Valor econômico, v. 21, n. 5165, 12/01/2021. Política, p. A10

 

Pacheco reúne do bolsonarismo ao PT e começa a isolar MDB no Senado

Renan Truffi

Vandson Lima

12/01/2021

 

 

Com o apoio de cinco partidos, o DEM começou a fechar um arco de alianças que pode dificultar a recuperação do MDB na corrida pela presidência do Senado. Nesta segunda-feira, a candidatura de Rodrigo Pacheco (DEM-MG), apadrinhado de Davi Alcolumbre (DEM-AP), recebeu apoio de mais duas legendas: PT e PSC, que agora se juntam a PSD, Pros e Republicanos, siglas que já haviam ingressados no bloco democrata. A movimentação voltou a pressionar os emedebistas, que devem escolher até o fim desta semana o nome que irá entrar na disputa pelo comando da Casa.
Ao todo, Pacheco já tem uma base de 28 votos para a eleição interna. Como são necessários 41 para a vitória, o DEM precisa agora de apenas 13 apoiamentos para conseguir eleger o sucessor de Alcolumbre, atual comandante da Casa. Caso não haja nenhuma “traição” até o início de fevereiro, por exemplo, o senador mineiro receberá pelo menos os votos de 11 senadores do PSD, seis do PT, três do Pros, dois do Republicanos, um do PSC, além de cinco da própria bancada do DEM.
Principal cabo eleitoral de Pacheco, Alcolumbre continua à frente de viagens e reuniões que têm projetado um cenário favorável ao DEM. Nesta segunda-feira, ele foi ao Rio de Janeiro para conversar com nomes como Romário (Podemos-RJ) e Carlos Portinho (PL-RJ), que assumiu o mandato depois da morte do senador Arolde de Oliveira. O Podemos tem uma das bancadas mais numerosas do Senado, mas ainda está dividido sobre os rumos da eleição. Já o PL tem um bancada menor, de três senadores.
Além disso, o principal trunfo do DEM nos próximos dias pode ser o PP, que tem uma bancada de sete senadores. A sigla é comandada por Ciro Nogueira (PP-PI), parlamentar que tem proximidade com o presidente Jair Bolsonaro. Nos bastidores, a legenda tenta construir uma aliança que traga algum benefício para a candidatura de Arthur Lira (PP-AL) na Câmara dos Deputados, onde DEM e PP estão em lados opostos.
Do outro lado, está o MDB que deve decidir seu candidato até o fim desta semana. O estremecimento nas relações entre a sigla e o Palácio do Planalto, durante o fim de semana, reduziu a escolha do partido a dois nomes: Eduardo Braga (MDB-AM), atual líder do partido, e Simone Tebet (MDB-MS), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Os outros dois pré-candidatos da legenda, Eduardo Gomes (MDB-TO) e Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), perderam força por serem líderes do governo no Legislativo.
Além disso, os emedebistas devem oficializar, nesta quarta-feira, a filiação de mais dois senadores: Veneziano Vital do Rego (ex-PSB) e Rose de Freitas (ex-Podemos). Desta forma, o partido terá 15 senadores e se consolidará como a maior bancada da Casa. Agora a esperança do MDB são os votos de Podemos (nove senadores), PSDB (sete) e Cidadania (três), o que totaliza 19 votos.
A adesão dos petistas ao bloco foi o revés do dia para o MDB. O anúncio contrariou as súplicas de líderes emedebistas para que o partido aguardasse a definição da sua candidatura. Em vez disso, o PT divulgou um comunicado no qual minimizou a aliança com o DEM, do qual é um adversário histórico.
“O PT tem bastante claro que a aliança com partidos dos quais divergimos ideologicamente [...] se dá exclusivamente em torno da eleição da Mesa Diretora do Senado”, diz o trecho. Apesar da proximidade de Alcolumbre e Bolsonaro, o partido também explicou que apresentou “compromissos” junto a Pacheco para “enfrentar a agenda de retrocessos da extrema-direita”.