O globo, n.31900, 08/12/2020. Economia, p. 20

 

Bombeiros apontam falha em subestação no Amapá

Manoel Ventura 

08/12/2020

 

 

Relatório do Corpo de Bombeiros do Amapá afirma que a subestação de energia elétrica de Macapá que pegou fogo, causando o apagão que durou mais de 20 dias no estado no mês passado, não tinha sistemas para prevenir incêndios e nem um plano de ação em caso de acidentes. O documento faz parte do relatório final do Operador Nacional do Sistema (ONS), divulgado ontem.

“Durante as conversações e coletas de dados para o preenchimento do relatório de ocorrência, questionamos sobre os sistemas preventivos daquela planta, bem como do plano de ação em caso de sinistro. Obtivemos a resposta de que não possuíam”, diz o relatório do Corpo de Bombeiros.

Havia apenas, segundo o documento, “uma parede que separava o transformador sinistrado dos demais”, que não era suficiente para conter as chamas. Além disso, no entorno do transformador que pegou fogo havia equipamentos que poderiam ter se incendiado, como caminhões.

Segundo os bombeiros, funcionários da subestação chegaram a tentar religar a energia ainda durante o incêndio, o que poderia colocar em risco os profissionais que agiam no local.

A religação não ocorreu. O primeiro apagão foi em 3 de novembro, quando um incêndio atingiu dois transformadores da subestação da Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE), única que conecta o estado ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Um terceiro transformador, que seria o backup, estava há um ano em manutenção.

O apagão atingiu mais de 90% da população do estado. O fornecimento só foi normalizado no dia 24, segundo autoridades do setor elétrico.

No relatório, o ONS diz que o apagão resultou de “contingência múltipla”, ou seja, uma série de falhas. O problema, segundo o documento, teve início com a ocorrência de um curto-circuito em um dos dois transformadores que estavam em operação. Este curto-circuito causou a explosão e um incêndio.

O documento cita ainda as condições climáticas, com “chuva volumosa com descargas atmosféricas intensas”. Mas a Polícia Civil do estado descartou que o incêndio tenha sido causado por um raio.

Não há conclusão sobre a causa específica do incêndio. Segundo o relatório, o curto-circuito pode ter sido consequência de “falha interna do transformador e/ ou coordenação de isolamento inadequada na subestação”. A causa deve ser determinada em relatório da empresa responsável pela subestação, que deverá ser aprovado pelo ONS.

Em nota, a LMTE disse que a subestação “opera com todas as medidas de prevenção e combate a incêndio seguindo as normas aplicáveis”, que “funcionaram adequadamente” no dia em que ocorreu o incêndio.

SEM RACIONAMENTO

Também ontem, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, descartou o risco de racionamento de energia ou novos blecautes por causa do baixo nível dos reservatórios das principais usinas hidrelétricas do país. Ele disse que as termelétricas foram acionadas para não “apostar só nas chuvas”.

Na semana passada, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) informou que, devido ao acionamento das termelétricas, este mês vigoraria a bandeira vermelha no patamar 2. O presidente Jair Bolsonaro, então, comentou que isso se devia ao risco de racionamento.