Valor econômico, v. 21, n. 5168, 15/01/2021. Política, p. A12

 

Disputa pela presidência divide partidos no Senado

Vandson Lima

Renen Truffi

15/01/2021

 

 

Movimentação de Alcolumbre irrita MDB
Na busca por votos para a eleição ao comando do Senado, o presidente Davi Alcolumbre (DEM-AP), procurou pelo menos quatro senadores do MDB para convencê-los a votar em seu indicado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), mesmo o partido tendo candidatura própria, da senadora Simone Tebet (MDB-MS).

As investidas de Alcolumbre, não raro acompanhadas de considerações sobre sua influência junto ao governo do presidente Jair Bolsonaro, tem incomodado os emedebistas, justamente porque os líderes do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (PE) e Eduardo Gomes (TO), são ambos do MDB.

Segundo fontes, ante à iminência de que o grupo de Alcolumbre e o MDB disputariam o pleito, Bezerra havia pontuado a necesside de um “acordo”: ninguém se colocaria como candidato do governo na eleição do Senado - em contraposição à Câmara, onde os bolsonaristas apoiam Arthur Lira (PP-AL) contra Baleia Rossi (MDB-SP). O Palácio do Planalto, contudo, estaria atuando nos bastidores em favor de Pacheco.

Essas movimentações tem mexido com o brio dos emedebistas, que agora, mesmo com a ampla adesão de partidos à candidatura de Pacheco, descartam um acordo para composição de uma única chapa. Alcolumbre teria enviado interlocutores oferecendo ao partido a vice-presidência em troca da retirada da candidatura de Simone. Em dezembro, após o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir pela inconstitucionalidade da reeleição de Alcolumbre na mesma legislatura, o MDB chegou a procurar o presidente do Senado com uma proposta para que ele indicasse quem, dentre os senadores emedebistas, ele considerava o melhor nome para sucedê-lo.
A contabilidade de votos do MDB para a eleição do Senado diverge entre os que estão envolvidos nas campanhas de Pacheco e de Tebet. Aliados do candidato do DEM acreditam que podem colher até quatro de 15 votos na trincheira adversária.

O MDB crê que pelo menos 14 votos dentro da bancada estão certos.

A maior dúvida seria o caso de Luiz do Carmo (GO). Ele assumiu em 2019 a vaga no lugar de Ronaldo Caiado, eleito governador de Goiás e um dos principais nomes do DEM. Apesar de estar no MDB do ponto de vista formal, Luiz do Carmo circula com muito mais desenvoltura entre a cúpula do DEM. Na eleição em Goiânia, por exemplo, votou no candidato à prefeitura do PSD, apoiado pelo DEM, mesmo seu partido tendo lançado Maguito Vilela, falecido esta semana em razão da covid-19.

Ainda em dezembro, Simone Tebet esteve em Goiás para conversar sobre a eleição do Senado com Luiz do Carmo e Iris Rezende, ex-prefeito e uma das figuras mais importantes do MDB. Apesar disso, emedebistas admitem que o senador goiano pode acabar não entregando o voto para a companheira de partido. Procurado, ele disse que ainda não decidiu. “Até o presente momento estou analisando alguns pontos para fechar essa questão publicamente. Assim, infelizmente no momento ainda aguardo algumas articulações para trazer ao público minha posição”.

Alcolumbre também tentou dissuadir dois nomes que estavam às vésperas de se filiarem ao MDB: Rose de Freitas (ES), que saiu do Podemos, e Veneziano Vital do Rêgo (PB), que deixou o PSB. Alcolumbre foi ao Rio (onde a senadora se encontrava) e à Paraíba. Neste último caso, Alcolumbre tinha a intenção de levar dois votos em uma mesma jogada. Além de Veneziano, sua mãe, Nilda Gondim (MDB-PB), assumiu temporariamente o mandato de José Maranhão (MDB-PB), que segue internado por complicações causadas pela covid-19. O Valor entrou em contato com Rose. Ela afirmou que, apesar da enorme simpatia que tem por Alcolumbre, tendo até apresentado uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para permitir sua recondução - que não foi à frente -, votará em Simone. “Eu estou na política desde os anos de 1970, sempre batalhando pelos direitos das mulheres. Agora que tem uma mulher candidata, do meu partido eu iria votar em outro? Não posso fazer isso”, disse. Veneziano foi procurado, mas não retornou o contato.