O globo, n.31900, 08/12/2020. Sociedade, p. 10

 

Quem chegará primeiro?

Ana Letícia Leão 

Gustavo Maia 

Julia Lindner 

08/12/2020

 

 

Horas depois de o governador de São Paulo, João Doria, anunciar que a vacinação no estado deverá começar em 25 de janeiro —desde que a Anvisa dê o seu aval ao imunizante CoronaVac, da chinesa Sinovac —, o Ministério da Saúde confirmou que está em tratativas avançadas para a compra de 70 milhões de doses da vacina da Pfizer contra a Covid-19.

O imunizante da farmacêutica americana, feito em parceria com o laboratório de biotecnologia alemão BioNTech, é o primeiro — e único, até agora —a ser aprovado no Ocidente para uso emergencial. Hoje, o Reino Unido começa a vacinar a sua população com o produto.

O principal entrave para a aquisição pelo Brasil da vacina da Pfizer, que diz alcançar eficácia de 95%, é a sua conservação a -75ºC, o que foi visto pelo governo federal como um obstáculo para a compra, pelo alto investimento necessário para o seu armazenamento.

Mas, ontem, o ministério afirmou em nota que “os termos (do acordo) já estão bem avançados e devem ser finalizados ainda no início desta semana, com a assinatura do memorando de intenção”. A previsão é que as doses cheguem em 2021. Procurada, a Pfizer afirmou que deve se pronunciar hoje sobre o anúncio.

Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que qualquer vacina que receber o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) será ofertada a todos os brasileiros, de graça e de forma não obrigatória.

“Segundo o Ministério da Economia, não faltarão recursos para que todos sejam atendidos. Saúde e Economia de mãos dadas pela vida”, publicou Bolsonaro nas redes sociais.

O governo federal também já fechou acordo para a compra da vacina produzida pela farmacêutica AstraZeneca e pela Universidade de Oxford. Mas ainda não incluiu em seu Plano Nacional de Imunização (PNI) a CoronaVac, desenvolvida pelos chineses em parceria com o Instituto Butantan. Bolsonaro já manifestou ter reservas quanto à vacina adotada pelo governo Doria, seu desafeto.

ANIVERSÁRIO DE SP

Já o governo de São Paulo anunciou ontem que começará a imunizar a população do estado contra a Covid-19 em 25 de janeiro, dia do aniversário da capital. Os primeiros a receber doses da CoronaVac serão profissionais de saúde e pessoas com mais de 60 anos (77% das mortes por Covid-19 no estado foram nessa faixa etária), além de indígenas e quilombolas.

— São Paulo lança o plano estadual de imunização contra a Covid-19. Está programada para 25 de janeiro a fase um, destinada a profissionais de saúde e idosos com mais de 60 anos. A escolha do público-alvo levou em consideração a incidência de óbitos no estado, com 77% das mortes concentradas em pessoas acima de 60 anos —disse João Doria.

A CoronaVac ainda está em fase final de testes e não divulgou os seus resultados de eficácia. A expectativa do governo paulista é enviar a documentação final do medicamento para análise da Anvisa até a semana que vem. Se a vacina for aprovada pela agência, a imunização pode começar imediatamente.

Na primeira fase do processo serão vacinadas 9 milhões de pessoas, entre 25 de janeiro e 28 de março de 2021. Haverá um escalonamento por idade, segundo o governo. Todos tomarão duas doses, em um intervalo de 21 dias. A princípio, está prevista a chegada de 46 milhões de doses e insumos da China. São Paulo já recebeu cerca de 1 milhão. As outras devem chegar até janeiro.

Segundo o governo, serão montados 10 mil postos de vacinação nos 645 municípios de São Paulo, alocados em farmácias, escolas, terminais de ônibus, além de drive thru. A imunização será realizada por 54 mil profissionais, que utilizarão 27 milhões de seringas e agulhas.

Para Natalia Pasternak, microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência (IQC), o plano atende aos pré-requisitos orientados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de, por exemplo, priorizar a população que corre mais risco de morrer.

No entanto, ressalta a especialista, o tempo é o maior gargalo para iniciar a vacinação em janeiro.

— Para isso funcionar na data estipulada, a vacina precisa estar licenciada pela Anvisa. O prazo está apertado e, na verdade, o Butantan ainda nem enviou os resultados da fase três. O governador está partindo do pressuposto de que vai dar tempo de enviar o dossiê e avaliá-lo, sendo que ainda temos o período de festas —alertou.