Título: Chance de acordo acalma mercado
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Fonte: Jornal do Brasil, 26/09/2008, Economia, p. A18

A perspectiva de aprovação pelo Congresso americano do pacote de US$ 700 bilhões proposto pela Casa Branca deu novo fôlego aos mercados ontem e animou os investidores. O resultado foi a alta registrada nas bolsas da Europa, EUA e Brasil, que fecharam antes do resultado do encontro convocado pelo presidente George Bush com os dois candidatos à sua sucessão, o republicano John McCain e o democrata Barack Obama.

Acompanhando a mudança de humor nas bolsas internacionais, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve avanço significativo, enquanto, o câmbio desceu para R$ 1,82, em decréscimo de 1,93%. O Ibovespa encerrou o dia 3,98% mais alto, atingindo os 51.828 pontos. O giro financeiro foi deR$ 5,23 bilhões. As ações da Petrobras puxaram boa parte da recuperação da Bovespa.

- O mercado está muito atento ao que acontece lá fora, refletindo tudo (o que ocorre sobre a crise). Por isso, essa oscilação muito grande que todos vemos nesses últimos dias. E essa volatilidade de câmbio ainda não acabou e ainda tem muito chão pela frente - afirma Marcos Trabold, gerente de câmbio da corretora B&T.

As bolsas asiáticas fecharam em baixa, ainda refletindo a desconfiança sobre as chances do pacote dos EUA em passar pelo Congresso local. Com a melhora das expectativas dos investidores, as bolsas européias fecharam em terreno positivo. Em Londres, a bolsa subiu 1,99%, enquanto em Frankfurt valorizou 1,98%. Nos EUA, a Bolsa de Nova York fechou com alta de 1,82%.

Impasse

Poucas horas depois de lide­ranças dos dois partidos majoritários das duas Casas do Congresso americano anunciarem que haviam chegado a um acordo sobre o pa­cote proposto pelo governo para aliviar o mercado financeiro, políticos republicanos vieram a público desmentir o compromisso. A reação esvaziou a reunião bipartidária convocada por George Bush para tratar do assunto.

A porta-voz Dana Perino de­clarou que "a Casa Branca e as lideranças do Congresso prometeram continuar trabalhando juntas para finalizar o plano de US$ 700 bilhões para resgatar os mercados financeiros", disse.

O senador republicano Richard C. Shelby, que integra o Comitê de Bancos do Senado, afirmou ao sair da reunião que o anúncio de um acordo entre congressistas foi "prematuro". Segundo ele, as bases para o acordo foram fechadas, mas não a aprovação do pacote imediatamente.

Dia de negociação

Os parlamentares do Congresso americano passaram o dia ontem trabalhando em tomo de um pos­sível acordo para a aprovação do pacote de US$ 700 bilhões para o sistema financeiro, que incluiria medidas que não estavam na pro­posta original do secretário do Tesouro, Henry Paulson, como limites às remunerações dos executivos dos bancos beneficiados pelo pacote, além de algum instrumento para que o governo recupere parte do dinheiro que será em­pregado para enxugar do mercado os títulos de risco.

O aparente acordo foi indicado ainda antes do encontro entre o presidente George Bush com o republicano John McCain e o democrata Barack Obama. Na abertura da reunião, o presidente George Bush disse que tinha a expectativa de chegar "muito rapidamente" a um acordo com os parlamentares .

Já Barack Obama, afirmou antes da reunião que o programa de ajuda não pode ser um "socorro aos CEOs" (executivos de bancos), mas deve ter o objetivo de evitar problemas sérios para o contribuinte americano. John McCain reconheceu o impasse mas revelou acreditar que será obtido um consenso.

Pela tarde, o democrata Chris­topher Dodd, presidente do Comitê Bancário do Senado, sinalizou como seria o possível acordo costurado por negociadores da Câmara e do Se­nado. O pacote seria liberado em prestações, uma primeira parcela de US$ 250 bilhões seria disponibilizada imediatamente, com possibilidade de desembolso adicional de USS 100 bilhões se necessário. O Congresso também seria capaz de bloquear a última prestação por meio de votação, caso não estivesse satisfeito com a aplicação do programa.