Valor econômico, v. 21, n. 5167, 14/01/2021. Política, p. A10

 

Eleito em Goiânia, Maguito Vilela morre por covid-19

Matheus Schuch

Cristiane Agostine

14/01/2021

 

 

Prefeitura será assumida pelo vice, Rogério Cruz (Republicanos), ex-vereador e um dos líderes da Igreja Universal do Reino de Deus na cidade
O prefeito de Goiânia, Maguito Vilela (MDB), não resistiu a complicações da covid-19 e faleceu ontem, aos 71 anos, em São Paulo. Vilela ficou hospitalizado por quase três meses e passou os dois turnos da eleição municipal intubado e inconsciente, segundo os boletins médicos. A prefeitura será assumida pelo vice, Rogério Cruz (Republicanos), ex-vereador e um dos líderes da Igreja Universal do Reino de Deus na cidade.

Vilela foi velado na noite de ontem em Goiânia, em frente à sede do governo estadual, numa cerimônia em estilo “drive-thru”. O sepultamento será em Jataí, terra natal do político, no interior de Goiás.
O político foi diagnosticado com covid-19 em 20 de outubro, durante a campanha eleitoral. Dois dias depois, teve de ser hospitalizado em Goiânia e foi transferido para São Paulo, devido à gravidade do caso. O filho de Vilela, Daniel Vilela, ex-deputado federal e presidente do MDB em Goiás, comandou a candidatura e a transição de governo. Vilela foi eleito com 52,6% dos votos, tomou posse de forma virtual, dentro de uma UTI, e se licenciou do cargo logo depois. Rogério Cruz assumiu interinamente desde o dia 1º.

A suposta falta de transparência sobre o estado de saúde de Vilela foi um dos principais temas da campanha. Seu principal adversário, o senador Vanderlan Cardoso (PSD), chegou a acusar a chapa adversária de “estelionato eleitoral” por omissão de informações sobre a saúde do emedebista. No início da campanha, em agosto, Vilela perdeu duas irmãs vítimas de covid-19, com 82 e 76 anos, em um intervalo de dez dias.

Advogado, Vilela foi um políticos mais populares de Goiás e era considerado discípulos do ex-prefeito Íris Rezende, a quem sucedeu no cargo. Durante sua trajetória política, esteve vinculado ao MDB e foi vice-presidente nacional do partido.

Em mais de 40 anos de vida pública, foi governador, senador, deputado federal constituinte, deputado estadual e vereador. Em 2008, elegeu-se prefeito de Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital, e reelegeu-se quatro anos depois. Vilela e seu filho Daniel tornaram-se alvo de inquéritos da Operação Lava-Jato em 2017, sob acusação de terem recebido R$ 1,5 milhão via caixa dois da Odebrecht para campanhas eleitorais, segundo delação homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Os dois políticos negaram as acusações.

Em 2007, foi nomeado vice-presidente do Banco do Brasil, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Vilela também teve ligação direta com o futebol e foi vice-presidente da Federação Goiana de Futebol e da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). E foi do futebol que veio o apelido “Maguito”. Batizado como Luiz Alberto Vilela, disse ter ganho o apelido quando jogava pelo Jataiense. Era muito magrinho e quando ficava na reserva, a torcida pedia para que o “magrim”, o “maguim” entrasse em campo. Logo virou “Maguito” e incorporou o apelido.

No dia 24, Vilela faria 72 anos. Deixa quatro filhos e uma enteada.

Com a morte do prefeito eleito, Rogério Cruz assumirá e será o único prefeito negro nas capitais - entre os eleitos, apenas Cruz se autodeclarou como preto no registro da candidatura no Tribunal Superior Eleitoral.

Radialista, pastor e um dos líderes da Igreja Universal do Reino de Deus em Goiânia, Cruz passou 16 anos na África, para implementar e dirigir a TV e rádio Record em Moçambique e em Angola. Na época, trabalhou também como missionário da igreja neopentecostal.

O político do Republicanos tem 54 anos e dirigiu rádios do Grupo Record em vários Estados brasileiros, além da atuação no exterior. De volta ao Brasil depois de Moçambique e Angola, assumiu em 2010 a direção executiva das rádios do grupo de comunicação em Goiânia. Dois anos depois, Cruz foi eleito vereador na capital e reelegeu-se em 2016. Durante o primeiro mandato, licenciou-se para participar como secretário municipal de Gestão de Pessoas do governo Paulo Garcia (PT).
No registro de sua candidatura no TSE para disputar a eleição de 2020, não constam dados em sua declaração de bens, segundo consulta feita ontem pela reportagem. Em 2012, quando concorreu à Câmara Municipal de Goiânia, também não declarou bens. Em 2016, registrou ter apenas R$ 1.195.