Valor econômico, v. 21, n. 5166, 13/01/2021. Brasil, p. A3

 

Técnicos da Anvisa se queixam de pressão do instituto paulista para aprovar imunizante

Murillo Camarotto

13/01/2021

 

 

Técnicos da agência consideram que instituto tem forçado a aprovação rápida da Coronavac
A queda de braço entre os defensores das duas principais vacinas contra a covid-19 prometidas para o Brasil desceu da esfera política para a seara técnica. Servidores de carreira da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estão incomodados com o comportamento do Instituto Butantan em relação ao pedido de uso emergencial da Coronavac.
De acordo com técnicos ouvidos pelo Valor, o Butantan “criou uma politização proposital ao anunciar 78% de eficácia” da vacina, número que foi revisado ontem pelo governo de São Paulo para 50,4%. Apesar de estar muito próximo do limite mínimo de eficácia global sugerido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 50%, a vacina continuará sendo anallisada normalmente para uso emergencial.
Também causou grande irritação na Anvisa a possibilidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) determinar que a análise da Coronavac seja feita em 72 horas.

Ao apresentar um dado de eficácia que foi considerado distorcido, o Butantan teria colocado ainda mais pressão sobre a Anvisa, que se viu na obrigação de contestar publicamente a informação, gerando desgastes. Desde a apresentação dos pedidos de uso emergencial, na sexta-feira, técnicos de diversas áreas - sobretudo da Gerência Geral de Medicamentos (GGMed), responsável pela análise de vacinas - trabalham até 18 horas por dia, inclusive no último fim de semana.

Ontem, a Anvisa anunciou que sua diretoria colegiada se reunirá no próximo domingo para decidir sobre os pedidos de uso emergencial das vacinas. Essa programação, no entanto, ainda pode mudar caso o Butantan não encaminhe todas as informações que estão pendentes. De acordo com o boletim mais atualizado da agência reguladora, 5,47% dos documentos exigidos ainda não foram devidamente entregues.
O cumprimento do prazo para a manifestação da agência também pode ser comprometido caso os técnicos da GGMed tenham que parar o trabalho para responder a uma eventual liminar do STF. Anteontem, a Rede Sustentabilidade pediu que o tribunal dê 72 horas para a avaliação da Coronavac.
Os técnicos da agência se reuniram ontem com representantes da Pfizer para discutir o uso emergencial de sua vacina. Não houve sinalização nesse sentindo.