. Porém, em meio à incerteza sobre o comportamento de Trump nos próximos dias, uma fonte ouvida pela CNN no fim de semana disse que Pence não descarta a possibilidade de usar o recurso constitucional extremo de afastar o presidente. A relação entre Trump e Pence está abalada, eles não se falam desde a invasão do Congresso. Segundo pessoas próximas, o presidente em nenhum momento se preocupou em verificar a segurança de seu vice.
O senador republicano James Inhofe, disse ao jornal “Tulsa World” que “nunca viu Pence tão zangado” como depois de ser criticado por Trump por não intervir na contagem dos votos do Colégio Eleitoral do Congresso. Trump tuitou que faltava “coragem” a Pence.

Trump planeja ocupar seus últimos dias no cargo destacando o que ele acredita serem suas maiores conquistas, incluindo o muro que sua administração construiu em parte da fronteira dos EUA com o México. Uma viagem a Alamo, Texas, perto da fronteira, é esperada na terça-feira, disse um porta-voz da Casa Branca.

Trump também está preparando ao menos mais uma rodada de indultos presidenciais e tentará uma última vez para avançar os esforços de seu governo para subjugar as Big Techs, segundo pessoas próximas ao grupo do presidente, embora não esteja claro o que ele pode fazer.

Em suma, é uma última tentativa de reabilitar o legado de Trump depois que seus atacaram o Congresso, que deixou cinco mortos, incluindo um policial.
Trump não deu nenhuma indicação de que está considerando renunciar, como muitos democratas e alguns republicanos exigiram.

A aparente confiança de Trump esconde o perigo político e legal que enfrenta. Por um lado, os democratas estão determinados em responsabilizar o presidente pelo ataque ao Congresso. Até mesmo alguns republicanos reconhecem que suas ações justificam um impeachment. Além disso, promotores federais não descartaram processar Trump por seu papel no distúrbio de quarta-feira.

As opiniões de Trump normalmente não seriam um grande segredo. Mas sem sua conta no Twitter, @realDonaldTrump, e depois de uma tentativa frustrada de postar de contas alternativas, um silêncio assustado tomou conta da Casa Branca.

As imagens do ataque contra umas das instituições democráticas do país chocaram o público geral americano e muito defendem o afastamento de Trump antes do fim do seu mandato. Cerca de 57% dos americanos querem que o presidente seja removido imediatamente, segundo pesquisa da Reuters / Ipsos publicada na sexta-feira. Além disso, quase 70% desaprovam as ações de Trump que levaram à invasão do Congresso.

Para Trump e alguns de seus aliados os democratas estão exagerando ao tentar mais uma vez impeachment por causa da invasão ao Congresso e acham que a condenação no Senado seria improvável de qualquer forma. Para um assessor próximo ao presidente, um novo impeachment seria um presente político para Trump.

Um impeachment ou a destituição do cargo faria do presidente um mártir em sua base, disse uma fonte. Se o vice-presidente liderar um esforço para afastá-lo, isso apenas reforçaria os argumentos de Trump de que o establishment e, Washington há muito se empenha em se opor a ele, disse outra fonte.
O presidente e seus assessores acreditam que um novo impeachment e a censura imposta pelas redes sociais deixam seus apoiadores ainda mais motivados. Para o presidente, o impeachment pode ter um efeito bumerangue sobre os democratas, disse uma pessoa.
Trump e sua equipe planejam responder à ação do Twitter, que baniu sua conta pessoal, apoiando-se em sua luta contra o que ele chama de censura por parte das grandes empresas de tecnologia. O presidente há muito exige que o Congresso revogue a Seção 230, uma isenção de responsabilidade da qual as empresas de mídia social dependem para permitir um discurso relativamente livre em suas plataformas. Trump preparou várias ordens executivas relacionadas a grandes empresas de tecnologia, mas não está claro se alguma será emitida, disse uma fonte.

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Ataques nos EUA assustam a Europa

Kate Abnett

11/01/2021

 

 

Comissão Europeia, propôs no mês passado a adoção de medidas restritivas às notícias falsas nas redes sociais
A Europa acompanhou receosa as manifestações de eleitores americanos na invasão ao Capitólio. A autoridade máxima da diplomacia da União Europeia (UE) disse que o ataque à sede do Congresso dos EUA expôs os perigos de se permitir, sem restrições, a deterioração dos valores democráticos e a propagação da desinformação nas redes sociais.
“O que vimos na quarta-feira foi apenas o clímax de desdobramentos muito alarmantes ocorridos em nível mundial nos últimos anos. É preciso que ele represente um grito de alerta para todos os defensores da democracia”, afirmou o alto representante de política externa da UE, Josep Borrell, em postagem em blog.

Na Alemanha, a polícia de Berlim reforçou a segurança em torno do prédio do parlamento alemão, conhecido como Reichstag. Em agosto, a área em frente ao parlamento alemão foi palco de protestos de manifestantes contra as restrições impostas pelo governo devido ao coronavírus.

O presidente americano Donald Trump enfrenta uma nova campanha de políticos democratas para tirá-lo do poder após ter incitado apoiadores a atacar a sede do Congresso dos EUA, com base na acusação não fundamentada de que ele teria perdido a eleição de 3 novembro devido a fraude eleitoral generalizada. O ataque dos participantes da revolta, que se seguiu, resultou em cinco mortos.

“Para quem tem alguma dúvida, os acontecimentos em Washington mostram também que a desinformação constitui uma ameaça real às democracias”, disse Borrell. “Se algumas pessoas acreditarem que uma eleição foi fraudulenta, porque seu líder repetidamente lhes diz isso, vão agir de acordo com isso.”

Borrell defendeu melhor regulamentação sobre as redes sociais e disse que essa tarefa não pode ser realizada pelas companhias.

O Twitter fechou permanentemente a conta pessoal de Trump e o acesso a ela de seus quase 90 milhões de seguidores na sexta-feira, atribuindo a medida ao risco de incitação à violência.
A Comissão Europeia, o órgão executivo da UE, propôs no mês passado a adoção de medidas restritivas às notícias falsas nas redes sociais. Essa iniciativa obrigaria as grandes plataformas on-line a enfrentar conteúdos ilegais e manipulação intencional de plataformas voltados para influenciar eleições e a saúde pública.